terça-feira, 23 de janeiro de 2018

Chatelier e o galinho do tempo



Chatelier e o galinho do tempo

“…na ciência, assim como em todas as circunstâncias da vida, uma perseverança incansável e um vigor inflexível na luta contra os obstáculos (...) são elementos essenciais do sucesso”.(Le Chatelier)

Há mais de trinta anos sempre que ia a Lisboa e queria trazer uma pequena prenda para familiares e pessoas amigas comprava um galinho do tempo.

O galinho do tempo é um bibelot com a forma de um galo que muda de cor consoante o estado do tempo, isto é, se as asas e o rabo do galo ficarem de cor azul significa que o tempo está bom, quente e seco, se, pelo contrário a coloração for rosa, o tempo está húmido e provavelmente chuvoso.

Muitas pessoas acham que o galinho é capaz de prever o tempo, mas, na realidade, o que ele faz é dar uma indicação do tempo em cada momento. Na altura também me interrogava a razão da mudança de cor e não encontrei explicação, até a ter encontrado num manual de Química.

A explicação para a mudança de cor foi dada pelo químico francês Henri Louis Le Châtelier (1850 -1936) que se formou na “ École des Mines em Paris, ensinou química sucessivamente na École des Mines, no Collège de France e na Sorbonne (1878-1925) e tornou-se inspetor geral de minas (1907)”.

De acordo com Camila Welikson só a perseverança de Louis de Chatelier fez com que o seu trabalho acabasse por ser reconhecido mais de vinte anos depois. Com efeito, segundo a autora referida, a primeira formulação do Princípio de Le Chatelier ocorreu em 1884 não tendo sido aceite pela Academia de Ciências. Ainda segundo a mesma autora: “A recusa viria ainda mais três vezes antes do cientista conseguir, em 1907, conquistar a posição que tanto ambicionava.”

Qual o enunciado do Princípio de Le Chatelier e como funciona, então, o galinho?

Maria Dantas e Marta Ramalho, autoras do manual escolar “Novo Jogo de Partículas Física e Química A-Química -11º ano”, enunciam o Princípio de Le Chatelier do seguinte modo: “Se num sistema em equilíbrio se introduzir uma perturbação, o sistema vai reagir no sentido de contrariar essa perturbação”.

São fatores que podem fazer alterar o estado de equilíbrio a concentração, a pressão e a temperatura.

No caso do galinho vamos considerar apenas a concentração (neste caso maior ou menor humidade do ar, isto é mais ou menos água que como se sabe que tem a fórmula química H2O) e a variação de temperatura (pelo princípio referido, quando a temperatura aumenta há absorção de energia pelo sistema logo este evolui no sentido da reação endotérmica)

O galinho possui o rabo e as asas pintadas com uma solução aquosa de cloreto de cobalto (II). A equação do equilíbrio químico é a seguinte:

[CoCℓ4]2-(aq) + 6 H2O(ℓ)↔ [Co(H2O)6]2+(aq) + 4 Cℓ1-(aq)


O ião [CoCℓ4]2- apresenta a coloração azul e o ião [Co(H2O)6]2+ é rosa. Assim sendo, se o tempo está muito húmido a reação vai dar-se da esquerda para a direita, aumentando a concentração do ião [Co(H2O)6]2+ pelo que o galinho fica rosa. Se diminuir a humidade a reação dá-se em sentido contrário aumentando a concentração do ião [CoCℓ4]2-, pelo que o galinho fica azul.

Sabendo-se que a reação de formação do ião [Co(H2O)6]2+ é endotérmica, o aumento de temperatura vai favorecer o aumento da sua concentração pelo que o galinho ficará azul. Se, pelo contrário, a temperatura diminuir a reação vai dar-se em sentido contrário, isto é, vai aumentar a concentração do ião [CoCℓ4]2- que é rosa.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores 24 de janeiro de 2018 p. 17)

domingo, 14 de janeiro de 2018

Frases de António Sérgio


“Quanto a mim parece-me que os males de que nos queixamos são fatalíssima consequência da estrutura da sociedade, - e que só portanto terão remédio se nos metermos firmemente a transformar essa estrutura, o que não é possível com pregações, nem com politica de autoritarismo, nem com reformas só pedagógicas, - mas com reformas sociais e pedagógicas concatenadas, entrelaçadas como fios de um tecido único, as quais preparem o nosso povo para o uso razoável da liberdade e para empreender por si mesmo a sua emancipação social-económica”.

“No seu papel de organizadora de atividades, a educação não tem por objeto manter a estrutura da sociedade de hoje; tem por objeto melhorá-la, revoluciona-la”.

“Uma carneirada escolar dá uma carneirada administrativa, e um decorador de compêndios, um amanuense; mas se cada escola for uma cidade, um laboratório, uma oficina; se conseguirmos desloca-la do enciclopedismo para a criação – o aluno ao sair irá marcado, terá amoldado o seu espírito à iniciativa produtora e virá a ser para a sociedade uma fonte de progresso”.

“Quanto a mim, actuo a favor do ideal democrático, é certo; mas repetindo mil vezes a afirmação do Proudhon: “democracia é demopedia, democracia é educação do povo”. É treino do operário para se governar a si mesmo através das cooperativas e dos sindicatos, da estrutura do município e da província (associação de municípios), sem necessidade de chefes ou de mandões…”



quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

O Despertar da Escola


quarta-feira, 10 de janeiro de 2018

O Despertar da Escola

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

A luta dos Professores dos Açores


A luta dos Professores dos Açores

Convocada pelo Sindicato Democrático dos Professores, nos passados dias 3, 4 e 5 de janeiro, alguns professores dos Açores estiveram em greve para exigir o descongelamento da carreira docente e a contagem integral do tempo de serviço congelado.

Durante os três dias de greve e, talvez, para responder a uma provocação do Secretário Regional de Educação que afirmou que o que os professores pretenderam com a marcação da greve para os primeiros dias do 2º período foi prolongar as férias, os professores fizeram questão de comparecer em concentrações que se realizaram em vários pontos de Ponta Delgada.

Já depois de terminada a greve, no passado dia 6 de janeiro, houve uma nova concentração em frente ao Palácio de Santana há hora onde decorreu a receção de ano novo do Presidente do Governo Regional a diversos “representantes da sociedade açoriana” que mais não eram os políticos que vivem à custa do orçamento e representantes da burguesia grande e pequena que vice da exploração da força de trabalho da maioria do povo açoriano e de apoios estatais.

Se o número de professores presentes nas concentrações por vezes terá rondado as duas centenas, o que não é mau, e se a greve não teve a adesão da maioria dos docentes, tal deveu-se à falta de união dos sindicatos e à pouca autonomia e algum oportunismo de alguns docentes resultantes de algum egoísmo, de uma burocratização sindical e da origem social de alguns professores e educadores.

Analisando o papel das forças partidárias, regista-se o seu silêncio. De algum modo indicativa da posição do PCP, está um texto de um seu dirigente e antigo deputado que considerou a greve extemporânea.

A luta dos professores só poderá ser vitoriosa se aqueles confiarem nas próprias forças e se se unirem, independentemente das suas ideologias, opções partidárias ou filiações sindicais, na luta pela defesa dos seus direitos.

JS

sábado, 6 de janeiro de 2018

quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

Para que serve a escola?


Para que serve a escola?

No passado dia 29 de novembro, pelas 8 horas e trinta minutos, por decisão do Conselho Executivo da minha escola, fui obrigado a substituir uma colega que faltou naquele dia. Aulas de substituição são, do meu ponto de vista, quase sempre um disparate que felizmente já desapareceu nalgumas escolas, mas que persiste noutras, embora os responsáveis tenham conhecimento de que nas aulas em que o professor que é substituído não deixa trabalhos para os alunos fazerem, o papel do professor substituto pouco se diferencia do de “babysitter”.

Como a colega lecionava a disciplina de Português e eu sou professor de Física e Química, como a turma era do 7º ano de escolaridade e como não conhecia os alunos e não me foi dada nenhuma indicação sobre o que fazer, limitei-me a tomar conta das crianças que disseram que nada tinham para estudar, pois estudar é coisa rara nos dias que correm.

Na altura, como é difícil manter numa sala de aula alunos que nela não querem estar, que gostam muita da escola, mas apenas dos corredores e dos recreios, decidi que aqueles poderiam aprender algo se fizessem uma visita guiada ao exterior, onde seria possível identificar algumas plantas e falar sobre a sua importância para a vida humana.

Querendo saber até que ponto ia o seu conhecimento sobre o mundo que os rodeava, aproximei-me de uma das plantas e perguntei-lhes qual era o seu nome. A resposta não se fez esperar: “é uma árvore ou arbusto”. Como a resposta que pretendia não chegava, acrescentei: “Então, como se chamam as árvores que existem, talvez em maior número, nas bermas das estradas?”

Como ninguém foi capaz de identificar um plátano, dirigi-me para outra planta e voltei a fazer a mesma pergunta. A resposta foi: “é um arbusto”. Mas qual o seu nome? Como as bocas se calaram fiquei a saber que ninguém conhecia uma camélia.

Não me dando por vencido, cinco minutos depois, já com a metade dos alunos sentados, pois alegaram cansaço depois de caminharem menos de 50 metros, voltei a perguntar o nome de outra planta. Como ninguém identificou uma azálea, fiquei a saber que os alunos não ligavam patavina ao meio onde se encontram ou nunca ninguém teve o cuidado de lhes dar a conhecer a realidade que os rodeia.

Não querendo atribuir culpas a ninguém, acho muito estranho a ignorância absoluta manifestada pelos jovens, a qual revela que não aprenderam nada em casa, nem nos seis anos de escolaridade que já frequentaram, muitas vezes em escolas que ostentam bandeiras verdes.
Para além do referido, a minha estranheza advém, também, do facto de, para além da ausência de conhecimentos, a sua falta de interesse por quase tudo ser enorme.
Depois de cerca de 40 anos de muita canseira, muitas alegrias e muitas mais desilusões, hoje tudo, para alguns, parece perfeitamente normal. Para outros, não sei se a maioria, o que mais interessa são as atividades de fachada, são as bandeiras azuis e verdes, são os sucessos fictícios, são as melhorias estatísticas que ficam bonitas nos papéis, mas que na realidade escondem o facilitismo que se fomenta.
Na escola que, infelizmente, temos é o elitismo e o apartheid que é promovido ao premiar quem já tem todas as condições materiais e outras para atingir bons resultados. Sobre o assunto Everett Reimer escreveu: “A definição de mérito dada pelas escolas é, principalmente, a vantagem de se ter pais eruditos, biblioteca em casa, oportunidade de viajar, etc. O mérito é uma cortina de fumaça para encobrir a perpetuação do privilégio”.
Além do mencionado, continua-se a tentar tapar o Sol com uma peneira, tentando que a escola resolva os problemas criados fora dela. Como muitos já disseram, e para quem acredita que a escola poderá ter um papel positivo na evolução da sociedade, esta não se muda através da escola, muda-se com a escola.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31420, 5 de janeiro de 2018, p. 18)

Pelas ruas da amargura


quarta-feira, 3 de janeiro de 2018

Ratos numa escola

Greve

Greve

terça-feira, 2 de janeiro de 2018

Três dias de greve de (alguns) professores


Por que razão os sindicatos dos professores nunca estão unidos? Estão ao serviço de quem?