quinta-feira, 14 de março de 2019
O desafio do ensino/aprendizagem dos conceitos de massa e de peso
O desafio do ensino/aprendizagem dos conceitos de massa e de peso
Uma das aprendizagens essenciais do 7º ano de escolaridade da Disciplina de Físico-Química é “distinguir peso e massa de um corpo, relacionando-os a partir de uma atividade experimental, na qual constrói tabelas e gráficos”.
Embora pareça tarefa simples diferenciar peso de massa, o trabalho do professor esbarra com algumas dificuldades, sendo a primeira o quase não uso do conceito físico de massa em detrimento do de peso, que é usado, erroneamente, na linguagem do dia-a-dia.
Antes de fazermos referência à segunda dificuldade que é o ensino errado que é feito no 1º ciclo do ensino básico, induzido pelo programa oficial, por alguns manuais escolares e por alguns formadores dos docentes daquele nível de ensino, apresentamos os dois conceitos tal como são expostos no Projeto Desafios de Ciências Físico-Químicas destinado ao 7º ano de escolaridade, editado pela Santillana-Constância, em 2012.
De acordo com as autoras, a massa é uma grandeza física que caracteriza a quantidade de matéria que um corpo possui, não depende do local onde se encontra, tem como unidade no Sistema Internacional o quilograma (kg) e pode ser determinada utilizando uma balança. O peso, por seu lado, “corresponde à força de atração gravitacional da Terra sobre o corpo, depende do local onde o corpo se encontra, tem como unidade no Sistema Internacional o newton (N) e pode ser medido com dinamómetros”.
Face ao exposto não se compreende a razão pelo facto da massa ser, com muita frequência confundida com o peso e a gravidade de tal ato é maior quando tal confusão surge em documentos oficiais ou em manuais usados nas nossas escolas, como se pode confirmar através dos seguintes exemplos:
1- “A meloa pesa …quilograma (kg).” (documento distribuído aos professores do primeiro ciclo da RAA)
Como vimos o quilograma é unidade de massa, portanto não devia ser usado naquela situação.
2- “Nestes cestos, as bolas grandes pesam 9 kg e as bolas pequenas pesam 3 kg.” (Fichas de avaliação do 3º ano)
Erro semelhante ao anterior.
3- “Para medires a massa (peso) deves utilizar uma balança.” (ficha de um Caderno de Fim de Semana para o 3º ano)
Neste caso, o autor (ou autores?) une os dois conceitos num só o que não é correto.
Já vimos que peso e massa são grandezas diferentes, mas será que há alguma relação entre elas?
Num manual escolar para o 1º ano do Curso Complementar do ensino secundário (atual 10º ano de escolaridade) os seus autores, entre os quais se encontra o inesquecível Rómulo de Carvalho/António Gedeão, o peso era definido como “a força que determina a aceleração com que o corpo cai para a Terra”.
A sua equação de definição da sua intensidade, - não esquecer que o peso é uma grandeza vetorial e como tal para além daquela caraterística também apresenta uma direção, um sentido e um ponto de aplicação –, é:
P = mg
A letra m é a nassa do corpo e a g representa a aceleração da gravidade.
Sabendo-se que o valor da aceleração da gravidade é, em média, 9,8 m/s2, torna-se muito fácil estabelecer a relação entre o peso de um corpo e a sua massa. Assim, se um corpo qualquer tiver a massa de 1 kg, o seu peso será 9,8 N (newton):
P = 1 x 9,8= 9,8 N
No passado, também se usava como unidade de força o quilograma-força, cujo símbolo era kgf e equivalia ao peso de um corpo com a massa de um quilograma sujeito à ação da gravidade. Não sei se o seu uso não seria útil para ajudar a esclarecer que peso e massa são duas grandezas bem distintas. Assim, quando a massa fosse 1 kg o seu peso seria 1 kgf.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31777, 14 de março de 2019, p.12)
quarta-feira, 13 de março de 2019
NA LINHA DO MEM - MOVIMENTO DA ESCOLA MODERNA
NA LINHA DO MEM - MOVIMENTO DA ESCOLA MODERNA
INTRODUÇÃO/JUSTIFICAÇÃO
O alargamento da escolaridade obrigatória não significou o surgimento de uma “escola de todos que permita a cada um ir o mais longe possível no processo de aprendizagem e desenvolvimento” (Nóvoa, 2012).
Analisando os resultados escolares facilmente se conclui que estão longe do desejável, já que as retenções e o abandono precoce, apesar das várias medidas tomadas pelas entidades governamentais, continuam elevados. Grave- Resendes e Júlia Soares (2002), sobre o assunto afirmam o seguinte: “A escola não tem promovido, em geral, a igualdade de oportunidades educativas para os alunos, visto que a sua organização foi concebida para alunos da cultura média dominante”.
Sérgio Niza, citado por Grave- Resendes e Júlia Soares (2002) defende que “só a partir de uma pedagogia diferenciada centrada na cooperação entre professor e os alunos e destes entre si se poderão por em prática os princípios da inclusão, da integração e da participação democrática, isto é, os Direitos da Criança”.
Desde 2015, temos participado em ações de formação promovidas pelo MEM- Movimento da Escola Moderna, associação de profissionais da educação, professores e educadores, que propõe a implementação, nas escolas, de um modelo pedagógico onde os alunos são envolvidos e corresponsabilizados pela sua aprendizagem.
Em anos anteriores, sobretudo no ensino básico apliquei algumas estratégias/técnicas e instrumentos de pilotagem usados pelo MEM. Este ano pretendo aplicar o Modelo Pedagógico do MEM de forma mais globalizada.
O que é o MEM?
O Movimento da Escola Moderna é uma Associação Pedagógica de Professores e de outros Profissionais da Educação. Criado nos anos 60, foi formalizado juridicamente como associação pedagógica em 1976.
Constituído por mais de dois mil profissionais empenhados na integração dos valores democráticos na vida das escolas, encontra-se hoje espalhado por quase todo o país e organiza-se em Núcleos Regionais.
Através dos Núcleos, desenvolve anualmente um vasto Plano de Formação, que se concretiza, predominantemente, em ações sistemáticas integradas nas estruturas de autoformação cooperada ou no quadro de formação contínua de professores – formação acreditada – promovida pelo Centro de Formação do MEM e apoiada pelo Centro de Recursos.
Em 2001 o MEM foi reconhecido como Pessoa Coletiva de Utilidade Pública e em maio de 2004, no âmbito das comemorações do 30º aniversário do 25 de Abril, foi agraciado como Membro-Honorário da Ordem da Instrução Pública.
Em 2018, foi criado o Núcleo Regional de São Miguel, que tem promovido a formação de professores nos “Sábados Pedagógicos” que têm ocorrido na Escola Secundária das Laranjeiras.
Princípios Estratégicos
O Modelo Pedagógico do MEM , de acordo com Grave- Resendes e Júlia Soares (2002), é “sociocêntrico cuja prática democrática da gestão dos conteúdos, das atividades, dos materiais, do tempo e do espaço se fazem em cooperação. A participação dos alunos na organização, gestão e avaliação cooperadas de toda a vida da turma constituem um exercício de cidadania democrática activa”.
A cultura pedagógica do MEM, segundo Sérgio Niza, citado por González (2002) está subordinada aos seguintes princípios estratégicos:
“1. Os meios pedagógicos veiculam (em si) os fins democráticos da educação.
2. A actividade escolar enquanto contrato social e educativo, explicitar-se-á através da negociação progressiva dos processos de trabalho que fazem evoluir a experiência pessoal para o conhecimento dos métodos e dos conteúdos científicos, tecnológicos e artísticos.
3. A prática democrática de planeamento (actividades e projectos) organização, avaliação e regulação social da vida escolar, partilhada por todos, institui-se em conselho de cooperação.
4. Os processos de trabalho escolar reproduzem os processos sociais autênticos da construção da cultura nas ciências, nas artes e no quotidiano (homologia de processos).
5. A informação partilha-se através de circuitos sistemáticos de comunicação dos saberes e das produções culturais dos alunos (ciclos de produção/consumo).
6. As práticas escolares darão sentido social imediato às aprendizagens dos alunos, através da partilha dos saberes e das formas de intervenção social.
7. Os alunos intervêm ou interpelam o meio social e integram na aula “actores” comunitários como fonte de conhecimento nos seus projectos.”
Estratégias/técnicas
Conselho de Cooperação Educativa
É composto por todos os membros da turma e alunos que se reúnem para:
- Regular as relações sociais na turma e instituir normas de convivência;
- Gerir eventuais conflitos na turma;
- Planear, acompanhar, orientar e avaliar as aprendizagens;
Tempo de Estudo Autónomo
É um tempo utilizado pelos alunos, individualmente ou em pequenos grupos, para trabalharem em função das suas necessidades e interesses, desenvolverem atividades de treino das aprendizagens, estudarem e realizarem projetos.
É o tempo ideal para o professor apoiar os alunos com dificuldades em determinadas áreas de aprendizagem.
Trabalho de Projeto
É uma modalidade de trabalho que existe há muito tempo, mas que não tem sido suficientemente ou devidamente utilizada.
De acordo com, Grave- Resendes e Júlia Soares (2002), entre outros aspetos a considerar no MEM no trabalho de projeto:
“- Os autores dos projetos são os alunos;
- Não há um projeto único para toda a turma. Desenvolvem-se, em simultâneo, vários projetos em diferentes fases de execução;
- Não há grupos fixos. Formam-se segundo os interesses dos alunos pelos temas;
- Os processos e os produtos de cada projeto são objeto de comunicação à turma;
- Os alunos que comunicam elaboram questionários, fichas ou outros instrumentos destinados a averiguar até que ponto a sua comunicação contribuiu para a aprendizagem pelos seus colegas.
- O professor apoia rotativamente os alunos.”
Materiais pedagógicos
- Manual adotado e outros
- Fichas
- Livros
- Computador com ligação à internet
- Filmes/vídeos
- Trabalhos dos alunos
Instrumentos de pilotagem
De entre os instrumentos de pilotagem existentes, pretendemos aplicar os seguintes:
- Planos anual (PA)
Consiste essencialmente de uma listagem de conteúdos e atividades cujo principal objetivo é dar o programa oficial em linguagem acessível aos alunos.
De acordo com Pires (2006), os alunos na elaboração do PA podem:
“- Apresentar interesses e expectativas, a serem contemplados no Plano Anual;
- Apresentar propostas de trabalho para o Plano Anual;
- Discutir e negociar (procurando o consenso) as várias propostas;
- Tomar decisões, em conjunto com o professor e os restantes colegas.”
- Plano Individual de Trabalho (PIT)
É um roteiro que guia o trabalho dos alunos, tendo um papel determinante no incremento da sua autonomia ao mesmo tempo que faz com que eles se comprometam e se responsabilizam pelo que têm de fazer.
No PIT para além de um espaço destinado às tarefas a realizar pelo aluno há uma área destinada à autoavaliação e à heteroavaliação
- Diário de Turma
É o registo do que se passa na turma, ocorrências positivas e negativas e do que de mais significativo foi realizado. Serve de suporte à negociação e à regulação da vida da turma.
Critérios de Avaliação
- Assiduidade
- Pontualidade
- Autonomia
- Trazer material necessário
- Respeitar as regras de conduta
- Capacidade de autoavaliação
- Observa e coloca questões pertinentes, relaciona ideias e persiste nas tarefas propostas.
- Interpreta enunciados, escolhe estratégias adequadas e verifica criticamente os resultados, justificando o seu raciocínio.
- Recolhe, organiza e interpreta, de forma criteriosa, informação relacionada com a física e a química.
- Realiza as tarefas propostas
- Realiza tarefas por iniciativa própria.
- Faz os registos das aulas
- Intervém de forma adequada
- Respeita as ideias dos outros
- Revela espírito de interajuda
- Reflete e critica o seu trabalho e o dos colegas
- Revela hábitos de trabalho
Instrumentos de Avaliação
- Grelhas de registos de observação
- Observação direta/participação no trabalho da aula
- Registos de participação oral e escrita
- Trabalhos individuais /a pares /em grupo
- Observação/correção dos trabalhos produzidos nas aulas
- Fichas de avaliação sumativas
- Fichas de avaliação formativas
- Fichas de auto e heteroavaliação
- Caderno diário
BIBLIOGRAFIA
González, P. (2002). O Movimento da Escola Moderna- um percurso cooperativo na construção da profissão docente e no desenvolvimento da pedagogia escolar. Porto: Porto Editora.
Grave-Resendes, L., Soares, J. (2002). Diferenciação Pedagógica. Lisboa: Universidade Aberta.
Nóvoa, a. (2012). Ética, pedagogia e democracia são exatamente a mesma coisa. In Nóvoa, A., Marcelino, F., Ramos do Ó, J. (orgs.), Sérgio Niza escritos sobre educação, Lisboa: Tinta da China
Pires, J. (2006). O Planeamento no Modelo Pedagógico do Movimento da Escola Moderna. In revista Escola Moderna, nº 17, pp 23-66
Setembro de 2018
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