quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

Aulas nas interrupções letivas

Geringonça açoriana a funcionar?

O ensino (e a sociedade) precisa de mudanças profundas e não de remendos. Este só entrará em vigor no dia de são nunca à tarde.

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Os limites da autonomia dos professores nas escolas


Com os pés na terra (394)
Os limites da autonomia dos professores nas escolas

De acordo com a Lei de Bases do Sistema Educativo “é da especial responsabilidade do Estado promover a democratização do ensino, garantindo o direito a uma justa e efectiva igualdade de oportunidades no acesso e sucesso escolares”.

Segundo a mesma lei o sistema educativo está organizado de modo a “Contribuir para desenvolver o espírito e a prática democráticos, através da adopção de estruturas e processos participativos na definição da política educativa, na administração e gestão do sistema escolar e na experiência pedagógica quotidiana, em que se integram todos os intervenientes no processo educativo, em especial os alunos, os docentes e as famílias.

Se analisarmos os resultados escolares facilmente se concluirá que não basta alargar a escolaridade obrigatória para garantir que todos ou pelo menos a grande maioria dos alunos que frequenta a escola tem índices de aproveitamento elevados. Em sumo, se o acesso está democratizado, a igualdade de oportunidades no sucesso ainda é uma miragem.

Relativamente à democracia nas escolas, podemos afirmar que é apenas formal. A título de exemplo, menciono o caso dos pais que estão representados no Conselho Pedagógico, onde, como é obvio, se tratam ou deviam tratar de assuntos de natureza pedagógica, não tendo para tal, salvo raras exceções, formação para o efeito e não estão representados no concelho executivo, onde deviam estar, pois a razão de existência da escola é haver alunos.

Ainda em relação à democracia, numa escola, tal como devia acontecer na sociedade, só faz sentido uma democracia participada e o mais direta possível, para não excluir ninguém.

Relativamente à participação e autonomia dos docentes, o Estatuto da Carreira Docente dos Açores (ECDRAA) define que o “direito de participação exerce -se no âmbito do sistema educativo regional, da escola, da aula e da relação entre a escola e a comunidade que ela serve” e compreende, entre outros, “o direito à autonomia técnica e científica através da liberdade de iniciativa, no âmbito da orientação pedagógica, a exercer no quadro das orientações curriculares e planos de estudo aprovados e dos projetos educativos das escolas, na escolha dos métodos de ensino, das tecnologias e técnicas de educação e dos tipos de meios auxiliares de ensino mais adequados” e “o direito de participar em experiências pedagógicas, bem como nos respetivos processos de avaliação”.

No que diz respeito aos deveres dos professores para com os alunos, o ECDRAA, entre outros destaca a promoção do desenvolvimento do rendimento escolar dos alunos e a qualidade das aprendizagens, de acordo com as respetivas orientações curriculares e atendendo à diversidade dos seus conhecimentos e aptidões e organizar e gerir o processo de ensino e aprendizagem, adotando estratégias de diferenciação pedagógica suscetíveis de responder às necessidades individuais dos alunos”.

O regime jurídico da criação, autonomia e gestão das unidades orgânicas do sistema educativo (Decreto Legislativo Regional nº 13/2013/A de 30 de agosto) por sua vez estabelece que compete à unidade orgânica “proceder à aferição dos critérios de avaliação dos alunos, garantindo a sua coerência e equidade e desenvolver métodos específicos de avaliação dos alunos, sem prejuízo da aplicação dos normativos gerais”.
Desconheço o entendimento que a tutela da Educação dá a “aferição dos critérios de avaliação”, mas parece-me que nas escolas tal é entendido como uma mesma grelha de excell usada na avaliação dos alunos para todas as turmas, pelo menos para cada um dos departamentos curriculares.
A opção por uma única grelha de avaliação para todos os alunos para mim é tão absurda como o é a planificação anual ou periódica igual para toda a escola quando as turmas são completamente diferentes.

Teófilo Braga
Pico da Pedra, 27 de novembro de 2018

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

APONTAMENTOS SOBRE PAULO FREIRE


APONTAMENTOS SOBRE PAULO FREIRE

Comecei a ler, recentemente, o último livro de José Pacheco, fundador da Escola da Ponte, que é uma referência em termos de inovação pedagógica, mas que infelizmente é mais conhecida no estrangeiro do que em Portugal.

José Pacheco, no seu livro “Um compromisso ético com a educação” cita, entre os vários autores que o inspiraram, o nome de Paulo Freire (1921-1997) que é considerado como o mais célebre educador brasileiro.

Paulo Freire é um nome que me é familiar desde os finais de 1974 ou no início de 1975 quando alguns militares ligados ao Movimento das Forças Armadas estiveram em Vila Franca do Campo e me ensinaram o que designaram “método de Paulo Freire” para posteriormente o aplicar junto de pessoas que não sabiam ler nem escrever. Tal ocorreu com algum sucesso, pois com algumas sessões realizadas no primeiro andar de um edifício do senhor Alfredo Gago, situado na rua Teófilo de Braga, onde no rés-do-chão existia uma padaria, foi possível ensinar a ler a dois adultos que até então nem conheciam ou conheciam muito mal as letras do alfabeto.

Paulo Freire começou a trabalhar com adultos analfabetos em 1947, tendo sido professor de História e Filosofia da Educação na Universidade do Recife. A partir de 1962 o seu método de ensino começou a ser experimentado e em 1963-64 foi aprovado um plano para que fossem abrangidos, no Brasil, dois milhões de analfabetos.

Em 1964, após um golpe de estado ocorrido no Brasil, Paulo Freire foi preso e teve de se exilar. Mais tarde, o seu método passou a ser aplicado no Chile e no ano 1969-70 foi professor convidado no Centro de Desenvolvimento e Mudança Social de Harvard.

Entre as várias ocupações e cargos que desempenhou, destacamos o de Secretário-Geral do Concelho Mundial das Igrejas.

Da sua vasta obra publicada, destacamos os seguintes livros: “Pedagogia do Oprimido”, “Educação como Prática da Liberdade” e “Uma Educação para a Liberdade”.

De acordo com Paulo Freire, o homem pode ser encarado como pessoa ou como coisa. Se o encararmos como coisa, a educação só pode conduzir a uma cada vez maior domesticação do homem e o ato educativo não é mais do que um ato de depositar conteúdos. Esta visão a que ele chama "conceção bancária" é a que infelizmente ainda predomina ainda nos dias de hoje.

Por outro lado, se o homem é visto como uma pessoa, deixa de ser uma "caixa passiva, que vai sendo preenchida", mas "um corpo consciente, desafiado e respondendo ao desafio", que está aberto ao mundo e atua de modo a transformá-lo.

Nesta segunda conceção chamada por Paulo Freire de humanista está afastada qualquer possibilidade do educador (professor) manipular o educando (aluno) porque nela está subjacente o seguinte: ninguém educa ninguém, ninguém se educa sozinho e todos se educam entre si, mediatizados pelo mundo.

Sobre a tão apregoada neutralidade da educação/ensino, Paulo Freire é de opinião de que tal não passa de um mito. Com efeito, tal como Ivan Illich que considerava que as escolas constituem instrumentos de controlo social, ele defendeu que de forma consciente ou não a atividade dos educadores "desenvolve-se ou para a libertação dos homens- a sua humanização-, ou para a sua domesticação - o domínio sobre eles".

Para terminar este texto, que tem como fonte o último livro da autoria de Paulo Freire referido anteriormente, deixo uma pequena nota sobre o que ele chama de analfabeto político que “é alguém que tem uma perceção ingénua das relações dos homens e do mundo, uma inteligência ingénua da realidade social”. O analfabeto político ou não tem em conta a realidade e considera que o futuro é a repetição do presente ou considera que aquele já está pré-estabelecido. A primeira perceção ele considera reacionária, a segunda ele escreve que “é uma das deformações mecanicistas do pensamento marxista”.

Teófilo Braga
(enviado ao Correio dos Açores 14 de outubro de 2018, não publicado)

terça-feira, 23 de outubro de 2018

Reformas antecipadas

sábado, 13 de outubro de 2018

XVII Encontro Regional do MEM


Fonte: Núcleo Regional de São Miguel do MEM

quinta-feira, 11 de outubro de 2018

segunda-feira, 8 de outubro de 2018

A Escola de Ferrer, a de hoje e Agostinho da Silva


A Escola de Ferrer, a de hoje e Agostinho da Silva

Antes de dar a conhecer algumas ideias do pedagogo catalão Ferrer y Guardia (1859-1909) criador da Escola Moderna, tendo por base um livro que ele escreveu enquanto esteve preso na fortaleza de Montjuïc, esclareço que entre nós existe um Movimento da Escola Moderna, que não tem qualquer ligação com Ferrer, mas que foi inspirado no francês Célestin Freinet (1896-1966).

De acordo com Sílvio Gallo, Ferrer acreditava que se aprendia pelo afeto, isto é embora a aprendizagem “seja um ato mental, racional, nada se aprende se antes não passar pelo coração, se não mobilizar o desejo”.

Na Escola Moderna, seguia-se a “pedagogia racional” a qual segundo Sílvio Gallo é “um processo educativo que eduque pela razão, para que cada ser humano seja capaz de raciocinar por si mesmo, conhecer o mundo e emitir seus próprios juízos de valor, sem seguir nenhum mestre, nenhum guia”.

Começando pelas instalações escolares, Ferrer não aceitava uma escola fechada entre quatro paredes de modo que na sua Escola Moderna a par de salas bem decoradas, havia pátios destinados à realização de atividades ao ar livre. Além disso, toda a atividade escolar era complementada com visitas a fábricas e passeios diversos.

Num passado recente, nos Açores era fomentada a existência de clubes escolares e incentivava-se a realização de atividades extraescolares. Relativamente aos clubes, a Direção Regional da Educação chegou a editar um boletim intitulado “Clubismo” que no seu número oito, de dezembro de 1995, mencionava a existência nos Açores de trinta e um clubes. Hoje, restam muito poucos clubes que por vezes estão a funcionar com meia dúzia de alunos.

No que diz respeito a atividades extracurriculares, a recomendação é para a sua redução, com vista a não roubar tempo às aulas. Enfim, continua-se a privilegiar a transmissão de conhecimentos nas salas de aula, desligando a escola do meio onde se insere.

Sobre este assunto, Agostinho da Silva foi bem claro quando escreveu que “na escola aprendemos pouco e na vida aprendemos muito” e acrescentou: “só é viva a escola que estabelece com o ambiente uma série de trocas, que se deixa penetrar por ele amplamente e por sua vez o penetra e modifica”.

Embora não discutindo a utilidade de provas em alguma circunstância, o que é certo é que na Escola Moderna de Ferrer “não havia prémios nem castigos, nem provas em que houvessem alunos ensoberbecidos com nota dez, medianias que se conformassem com a vulgaríssima nota de aprovados nem infelizes que sofressem o opróbrio de se verem depreciados como incapazes”.

Ainda sobre a não existência de provas, Ferrer escreveu o seguinte: “os elementos morais que este ato imoral qualificado de prova inicia na consciência da criança são: a vaidade enlouquecedora dos altamente premiados; a inveja roedora e a humilhação, obstáculo de iniciativas saudáveis, aos que falharam; e em uns e outros, e em todos, os alvores da maioria dos sentimentos que formam os matizes do egoísmo”.

Agostinho da Silva, depois de referir que na escola tradicional são fomentados o isolamento e uma competição doentia, o que leva a que, ainda hoje, haja muitos alunos que não queiram trabalhar em grupo, escreveu que “a escola é uma carreira em que o aluno procura ultrapassar os camaradas e em que se sente sobretudo satisfeito quando for o primeiro da classe”.

Para Ferrer o “valor da educação reside no respeito à vontade física, intelectual e moral da criança”, assim o bom educador seria todo aquele que “contra as suas próprias ideias e suas vontades pode defender a criança, apelando em maior grau às energias próprias da própria criança”.

Agostinho da Silva que acreditava que “toda a educação verdadeira e sólida é uma autoeducação”, é mais claro quando se refere ao papel do professor que deve deixar de ser um mero transmissor de conhecimentos para ser um orientador dos alunos. Vejamos o que escreveu a este propósito sobre a Faculdade de Letras do Porto que foi extinta pelo governo: “…os mestres, mais do que ensinar, estimulavam a aprender e onde ninguém tinha de se pautar pelas receitas habituais, mas de escolher os seus próprios caminhos, certos ou errados”.

Teófilo Braga
Correio dos Açores, 31643, 9 de outubro de 2018, p. 16)

quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Sábado Pedagógico de 15 de setembro


Caros colegas

Votos de um excelente início de um novo ano letivo.

Vimos informar a realização do 1º sábado pedagógico, deste ano letivo, do Núcleo Regional de S. Miguel do Movimento da Escola Moderna, que terá lugar na Escola Secundária das Laranjeiras, no próximo dia 15 de setembro de 2018, das 9h00 às 13h00, com a participação do nosso colega Joaquim Segura, que irá partilhar a sua experiência nos seguintes temas:

- Autonomia e Flexibilização Curricular e Perspetiva do MEM

- A escrita como promotora da autonomia

As inscrições, gratuitas, poderão ser feitas em https://goo.gl/forms/5KvxraeEsrakSvBQ2, até ao meio dia do dia 14 de setembro de 2018.

Contamos convosco

P´la Comissão Coordenadora do

Núcleo Regional de S. Miguel do

Movimento da Escola Moderna

Pedro González

terça-feira, 4 de setembro de 2018

Escolas Alternativas


Escolas Alternativas

No próximo ano letivo funcionará nas Capelas uma experiência pedagógica inspirada na Escola da Ponte, que é uma escola pública que assenta na autonomia dos alunos. Na escola mencionada, que tem por valores a Solidariedade e a Democraticidade, as práticas educativas são muito diferentes das do modelo tradicional e em toda a vida da escola há uma participação efetiva dos docentes, pais e alunos.

O Projeto Novas Rotas irá funcionar na Quinta do Norte, propriedade adquirida pela Junta Geral, com dinheiros da herança da grande mulher que foi Alice Moderno.

Integrado na Escola Básica Integrada das Capelas que, ao contrário de outros estabelecimentos de ensino, teve a coragem de acolher o projeto, pelo que os seus órgãos de gestão estão de parabéns, a “nova escola” tem tudo para ser um sucesso. Assim. destaco o empenhamento dos pais, como tem sido demonstrado pelo trabalho voluntário que têm prestado na realização de obras no edifício e a dedicação dos professores como nunca tive a oportunidade de assistir, nem mesmo nos tempos a seguir ao 25 de abril de 1974 em que se acreditava que através da escola se podia mudar o mundo.

Vou seguir com muita atenção a implementação do projeto com a certeza de que os envolvidos não vão conseguir endireitar o eixo da Terra, mas vão mudar, para melhor, a educação e dar uma lição de democracia participativa a todos.

Não tenho conhecimento se o Projeto Novas Rotas foi pioneiro nos Açores em ternos de alternativa ao modelo de educação tradicional, mas sei que a nível nacional, no passado, foram vários os projetos e as escolas que funcionaram seguindo metodologias e obedecendo a princípios diferentes das escolas ditas oficiais.

Um dos projetos foi o da Escola Livre de Coimbra, ideia de João Evangelista de Campos Lima, amigo de Manuel de Arriaga, formado em direito, que, depois de visitar a comuna escolar “La Rouche”, em Paris, o elaborou, em colaboração com Tomás da Fonseca, Lopes de Oliveira e outros.

De acordo com Edgar Rodrigues, na idealizada escola o professor não forçava nada, sendo adotado um método moderno de ensino onde seria despertado “nas próprias crianças o desejo de aprender por si, não impondo nunca lições ou tarefas determinadas e esperando sempre que o próprio espírito de curiosidade eleve a interrogar o professor, tornando assim agradável e proveitosa cada lição”.

Sobre as finalidades da escola, o mesmo autor refere o seguinte:

“Enfim, a Escola Livre, esforçar-se-á por que cada criança fique com um conhecimento o mais completo de si própria e da vida em geral, habilitando-a a procurar os meios indispensáveis à conservação da existência: despertará em todos os sentimentos de independência e liberdade; desenvolverá entre elas o princípio do auxílio mútuo, base de toda a solidariedade; e, não tendo a pretensão de formar sábios, dar-se- á por satisfeita e cumpridora da missão se conseguir formar homens de carácter".

O projeto da Escola Livre, se fosse implementado, tinha como destinatários crianças de famílias pobres.

Pelas crianças de famílias mais desfavorecidas também se interessou a educadora, feminista e republicana Ilda Adelina Jorge de Bulhão Pato que, entre outras iniciativas, criou a Escola Maternal da Ajuda que funcionou entre 1920 e 1943.

Ilda Bulhão Pato que era adepta do método de João de Deus, defendeu uma escola que recebesse crianças de ambos os sexos dos três aos sete anos, onde para além das aprendizagens, segundo o método do alemão Friedrich Froebel, também tinham acesso a alimento e vestuário.

De acordo com Márcio Ferrari, Froebel, defensor da liberdade, defendia “que as crianças trazem consigo uma metodologia natural que as leva a aprender de acordo com os seus interesses e por meio de atividades práticas”.

Antecipando algumas críticas relativamente à questão dos interesses das crianças, afirmo que se uma criança não manifesta interesse nenhum por aprender, significa que está doente ou, melhor, que a sociedade onde ela se insere está moribunda ou já a castrou.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31614, 4 de setembro de 2018, p.16)

segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Novas Rotas e ProSucesso




Haverá semelhanças entre o Novas Rotas e o ProSucesso?

Aqui vão algumas diferenças:

1- Um é de iniciativa da comunidade o outro é de imposição governamental;

2- Um tem o forte envolvimento dos pais e encarregados de educação o outro não;

3- Um tem forte adesão dos professores o outro parece-nos que não;

4- Num houve (auto) formação dos professores às suas custas, no outro não houve formação específica.

4- Um propõe uma nova relação professor- aluno e uma nova metodologia de ensino, o outro mantém o ensino (mais ou menos) tradicional.

segunda-feira, 9 de julho de 2018

ECOS PEDAGÓGICOS 9

domingo, 24 de junho de 2018

Nos cem anos do nascimento de Freinet e de Vygotski


Nos cem anos do nascimento de Freinet e de Vygotski


Celestin Freinet e Lev Vygotski nasceram no meso ano, 1896, o primeiro a 15 de outubro e o segundo a 17 de novembro.

Para assinalar os 100 anos dos seus nascimentos, a revista NOESIS, de Janeiro- Março de 1997, entrevistou Sérgio Niza, do MEM-Movimento da Escola Moderna, que falou da importância das duas personalidades para aquele movimento e para o ensino/aprendizagem, em geral.

Neste texto, apresentamos uma síntese dos aspetos que consideramos mais importantes das entrevistas referida.

Sobre o que distingue entre o Movimento Freinet e o MEM, Sérgio Niza referiu que enquanto Freinet acreditava que as técnicas mudavam a escola e a sua pedagogia e por isso pensava que a pedagogia se podia construir como uma técnica de vida, tendo construído um modelo escolar, o MEM partiu da autoformação dos professores para fazer avançar as suas práticas.

Em relação às técnicas usadas por Freinet, Sérgio Niza recordou que ele “construiu uma pequena impressora para tirar os textos dos alunos, cultivou a correspondência interescolar e a cooperativa escolar, além disso organizava saídas da escola, as aulas-passeio onde os alunos recolhiam informação que depois serviam para a escrita de textos e introduziu a ideia do texto livre, em formato e em tema. Outras duas ideias que ele implementou foi a criação de um jornal que serviu para o estabelecimento de uma rede entre professores e a de uma cooperativa que editou os materiais de apoio à Escola Moderna.

Sérgio Niza recordou também algumas práticas que ainda hoje são usadas no contexto da pedagogia de contrato e da diferenciação pedagógica nas aprendizagens cooperativas, como a organização dos alunos por ateliers de imprensa, de artes plásticas, de trabalhos manuais, etc., bem como a existência de um plano individual de trabalho que era uma espécie de contrato estabelecido entre alunos e o professor.

Sobre algumas contradições de Freinet, Sérgio Niza refere que apesar dele ter cortado com as ideias da Escola Nova que era pedocentrica, isto é, considerava o aluno como o centro de toda a atividade, a Escola Moderna manteve o mesmo objetivo mas utilizou a cooperativa e a organização como formadoras do carácter, da cidadania e compreendeu que era a forma como os alunos se organizavam, se estruturavam para realizar determinadas tarefas que os formava.

Sobre se o enfoque deve ser dado ao ensinou ou à aprendizagem, Sérgio Niza recordou que Freinet acabou por perceber que o mais importante era a aprendizagem e não o ensino pois a dada altura propôs as chamadas lições à posteriori, isto é colocava primeiro os alunos numa situação de pesquisa e tratamento experimental e só depois fazia a síntese e reestruturação final dos materiais ou da informação.

Sobre se faz ou não sentido comemorar Freinet hoje, a resposta foi afirmativa porque o que tem acontecido é que o esforço tem sido no sentido de tornar a escola extensível a todos e tem-se esquecido de criar uma escola democraticamente participada pelos alunos e Freinet foi no dizer de Sérgio Niza foi uma das poucas pessoas que se bateram pela transformação das relações professores-alunos em relações democráticas.

Além do referido Freinet bateu-se por criar uma escola progressista e não uma escola à parte para todos os que falharam na escola dita normal e defendeu uma formação cívica assente na convicção de que o desenvolvimento moral se processa a partir da organização das relações entre as pessoas. Freinet também mostrou que os avanços na pedagogia só se podem fazer se os professores se juntarem e fizerem em cooperação progressos nas suas práticas.

Sobre o contributo do bielorrusso Lev Semenovitch Vygotsky que se dedicou a várias áreas do saber, tendo estudado direito e filologia, ensinado literatura, fundado a revista literária “Verask” e lecionado Psicologia e Pedagogia, Sérgio Niza escreveu que ele nos ensinou que os alunos aprendem sobretudo no convívio cultural com os adultos e com os pares, o que quer dizers que não se aprende principalmente com as lições formais, sendo o papel mais importante do professor o da organização social das aprendizagens e não o da função ensinante.

Fonte:
NOESIS, janeiro/março de 1997, pp. 70-73

sábado, 16 de junho de 2018

A propósito de um sábado pedagógico inesquecível


A propósito de um sábado pedagógico inesquecível

“Para nós, ética, pedagogia e democracia são exatamente a mesma coisa” (Sérgio Niza)

No passado dia 12 de maio, realizou-se, no Anfiteatro da Escola Secundária das Laranjeiras, mais um Sábado Pedagógico, promovido pelo Núcleo Regional de São Miguel do Movimento da Escola Moderna (MEM), um dos núcleos de uma associação de âmbito nacional que tem como principal objetivo a formação contínua dos seus membros em sistema de autoformação cooperada.

Lídia Grave-Resendes e Júlia Soares no livro, que recomendamos, “Diferenciação Pedagógica”, editado pela Universidade Aberta, afirmam que o modelo de formação de professores do MEM “começou a ser considerado, desde os anos 80, por especialistas internacionais tanto europeus como americanos, como um método de ponta na formação contínua de professores”

Com um número recorde de participantes, mais de setenta, a sessão teve duas partes distintas. Na primeira parte, houve um momento de partilha por parte do Grupo Cooperativo de Matemática que, para além de comunicar aos presentes o percurso e o trabalho efetuado desde a criação do grupo, deu a conhecer a importância do trabalho em conjunto sobretudo em termos anímicos. A segunda parte da sessão contou com a presença do pedagogo Sérgio Niza, um dos fundadores do Movimento que de acordo com António Nóvoa “é a presença mais constante, mais coerente e inspiradora da pedagogia portuguesa dos últimos 50 anos”.

Por terem sido muito variados os ensinamentos partilhados durante a sua intervenção, neste texto não podemos fazer referência a tudo o que nos foi transmitido por Sérgio Niza. Por não ter tirado apontamentos, para além do que memorizei, uso como fontes o livro “Sérgio Niza. Escritos sobre a Educação”, editado pelas Edições Tinta da China, em 2015, e o livro “O Movimento da Escola Moderna”, de Pedro González,, editado pela Porto Editora, em 2002.

Sobre a história do MEM, todos ficaram a saber que o mesmo foi perseguido pelo Estado Novo, tendo o próprio Sérgio Niza sido proibido de ensinar tanto no ensino público como no privado.

Em jeito de resposta a alguém mal informado, que me disse que sendo o MEM muito antigo, já devia estar ultrapassado, recordo o que escreveu Sérgio Niza sobre a presença do MEM na sociedade portuguesa: “Sem nós, a educação em Portugal não pode passar. Hoje, o Movimento da Escola Moderna Portuguesa, quer o detestem, quer o estimem, é um dado adquirido para a cultura portuguesa”.

Para melhor esclarecer os adeptos de ministros ou modelos autoritários e quem estagnou na profissão, recordo que “todo o mundo é composto de mudança” (Luís de Camões). No que diz respeito ao MEM, Sérgio Niza escreveu: “… Hoje, portanto, já não somos António Sérgio, já não somos Rui Grácio, já não somos Maria Amália Borges, já não somos Freinet. Somos aquilo que pudemos construir a partir deles e, quantas vezes, contra eles. Mas já não somos também nem eu, nem a Rosalina; somos uma dinâmica muito forte e contraditória, com muitas áreas de luz e muitas áreas de penumbra, tal como a vida real, autentica, para sermos autênticos e verdadeiros”.

Outro aspeto muito importante da comunicação foi sobre a democracia na escola. Sobre o assunto Sérgio Niza destacou a importância em termos de formação para os alunos a sua participação democrática direta na escola, dentro e fora da sala de aula.

Ainda sobre o mesmo tema, Sérgio Niza escreveu: “Todo o poder se afirma por via da representatividade faz reproduzir a ideia de representação que pressupões sempre uma ideia de elite. Há uns (que são) os eleitos e os outros…porque nós sabemos que (os eleitos) têm sempre mais poder, mais capacidade de intervenção. São questões fundamentais da democracia, que a democracia política não conseguiu resolver, mas que a democracia educativa poderá resolver”.

Na intervenção de Sérgio Niza, entre outros temas, foi abordado o modelo pedagógico do MEM e a polémica questão dos trabalhos de casa que por serem tão importantes para alguns docentes e pais, deviam ser feitos nas salas de aula.

Termino, convidando todas as pessoas que se preocupam com a educação e os meus colegas, de espírito aberto, a lerem os livros referidos acima e a participarem numa das próximas iniciativas do MEM que são gratuitas e abertas a todos os interessados.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31544, 13de junho de 2018, p.19)

quinta-feira, 24 de maio de 2018

40.º Congresso Nacional do Movimento da Escola Moderna


Colegas,

Temos o prazer de vos comunicar que a partir do dia 1 de junho estarão abertas as inscrições para o 40.º Congresso Nacional do Movimento da Escola Moderna.

Este ano, o congresso realizar-se-á no Instituto Superior de Contabilidade e Administração da Universidade de Aveiro (ISCA), nos dias 19, 20 e 21 de julho.

Todas as informações úteis, assim como a inscrição online, estão disponíveis através do link http://www.movimentoescolamoderna.pt/

Com os nossos melhores cumprimentos,

A Direção do Movimento da Escola Moderna


Movimento da Escola Moderna
Sede: Rua Francisco Grandela, nº 7 loja A, 1500-284 Lisboa
Tel: 21 868 03 59 / 96 428 23 78
E-mail: sedemovimentoescolamoderna@gmail.com

www.movimentoescolamoderna.pt

Sobre o ensino profissional


Fotografia de Raimundo Quintal

Sobre o ensino profissional

De vez em quando, surgem vozes a chorar pela medida tomada depois de 25 de abril de 1974 que levou ao fim das escolas profissionais. Como principais argumentos apresentam dois: nem todos têm cabeça nem podem ser doutores e a sociedade precisa de profissionais das mais diversas áreas, como carpinteiros, pedreiros, eletricistas, etc.

No Estado Novo, na década de 1950, a par do ensino liceal, frequentado pelos alunos provenientes dos extratos médios e altos da sociedade e destinado essencialmente a preparar para a universidade, existia o ensino industrial e comercial frequentado pelos alunos pertencentes às famílias com mais posses de entre os mais desfavorecidos da sociedade e destinava-se a preparar para uma profissão.

Mais tarde, na década de 60 do mesmo século o regime, já com Marcelo Caetano, fez uma tentativa de aproximar os dois ensinos, na tentativa de acabar com a estigmatização dos alunos que frequentavam o ensino profissional., como se poderá concluir da leitura da Lei 5/73 que apresenta, entre outros, os seguintes argumentos: evitar “a discriminação de classes sociais” e dar “a todos os alunos igualdade de oportunidades e possibilidades”.

A unificação dos dois ensinos só se concretizou em 1975, devido à ação de Rui Grácio, pedagogo que foi investigador do Centro de Investigação Pedagógica da Fundação Calouste Gulbenkian e Secretário de Estado da Orientação Pedagógica nos II, III e IV Governos Provisórios, entre 17 de julho de 1974 e 8 de setembro de 1975.

António Teodoro, Professor Catedrático da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, antigo secretário-geral da Federação Nacional dos Professores (FENPROF), no seu livro “Política Educativa em Portugal. Educação, desenvolvimento e participação política dos professores”, editado em 1994, cita as razões de Rui Grácio para a criação do ensino secundário unificado que abaixo se transcreve:

“Primeira: adiar para os quinze anos a escolha do rumo escolar que no sistema antecedente teria de fazer-se aos doze, permitindo aos rapazes e raparigas autodeterminarem-se com menor probabilidade de erro e adiando, com vantagem, a incidência dos factores financeiros e culturais de ordem familiar na opção do rumo escolar ou profissional do jovem;

Segunda: romper com a dualidade ensino liceal- ensino técnico, dualidade que no contexto político-social vigente exprime, ao mesmo tempo que reforça, não apenas a dualidade trabalho intelectual-trabalho manual, mas também, correlativamente, a dualidade dominante-dominado;

Terceira: romper com a dualidade escola-comunidade, educação formal-educação não formal, dualidade que empobrece os dois termos do binário.”

Hoje, depois de criadas as escolas profissionais e de criados cursos profissionais nas escolas oficiais, além do conflito existente entre aquelas devido à diminuição do número de alunos, verifica-se que alguns alunos, em número que não deixa de ser significativo, não apresenta qualquer motivação para o estudo pelas mais diversas razões, sendo uma delas a desvalorização da escola como meio de promoção social ou o facto de que o que é ensinado nas escolas nada dizer aos alunos ou mesmo às suas famílias, pois limita-se à transmissão de conhecimentos cuja utilidade para a vida diária é por vezes duvidosa.

Uma proposta para alterar o referido, que é um problema que não é de agora, foi apresentada pelo cientista açoriano Aurélio Quintanilha que achava que todas as escolas deviam ser “Escolas do Trabalho”.

Sobre aquela ideia de Aurélio Quintanilha, Amélia Gomes, autora de uma dissertação de mestrado sobre o seu pensamento em relação à educação, escreveu o seguinte:

“Nesta linha de pensamento, Quintanilha advertiu que o liceu não podia ser uma escola profissional com o objetivo de criar técnicos, no entanto, o ensino profissional devia ser parte integrante da educação em geral, sendo a base da educação do espírito e da educação do corpo”.

De acordo com a autora citada, “a proposta de Quintanilha era transformar o liceu do seu tempo numa “Escola do Trabalho”, contrariando a alienação da divisão do trabalho em manual e intelectual.”

Será que a sugestão de Aurélio Quintanilha, ainda hoje, faz sentido?

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31528, 24 de maio de 2018, p.12)

terça-feira, 15 de maio de 2018

Aurélio Quintanilha e a Educação


Aurélio Quintanilha e a Educação

Aurélio Pereira da Silva Quintanilha nasceu, em Angra do Heroísmo, em 1892 e faleceu, em Lisboa, em 1987.

Aurélio Quintanilha, depois de ter passado por Ponta Delgada, onde concluiu o liceu, por Lisboa, onde chegou a frequentar Medicina e concluiu o Curso de Ciências Histórico-Naturais, por Coimbra, onde foi assistente de Botânica da Faculdade de Ciências e se doutorou, foi forçado a ir para França, depois de, em 1935, ter sido demitido e reformado compulsivamente por razões ideológicas. Sem condições para permanecer em França após a 2ª Guerra Mundial, regressou a Portugal tendo ido para Lourenço Marques, onde dirigiu o Centro de Investigação Científica Algodoeira e foi investigador na Universidade local. Depois do 25 de abril de 1974, pediu a reintegração na Universidade de Coimbra, tendo aí proferido a última lição: “Quatro Gerações de Cientistas na História do Instituto Botânico de Coimbra”.

A sua carreira científica reconhecida internacionalmente e a sua participação cívica em prol de um mundo mais justo e pacífico fez com que tenha sido agraciado, em 1983, com o Grau de Grande Oficial da Ordem da Liberdade e, em 1987, com o Grau Oficial da Ordem de Santiago da Espada.

Para além do referido, Aurélio Quintanilha foi alvo de outras homenagens de que se destaca a atribuição do seu nome a uma rua em Lisboa e no Seixal. No Museu Nacional de História Natural existe, também, uma instalação com o seu nome, o Anfiteatro de Botânica Prof. Aurélio Quintanilha. Nos Açores, apenas temos conhecimento da atribuição do seu nome a uma rua na ilha Terceira.

Embora Aurélio Quintanilha seja mais conhecido pela sua faceta de investigador na área da Botânica, não pode ser ignorada a sua atividade como professor e o seu pensamento pedagógico que, segundo Amélia Gomes, autora de uma dissertação de mestrado intitulada “A educação libertária segundo Aurélio Quintanilha” (2005), foi influenciado por “Pestalozzi, Tosltoi, Kropoktine, Jean Grave, Malato, Dewey, Kerschensteiner e António Sérgio, entre outros.”

Professor por vocação, não foi bem aceite por alguns, os mais conservadores, o seu convívio com os estudantes, sabendo-se que com eles jogava futebol e basquetebol.

A sua dissertação para o Exame de Estado da Escola Normal Superior, intitulada “Educação de Hoje, Educação de Amanhã”, foi considerada, por um dos professores que a avaliou, como imoral, pois Aurélio Quintanilha defendia a educação sexual nas escolas a cargo dos professores de Biologia.

Sobre a sua motivação para o ensino, no prefácio à dissertação mencionada podemos ler o seguinte:

“No meio deste século de um sórdido materialismo, acotovelado pelos que disputam, numa luta feroz, o pão de cada dia, uma só ambição me consome. Ser professor. Nem as vãs glórias do mando, nem o poderio do oiro me fascinaram ainda. E sinto que nenhuma outra atividade social poderia dar-me uma parcela sequer daquele sagrado entusiasmo, daquela alegria infinita que se apodera de mim quando vejo diante um curso, suspenso das minhas palavras, e me é dado assistir, naqueles olhos fitos nos meus, ao desabrochar da Ideia.”

Sobre a necessidade da educação/cultura não se cingir à escola, no seu discurso pronunciado na sessão inaugural da Universidade Livre de Coimbra, em 1925, Aurélio Quintanilha escreveu:

“A escola não basta como fonte de cultura, mesmo nos países onde são outros os seus ideais educativos e mui diversos os seus métodos de trabalho.
Por toda a parte se sente a necessidade de uma educação complementar, extraescolar e pós-escolar.”

Terminámos este texto, citando a dissertação de mestrado atrás referida: Quintanilha fala de uma “Escola de Trabalho” …não numa escola de meros trabalhos manuais, nem numa escola de produção, mas uma escola onde cada um aprenda por experiência com o seu próprio trabalho, tomando como ponto de partida a sua experiência vivida e os problemas por ela suscitados, autocontrolando os seus resultados e pondo-os ao serviço da formação da sua personalidade integrada numa comunidade escolar”
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31521, 15 de maio de 2018, p.16)

sábado, 5 de maio de 2018

terça-feira, 24 de abril de 2018

MEM, A NOVA SEITA?


MEM, A NOVA SEITA?

De vez em quando a nossa ilha é invadida por seitas diversas que, percebendo a fragilidade de muitos humanos, fazem campanhas muito aliciantes para, por um lado, divulgar a sua mensagem e, por outro, atrair às suas fileiras mais fiéis.

Fui alertado por alguns colegas meus para umas sessões, abertas a todos os interessados sobretudo professores e educadores, realizadas mensalmente. aos sábados, numa escola de Ponta Delgada.

Por curiosidade fui assistir a uma das sessões a que eles chamam Sábados Pedagógicos e não tive dúvidas de que estamos em presença de algo muito estranho que me deixou desconfiado acerca das verdadeiras intensões dos seus promotores.

A seguir apresento alguns aspetos que me fizeram ficar com comichão atrás da orelha:

1- Os formadores, nunca são apresentados como tal, mas como colegas que já trabalham há mais tempo seguindo um determinado modelo/filosofia de ensino. Não são remunerados pelo seu trabalho, o que é um bocado suspeito pois ninguém trabalha de graça.

2- Os formandos, professores dos diversos graus de ensino e educadores, em número que segundo me dizem está a crescer, sacrificam mensalmente uma boa parte de um sábado quando podiam estar a gozar o merecido descanso. O que motiva esses educadores e professores quando a única recompensa parece ser um certificado de presença emitido no final do ano letivo?

3- Segundo pesquisa que efetuei o movimento em questão “defende a promoção dos professores, a construção autogerida da sua formação” e também afirma que “o único modo dignificante de convivência …é a colaboração e a entreajuda: a solidariedade no trabalho e na vida pela cooperação educativa”. Nada de mais errado, nos dias de hoje, sabendo-se que toda a formação tem de ser imposta de cima para baixo, pois só os dirigentes sabem o que é necessário para a formação dos subordinados. Falar em cooperação é tentar sub-repticiamente aliciar para uma corrente de pensamento que está ultrapassada, a que defendia o cooperativismo. António Sérgio está morto e enterrado.

4- Pelo que ouvi, o movimento em questão defende a participação dos alunos em todo o processo educativo e o seu envolvimento na vida da escola, desde as questões mais simples até à própria definição de critérios de avaliação. Outro erro, o papel do aluno é única e exclusivamente o de aprender. Para a tomada de decisões, cabe ao professor, no limite, conversar com o delegado e subdelegado de turma, pois estes foram eleitos democraticamente para representar os seus colegas. Nas escolas já há democracia a mais.

5- Outra questão que pode levar ao erro é a designação da associação a que nos vimos referindo: MEM - Movimento da Escola Moderna. Como pode ter no seu nome a palavra Moderna, quando o MEM já existe desde 1966, tendo inclusivamente sido perseguido durante o Estado Novo?

Antes de terminar e antes de ser insultado na praça pública, como já aconteceu, deixo uma chamada de atenção aos mais distraídos. Quem me conhece bem sabe que a minha opinião não é a que é transmitida na primeira parte deste texto e percebe que estou a ser irónico, aos que não me conhecem recomendo algum cuidado na interpretação dos textos que leem. A todos, aconselho que tirem um tempinho e apareçam num dos próximos sábados pedagógicos promovidos pelo Núcleo de São Miguel do MEM.

O próximo Sábado Pedagógico, que se realiza no dia 12 de maio, na Escola Secundária das Laranjeiras, terá como convidado Sérgio Niza, um dos fundadores do MEM, que segundo António Nóvoa é “a presença mais constante, mais coerente e inspiradora da pedagogia portuguesa dos últimos 50 anos”.

Termino com uma citação de Sérgio Niza que é também o autor das pequenas citações apresentadas anteriormente: “Ou a nossa escola é, por aspiração, por esforço, uma construção permanentemente ética e democrática, ou nunca teremos nunca uma democracia”.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31506 24 de abril de 2018, p.17)

segunda-feira, 23 de abril de 2018

Notas sobre a “Pedagogia Libertária” de Edmond-Marc Lipiansky


Notas sobre a “Pedagogia Libertária” de Edmond-Marc Lipiansky

Edmond-Marc Lipiansky, professor de psicologia na Universidade de Paris X - Nanterre, é autor de um pequeno livro intitulado “A Pedagogia Libertária”, traduzido para português, por Plínio Augusto Coelho e editado no Brasil, em 1999.

O livro, que tivemos a oportunidade de ler graças ao empréstimo de um amigo que conhece o meu interesse pelo tema da educação, é constituído por duas partes: a primeira, intitulada “As teorias e as experiências anarquistas em matéria de educação” e a segunda com o título: “O sistema anarquista de educação: análise crítica”.

Na primeira parte, entre outros assuntos, o autor escreve, muito abreviadamente, sobre as ideias de Proudhon, as defendidas pela Primeira Internacional, as de Tolstói e de Ferrer e sobre a experiência das comunidades escolares de Hamburgo.

Na segunda parte do livro o autor esclarece que, ao contrário de outras correntes do pensamento, os anarquistas não pretendem a democratização do ensino, mas “transformá-lo radicalmente e lançar as bases de uma educação popular”.

Os pensadores anarquistas contestam os sistemas de educação existentes pois consideram que são autoritários, denunciam o fosso existente entre a escola e a vida e acusam o ensino de ser de classe, isto é, para além de servir os interesses das classes dominantes, serve também para “reproduzir a divisão da sociedade em classes”.

Não havendo unanimidade no que diz respeito à função da educação, podemos distinguir duas posições. Uma que considera que “a criança não é um adulto inacabado, é um ser tendo a sua sensibilidade, a sua inteligência, suas necessidades e seus interesses diferentes daqueles do adulto”, destinando-se, portanto, a educação a devolver a criança à sua natureza, não a adulterando. Contrariando a posição anterior, Proudhon e os seus discípulos defendem que a criança “deve ser preparada para o seu futuro papel de trabalhador e de cidadão livre”.

Em relação ao tipo de educação que defendem, os libertários são adeptos de uma educação integral, que alie a teoria à prática e preconizam “um ensino fundado sobre a verdade científica”. Não se pense que eles não refletem sobre a ciência que, segundo alguns, pode ser “um instrumento de poder nas mãos da classe dominante”. Para além do referido, os anarquistas defendem que a educação não deve ter qualquer componente de “instrução religiosa”.

Lipiansky, a dado passo do seu trabalho, afirma que o projeto educativo dos anarquistas está intimamente associado ao conceito de liberdade. Aqueles, também defendem que a relação pedagógica deve ser “livre porque tende à igualdade entre os parceiros na relação” e “inspirada pela amizade, pela fraternidade” entre professores e alunos.

Os pensadores anarquistas, também, defendem o trabalho em grupo, pois consideram “a camaradagem fraternal, a cooperação, “o treinamento progressivo do fraco ao forte” mais importante do “que a competição e a concorrência”.

Nas propostas pedagógicas dos anarquistas ou de quem defendia ideias afins, existe uma “dimensão utópica”, mas eles tinham consciência “de que numa sociedade de classes, e uma sociedade hierárquica e autoritária, o ensino só podia ser um ensino de classe, hierarquizado e repressivo”. Assim, embora acreditassem que uma pedagogia libertária só poderia ser implementada quando estivesse implantada uma sociedade socialista libertária - Bakunine foi claro ao dizer que a prioridade não era a educação, mas a emancipação económica -, os anarquistas não esperaram que a sociedade se alterasse para implementar as suas ideias, tendo criado diversas experiências pedagógicas, como a escola Iasnaia-Poliana, de Tolstói, a Escola Moderna, de Ferrer, ou as comunidades escolares de Hamburgo.

Por último, é preciso não esquecer que os pensadores anarquistas ou os seus inspiradores, como Tolstói, foram “percursores de inúmeras correntes recentes da pedagogia”. Sobre este assunto, Lipiansky cita, entre outras, a título de exemplo, a Escola de Summerhill, fundada pelo educador Alexander Sutherland Neill, a Escola do Povo, do pedagogo francês Célestin Freinet, a autogestão pedagógica e as ideias do austríaco Ivan Illich que defendeu que não era possível a educação universal através da escolarização.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, nº 31506, 18 de abril de 2018, p.14)

quinta-feira, 12 de abril de 2018

Zuraida Soares e a educação

Açoriano Oriental, 12 de abril de 2018

terça-feira, 20 de março de 2018

Novas Rotas, Novo Rumo para a Educação



Novas Rotas, Novo Rumo para a Educação

Nos próximos dias, a Assembleia Legislativa Regional dos Açores irá pronunciar-se sobre uma petição, que também assinei, de um grupo de docentes e encarregados de educação que pretendem a criação de uma escola diferente da que temos tido até aqui.
Segundo os proponentes, a escola que anseiam será, acreditamos que em breve, “uma verdadeira comunidade aprendente” que irá “integrar nas suas práticas de ensino os contributos da investigação mais recente nas várias áreas do saber, relativas ao processo de aprendizagem, e, sobretudo, tem de admitir o facto inegável de que as crianças e jovens aprendem hoje de forma diferente e que, por esta razão, o sistema educativo tem de ser alterado para se adaptar a esta nova realidade”.
Para evitar mal-entendidos, que efetivamente já existem, como o de confundir o “Projeto Novas Rotas” com o movimento pedagógico português “Movimento da Escola Moderna”, quero deixar bem claro que não faço parte do Projeto Novas Rotas, mas que tenho a maior estima e consideração pelas pessoas que conheço e que estão a ele ligadas e que o que mais desejo é que “a nova escola” seja implementada já no próximo ano letivo. Quanto ao Movimento da Escola Moderna, sou membro ativo, tendo feito várias tentativas de implementar os seus princípios na minha ação educativa, mas o que escrevo neste jornal é da minha inteira responsabilidade, não comprometendo mais ninguém.
A leitura que fiz do relatório da Comissão Permanente dos Assuntos Sociais, no âmbito da apreciação da petição referida, deixa-me um pouco apreensivo acerca do futuro de um projeto que pela motivação e empenho dos docentes e pais e encarregados de educação envolvidos tem pés para andar. Com efeito, se a tutela não fecha a porta ao projeto, “admitindo a sua experimentação no âmbito de uma das unidades” acrescenta que não aceita “a alteração do modelo de colocação dos professores”. Não compreendemos este reparo pois, tanto quanto sabemos, todos os envolvidos no projeto já estão integrados na carreira docente em vários estabelecimentos de ensino, pelo que basta o recurso a uma das formas de mobilidade previstas no Estatuto da Carreira Docente para poderem lecionar na unidade orgânica que acolher o projeto.
Não vou pronunciar-me, com profundidade, sobre as interrogações de um deputado que afirmou que o “modelo ainda está em modo experimental”. Se se referiu à Escola da Ponte, uma das experiências inspiradoras do Novas Rotas, consideramos que a afirmação só revela desconhecimento da mesma já que ela existe desde 1976 e, sem ter alunos “escolhidos a dedo”, tem superado com sucesso todas as avaliações externas.
Falta de conhecimento também revela o Secretário Regional da Educação e Cultura ao comungar de “algumas preocupações expostas pelo Deputado”, tendo referido a “necessidade de formação dos professores”. Tanto quanto sei, e sei pouco pelas razões já expostas, os docentes envolvidos têm frequentado, ao longo dos últimos anos muitas ações de formação, e mais do que a simples frequência têm suportado alguns custos com a vinda de formadores exteriores à Região.
Um dos principais meios de derrubar “um projeto” ou de “destruir” uma ideia, não é não o aprovando ou proibindo-a de ser divulgada. Pelo contrário, é pura e simplesmente dizer que o que se pretende já é feito ou deturpando a ideia. Como exemplo, fora da escola temos o conceito de desenvolvimento sustentável, já de si pouco preciso, mas que é deturpado diariamente, pois em seu nome são cometidas as maiores barbaridades ambientais e injustiças sociais. Na escola, no passado, assistimos à morte da chamada área escola que foi, propositadamente ou não, confundida com as visitas de estudo que sempre foram feitas.
Não sei o que pretendeu o SREC ao afirmar que o “ProSucesso bebeu informação nas duas âncoras que suportam esta petição: Escola da Ponte e o Projeto Escola Moderna, fazendo referências a ações desenvolvidas e que coincidem com aquelas que são as pretensões da própria petição, do próprio projeto”. No que diz respeito à segunda “âncora”, para além de não ser um projeto, nunca pretendeu ser uma escola, sendo uma “Associação Pedagógica de Professores e de outros Profissionais da Educação” que possui um modelo pedagógico assente em três subsistemas integrados de organização do trabalho de aprendizagem: estruturas de cooperação educativa, circuitos de comunicação e participação democrática direta. Além do referido, e não duvidando da boa vontade e do empenho dos envolvidos no ProSucesso, importa ficar bem claro que o modelo do MEM não pode ser implementado de forma atomizada e não integradora.
Termino fazendo votos para que haja bom senso na Assembleia Regional e que esta recomende ao Governo a implementação de medidas que não obstaculizem a implementação, já no próximo mês de setembro, de um projeto que tem merecido muitas horas de trabalho e de dedicação a muitos colegas meus, que é desejado por um grupo significativo de pais e que, sobretudo, é uma mais-valia para os alunos desta terra.


Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31483, de 21 de março de 2018, p. 13)
https://www.facebook.com/novasrotaseducacao/

quinta-feira, 15 de março de 2018

O Professor Mário de Oliveira e a Escola Única


O Professor Mário de Oliveira e a Escola Única

Nas minhas pesquisas sobre o tema da educação, depois de ter tomado conhecimento de algumas ideias defendidas pelo pedagogo Adolfo Lima que esteve ligado à Voz do Operário, instituição com sede em Lisboa que ainda disponibiliza serviços que vão do berçário ao 2º ciclo, e de ter visitado recentemente a sua sede, deparei-me com o nome de Mário de Oliveira, professor do ensino primário, hoje designado por primeiro ciclo do ensino básico.

Mário Augusto de Oliveira e Sousa (1892-1970) nasceu em São Paio, Gouveia, foi um militante libertário que esteve ligado ao movimento sindical, tendo sido delegado dos funcionários públicos ao Congresso Operário de 1922. Neste congresso foi aprovada por esmagadora maioria a adesão dos sindicatos portugueses à Associação Internacional dos Trabalhadores, de orientação anarcossindicalista, em detrimento da adesão à Internacional Sindical Vermelha, de orientação comunista.
No que diz respeito à sua atividade profissional, Mário de Oliveira lecionou na Guarda na Associação 1º de Maio e na Voz do Operário, tendo sido colaborador pedagógico do Dr. Adolfo Lima.
O professor Mário de Oliveira foi também muito ativo no movimento associativo de professores, tendo sido um dos animadores da Associação dos Professores de Portugal, da União dos Professores de Portugal e da Liga de Ação Educativa.
Mário Oliveira foi editor da revista “Educação” e foi autor da brochura “A Escola Única-uma nova ideia pedagógico-social”, editada em Lisboa, no mês de outubro de 1933.
Segundo Joaquim Pintassilgo e Maria João Mogarro, num texto, não datado, intitulado “A ideia de escola para todos no pensamento pedagógico português”, para além de Mário de Oliveira e Adolfo Lima, também defenderam a escola única, entre outros, Bento de Jesus Caraça e Álvaro Sampaio.

Antes de darmos a conhecer alguns extratos da publicação referida de Mário de Oliveira, esclarecemos o que se entende por escola única, recorrendo aos autores citados no parágrafo anterior. Assim, segundo eles:

“A Escola Única representa, em geral (e abstraindo-nos das interpretações diversas de que é alvo) uma forma de organização da escola de modo a que ela seja acessível a todos os seus membros em igualdade de condições, segundo as suas aptidões e competências e não segundo a sua situação económica e social. A Escola Única implica a unificação do sistema de ensino até uma idade considerada adequada para o aparecimento de quaisquer especializações, designadamente as de natureza profissional.”

Por não conhecermos o texto completo da brochura do professor Mário de Oliveira, as citações seguintes só foram possíveis através de um extrato do mesmo, publicado na revista “Letra a Letra”, nº 5, de setembro de 2016, editada pela Modos de Ser-Associação Livre”.

Sobre o estado da educação em Portugal, Mário de Oliveira escreveu o seguinte: “Só um patriotismo fanático, doente, pode negar os nossos 65% de analfabetos, a par dum sem número de factos que mostram claramente o atraso, a pobreza de todos os nossos recursos coletivos e fontes de valorização social”.

Sobre a Escola Única, depois de afirmar que a mesma “não atende a privilégios, a preconceitos ou favoritismos e aproveita-se das competências onde elas estiverem”, não se perdendo “valores”, nem elevando “nulidades”, Mário de Oliveira acrescenta o seguinte:

“A Escola Única nivela a todos perante a educação e organiza o ensino sob o ponto de vista da humanidade, do bem comum, dos interesses do indivíduo e da colectividade, sem prejuízo mútuo, e pretende elevar à máxima valia as aptidões técnicas e os sentimentos de fraternidade e de solidariedade humanas”.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31478 de 15 de março de 2018, p.13)
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domingo, 11 de março de 2018

Que triste (ou infeliz) comparação

terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Alguns apontamentos sobre Vygotski



Alguns apontamentos sobre Vygotski

Por pensar que é muito reduzido o número de leitores do Correio dos Açores que já ouviu falar em Vygotski decidi dar a conhecer um pouco da sua vida e a sua influência no mundo atual, nomeadamente na área do ensino.

Lev Semenovitch Vygotski nasceu em Orsha, na Bielorrússia, a 17 de novembro de 1896, e faleceu muito novo, com 37 anos, vítima de tuberculose, em Moscovo, a 11 de junho de 1934.

Na sua breve passagem por este mundo, Vygotski dedicou-se a várias áreas do saber, tendo estudado direito e filologia, ensinado literatura, fundado a revista literária “Verask” e lecionado Psicologia e Pedagogia.

Tal como aconteceu com outros cientistas, com a ascensão de Estaline ao poder na então União Sovietica, o trabalho de Vygotski não foi respeitado, tendo-se chegado ao cúmulo, segundo Geraldo Magela Machado, do Partido Comunista ter, dois anos após a sua morte, proibido “todos os testes psicológicos na União Soviética e todas as revistas de Psicologia deixaram de ser publicadas durante 20 anos”.

No livro “Estaline e os Cientistas”, que foi publicado em Portugal em abril de 2017, o seu autor Simon Ings apresenta vários casos de cientistas cuja carreira foi perturbada ou que foram assassinados por não se submeterem à “ciência oficial”.

Dos vários cientistas referidos, alguns dos quais e apesar das condições existentes contribuíram para o avanço de várias áreas da ciência, consta o nome de Vigotski que esteve ligado a vários projetos, entre os quais o de um infantário que foi fundado pela psicóloga Vera Shmidt (1889-1937).

O Infantário Branco adotou o pensamento de Jean Piaget e apresentava semelhanças com a Escola de Summerhill, criada, na Inglaterra, em 1921, por A.S. Neill e que defendia que a criança devia “ter liberdade para escolher e decidir o que aprender e, com base nisso, desenvolver-se no próprio ritmo”.

Mas, os mentores do infantário não se ficaram pelas ideias de Piaget que começavam a ser difundidas em todo o mundo. Com efeito, acreditavam que as crianças dependiam da companhia das outras para desenvolver a sua linguagem e as suas aptidões, cabendo “aos psicólogos e aos professores socialistas descobrir qual o ambiente que produzia as personalidades mais saudáveis e mais felizes”.

Infelizmente, este infantário que segundo o autor que vimos citando “foi o mais célebre de toda uma série de experiências sociais bolcheviques, concebidas para derrubar séculos de encarceramento, de arregimentação e de punição, e substituí-los por formas racionais, científicas e humanas de engenharia social” fechou as portas, alegadamente por falta de fundos, dois anos após a sua abertura.

Apesar de Vygotski já ter morrido há mais de 80 anos, a sua obra continua a ser uma referência em todo o mundo e tem influenciado os movimentos pedagógicos contemporâneos, como o português Movimento da Escola Moderna.

No que diz respeito à influência de Vygotski no Movimento da Escola Moderna, Sérgio Niza, que é a principal referência daquele movimento pedagógico português, em entrevista à revista Noésis, de janeiro-março de 1997, disse o seguinte: “…ensinou-nos, por exemplo, que os alunos aprendem sobretudo no convívio cultural com os adultos e com os pares. O que quer dizer que não se aprende principalmente com as lições formais. O próprio Vygotski, numa espécie de parábola, acaba por concluir que o papel mais importante do professor é o da organização social das aprendizagens. Não é o da função ensinante.”

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31465, 28 de fevereiro de 2018, p. 17)