quinta-feira, 22 de agosto de 2019

EM MEMÓRIA DE IVAN ILLICH


EM MEMÓRIA DE IVAN ILLICH

No passado dia 2 de Dezembro, com a idade de 76 anos, faleceu, na Alemanha, Ivan Illich, um dos mais notáveis pensadores do século XX. Natural de Viena, Áustria, Illich, que nasceu a 4 de Setembro de 1926 e estudou naquela cidade, em Salzsburgo e em Roma, foi ordenado padre católico, tendo mais tarde abandonado o sacerdócio, líderou uma comunidade próxima de Cuernavaca, no México, e foi professor e investigador universitário.

Na década de 70 do século passado, Ilhich apresentou uma das críticas mais radicais e contundentes à sociedade industrial, apresentando sempre propostas de solução dos problemas criados por essa civilização. Destaque especial nas suas críticas, mereceu a medicina que tendo sido criada para proteger a saúde estava a provocar a doença, o sistema de transportes que em vez de facilitar a mobilidade estava a produzir engarrafamentos e a escola que tendo sido criada para educar estava deseducando.

Hoje, com o sistema educativo em permanente reforma e com o consumismo a ser fomentado por alguns estabelecimentos de ensino, como é o caso da venda de lixo alimentar em algumas escolas, chegando-se ao cúmulo de se publicitar uma bebida dentro de algumas salas de aula, substituindo-se o cruxifixo, dos meus tempos de infância, pela carica de um sumo artificial, as seguintes palavras de Illich não perderam actualidade:
“Nós não podemos iniciar nenhuma reforma educativa se não tivermos compreendido que nem a aprendizagem individual, nem a igualdade social, podem ser melhoradas através do ritual escolar. Não podemos livrar-nos da sociedade de consumo sem termos compreendido antes que a escola oficial obrigatória reproduz exactamente essa sociedade de forma inevitável, seja o que for que se ensine nessa escola”

Da sua vasta obra, recomendamos a leitura dos livros, publicados em Portugal, “Libertar o Futuro” e “ A convivencialidade”. As ideias de Illich, referência ímpar para todos os ecologistas, não morreram a 2 de Dezembro, pelo contrário continuam vivas e actuais.

(Publicado no Açoriano Oriental, 23 de Dezembro de 2002)