domingo, 16 de janeiro de 2022

Caros amigos, Desejamos a todos um excelente 2022. Retomaremos no dia 22 de janeiro, das 10h00 às 12h30 (fuso horário dos Açores), os Sábados Pedagógicos do nosso Núcleo com o seguinte programa: Percursos de descoberta da escrita e da leitura no 1º ano de escolaridade. - Dora Ferreira (NR São Miguel - 1º ciclo) e Tânia Branquinho (NR Lisboa - 1º ciclo) Um caminho de sentidos e desafios. - Délia Fagundes (NR Vila Real - disciplinas, 2º, 3º e secundário) É necessário fazer uma inscrição em: https://docs.google.com/.../1FAIpQLSeSLedSP0l4FE.../viewform No dia 21 será enviado o acesso à sessão por videoconferência.

quarta-feira, 17 de junho de 2020

Os animais, o ambiente e o ensino a distância




Os animais, o ambiente e o ensino a distância



No terceiro período, na disciplina de Cidadania e Desenvolvimento, alguns alunos de duas turmas do 7º ano de escolaridade, de uma escola secundária de São Miguel, escolheram como um dos domínios a abordar o bem-estar animal. Para o estudo do domínio em questão, cada aluno optou por um tema, fez uma pequena investigação e apresentou aos colegas os resultados das suas pesquisas.



A maioria, para além de abordar o conceito de bem-estar animal, limitou-se a investigar o que se passava com os animais domésticos, nomeadamente com cães e gatos, apresentando sempre as razões para o seu não abandono. Alguns também deram a conhecer associações de proteção dos animais, sendo a Cantinho dos Animais dos Açores

a única associação açoriana que conheciam.



Depois de “esgotado” o tema, o docente elaborou um questionário com o objetivo de ouvir a opinião dos alunos sobre vários aspetos relacionados com a proteção dos animais.



Abaixo, apresentam-se os principais resultados.



Sobre a importância da vida dos animais, a maioria dos alunos (84%) considerou que era tão valiosa como a dos humanos e para os restantes (16%) era bastante valiosa, mas não tanto como a dos humanos.



Para 89% dos alunos a companhia era o contributo mais valioso dos animais para a vida dos humanos, enquanto para 5,5% era o trabalho e para 5,5% a alimentação e produção de materiais.



A maioria dos alunos (95%) considerou que eram injustificáveis os maus tratos aos animais e um número reduzido (5%) achou que os mesmos se justificavam quando se tratava de os educar.



Enquanto o abandono de animais foi considerado injustificável para a maioria dos alunos (89%), para os restantes (11%) tal só se justificava quando os donos perdiam condições para os manter.



Sobre a utilização de animais em desportos, pouco mais da metade dos alunos (53%) achou que não deviam participar, um número mais reduzido (26%) achou que sim e os restantes (21%) respondeu que talvez pudessem ser usados.



Acerca da realização de touradas, argumentando que os animais se magoavam e sofriam e que era perigoso para as pessoas, a maioria dos alunos (89%) não concorda com a sua realização, enquanto os restantes (11%) acham que devem realizar-se pois é tradição e “mete a população contente e feliz”.



A maioria dos alunos (63%) também não concorda com a participação de animais selvagens em circos, pois não estão no seu habitat natural, porque sofrem e porque podem matar as pessoas.



Para celebrar a comemoração do Dia Mundial do Ambiente, 5 de junho, os alunos referidos também responderam a um questionário, onde, entre outras questões, lhes foi perguntado quais os principais problemas ambientais dos Açores, foi-lhes mostrado uma fotografia de um priolo para saber se eram capazes de identificar a ave e também foi-lhes pedido para que definissem o que era uma planta endémica.



Relativamente aos problemas ambientais dos Açores, os alunos referiram como principais a poluição do ar, da água, dos solos e a diminuição das espécies.



A maioria dos alunos (60%) identificou a ave como sendo o priolo, mas houve quem o confundisse com o corvo, o pardal ou com o milhafre. A grande maioria (94%) dos alunos conhecia o conceito de espécie endémica.



Sobre o ensino a distância, cerca de 30% dos alunos inscritos nas turmas não participaram nas aulas. Dos que participaram, a maioria considerou que conseguiu realizar com sucesso as tarefas e alguns apontaram aspetos positivos como o facto do aluno ter “que se tornar mais autónomo e esforçar-se” e como negativo o ser “extremamente cansativo…”. Outro aluno referiu que “a dificuldade foi mesmo fazer um exercício e não perceber uma pergunta e não ter um professor para explicar melhor”.

Teófilo Braga

(Correio dos Açores, 32157, 17 de junho de 2020, p. 17)

domingo, 17 de maio de 2020

José Pacheco e a Escola


https://www.jornalmapa.pt/

sábado, 15 de fevereiro de 2020

Educar de outra maneira: o Projeto Novas Rotas e o Movimento da Escola Moderna, em São Miguel (Açores)


Educar de outra maneira: o Projeto Novas Rotas e o Movimento da Escola Moderna, em São Miguel (Açores)

Teófilo Soares de Braga

“…Isso prova que o homem mais bem-dotado pela natureza só recebe faculdades, mas essas faculdades permanecem mortas se não forem fertilizadas pela ação benfazeja e poderosa da coletividade. Diremos mais. Quanto mais o homem é beneficiado pela natureza, mais ele apreende da coletividade; disso resulta que mais ele deverá devolver-lhe, com toda justiça.” (Mikhail Bakunin)
“…uma escola onde cada um aprenda por experiência com o seu próprio trabalho, tomando como ponto de partida a sua experiência vivida e os problemas por ela suscitados, autocontrolando os seus resultados e pondo-os ao serviço da formação da sua personalidade integrada numa comunidade escolar” (Aurélio Quintanilha)

Na ilha de São Miguel, desde o ano letivo de 2018-2019, está em funcionamento o Projeto Novas Rotas, um projeto de inovação pedagógica que veio ampliar a oferta educativa e permitir a liberdade efetiva dos encarregados de educação escolherem uma nova forma de organização escolar que é mais eficaz na promoção de valores e competências para os seus educandos.

O Projeto Novas Rotas, da Escola Básica Integrada de Capelas, São Miguel, Açores, é inspirado nos pressupostos teóricos da Educação Holística e na lógica organizativa do Projeto Âncora, Brasil, e da Escola da Ponte, uma escola pública criada por José Pacheco, em 1976, que funciona em São Tomé de Negrelos, concelho de Santo Tirso, distrito do Porto. De acordo com o que se pode ler na página Web da Escola da Ponte, “a organização que esta Escola põe em prática inspira uma filosofia inclusiva e cooperativa que se pode traduzir, de forma muito simplificada no seguinte: todos precisamos de aprender e todos podemos aprender uns com os outros e quem aprende, aprende a seu modo no exercício da Cidadania.”

No ano letivo 2019-2020, os 43 alunos que frequentam o Projeto Novas Rotas continuarão a aprender o currículo de forma diferente. Com efeito, de acordo com declarações recentes da sua Coordenadora, Conceição Medeiros, à Agência Lusa, “Não há aulas, não há turmas definidas, não há professores fixos por disciplina – tudo é mais flexível, as crianças vão aprendendo o currículo através do desenvolvimento de projetos, projetos de vida, projetos de intervenção comunitária, de consciência planetária e também projetos académicos”.
Uma realidade que faz com que este projeto se distinga do que se passa nas escolas públicas dos Açores é o forte envolvimento dos pais, sem os quais acreditamos que o projeto nunca seria implementado e a sua continuação estaria posta em causa. A título de exemplo, referimos que foram eles os grandes responsáveis pelas adaptações necessárias ao funcionamento do projeto no edifício onde está a funcionar e para este ano letivo foram eles, com apoios diversos, nomeadamente de voluntários vindos Chile, Espanha, Canadá, Inglaterra, Uruguai, Hungria, Israel e Austrália que construíram uma nova sala.

Na mesma ilha funciona um Núcleo Regional do Movimento da Escola Moderna (MEM) que, criado em 2018, promove a autoformação cooperada de professores, quer através de grupos cooperativos, quer nos “Sábados Pedagógicos” que têm ocorrido, na sua maioria, na Escola Secundária das Laranjeiras, em Ponta Delgada.

O Movimento da Escola Moderna surgido “a partir da atividade de seis professores que se constituíram, em fevereiro de 1965, num Grupo de Trabalho de Promoção Pedagógica impulsionado pelos cursos de aperfeiçoamento profissional de professores que Rui Grácio promoveu e dirigiu no Sindicato Nacional de Professores”, tem como principal mentor o pedagogo Sérgio Niza.

O MEM que se inspirou em vários pedagogos, entre os quais o francês Celestein Freinet apresenta em relação a este algumas diferenças. De acordo com declarações de Sérgio Niza, prestadas, em 1997, à revista Noésis: “Não partimos como Freinet da ideia de construir um modelo escolar, mas sim de nos formarmos como professores e dessa forma irmos fazendo avançar as nossas práticas. […] Isso não impede que ainda hoje utilizemos algumas técnicas Freinet, porque, em boa verdade, as técnicas Freinet não eram dele. Foram técnicas que estavam disponíveis e a que deu novo sentido”.

Os professores e educadores do MEM, que trabalham tanto em escolas públicas como particulares, perfilham um “modelo sociocêntrico de educação, acelerador do desenvolvimento moral e social das crianças e dos jovens, através de uma ação democrática exemplificante no decurso da educação formal”.

No modelo do MEM, o professor deixa de ser um mero transmissor de conhecimentos e é passa a ter como função principal a organização social das aprendizagens.

O MEM considera que na ação pedagógica a representatividade não é democrática. Sobre o assunto Sérgio Niza escreveu o seguinte:

“Todo o poder que se afirma por via da representatividade faz reproduzir a ideia de representação que pressupõe sempre uma ideia de elite. Há uns (que são) os eleitos e os outros…porque nós sabemos que (os eleitos) têm sempre mais poder, mais capacidade de intervenção. São questões fundamentais da democracia, que a democracia política não conseguiu resolver, mas que a democracia educativa poderá resolver”.

A democracia nas salas de aula concretiza-se na participação dos alunos na gestão dos conteúdos programáticos, na organização dos meios didáticos e dos tempos e dos espaços e é instituída num Conselho de Cooperação Educativa.

Para o MEM as crianças e jovens são cidadãos e nas aulas fazem a aprendizagem da Cidadania como demonstram, entre outros, dois dos postulados que sintetizam o modelo pedagógico do movimento:

- A cooperação e a interajuda dos alunos na construção das aprendizagens dão sentido ao desenvolvimento curricular;
- Os alunos intervêm no meio, interpelam a comunidade e integram na sala “atores” da comunidade educativa como fontes de conhecimento dos seus projetos de estudo e de investigação”

Para saber mais:

González, P. (2002) O Movimento da Escola Moderna. Porto: Porto Editora.
Morais, P. (2017). Voltemos à Escola. Lisboa: Contraponto Editores

http://www.escoladaponte.pt/novo/
https://novasrotasblog.wordpress.com/
http://www.movimentoescolamoderna.pt/
https://www.projetoancora.org.br/

Letra a Letra, nº 9, fevereiro de 2020
Nota: a revista Letra a Letra pode ser pedida através do seguinte contacto: jope103@hotmail.com

quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

Cenas da vida escolar


Cenas da vida escolar

Hoje, nas escolas há dois assuntos que estão na ordem do dia: a aposentação e o fim dos chumbos.

A aposentação é o tema preferido para os docentes que estão quase no fim da sua carreira e que quase todos os dias contam o tempo que está a faltar. Além disso, também, quase diariamente, é abordada a esperança da alteração das leis de modo a tornar possível a aposentação mais cedo ou a possibilidade da alteração das condições da pré-reforma de modo a torná-la mais atrativa.

O fim dos chumbos é o outro tema, havendo quem, ainda sem receber qualquer instrução superior sobre o assunto, já esteja a agir de modo a promover o facilitismo que tanto condenam nas supostas intensões dos governantes.

Certo que voltarei ao assunto, abaixo, dou a conhecer um relato que me foi enviado sobre o decorrer de uma aula do ensino secundário.

Quarta-feira, dia 15 de maio de 2019, um docente começa a sua aula e afirma que a mesma será sobre o efeito fotoelétrico e o contributo de Albert Einstein para a sua explicação, acrescentando que antes de fazer uma curta apresentação com recurso a um “powerpoint”, vai passar um pequeno vídeo sobre o assunto.

Um aluno que entrou na sala e pousou a cabeça sobre a mesa, sinal de noite mal dormida ou de má disposição, diz em voz perfeitamente audível por todos os presentes: Estou farto de ouvir brasileiros!

De seguida, baixa a cabeça sobre a mesa e assim fica cerca de 45 minutos, interrompendo alguns momentos de silêncio com gemidos.

Quando, finalmente levantou a cabeça, gemeu, cantarolou, bateu com os dedos na mesa, tentou falar com os colegas, interrompendo o trabalho que estavam a fazer.
Alguns minutos depois, o professor escreveu no quadro a relação entre o eletrão-volt (eV) e o joule (J). A Maria perguntou-lhe o que significava o símbolo eV, o aluno que nada havia feito até ao momento, querendo fazer-se engraçadinho disse: Educação Visual.

A aula prosseguiu e o aluno, voltou a colocar a cabeça sobre a mesa e começou a falar sozinho, num tom de voz que era escutada em toda a sala de aula.

Em seguida, continuando na posição em que estava, fez uma pergunta que o professor não percebeu. Aquele não pediu para o aluno repeti~la, pois em aulas anteriores costumava fazer questões não relacionadas com os conteúdos que estavam a ser trabalhados, como por exemplo quando o docente está a explicar uma lei física ele pergunta se o mesmo gostou do jogo do Sporting ou do Benfica.

Algum tempo depois, o aluno ligou o telemóvel na aula, o que não é permitido pelo Regulamento Interno da Escola, para possivelmente ver as horas. Recorda-se que na aula anterior, o mesmo aluno, depois de várias vezes advertido pelo comportamento inadequado, sem qualquer respeito pelas regras, havia ligado o telemóvel e passado um vídeo com o som muito alto.

Depois, continuando a interromper os outros que estavam a trabalhar, ele que não abriu o caderno e não fez nada durante a aula, disse a um colega: deixa de conversar e faz os exercícios”.

Quase a terminar a aula, alguém no corredor gritou “AOOO”, o aluno tal como um eco repetiu na sala “AOOO”. Este mau comportamento de repetir sons é habitual da parte dele, apesar de ter sido inúmeras vezes advertido para o não fazer. Assim, é habitual ele repetir tudo o que ouve, desde máquinas a funcionar, alunos a gritar no recreio ou até o som emitido pelos pavões existentes numa propriedade próxima da escola.

Hoje, para aquele aluno e para muitos outros. não há qualquer diferença entre uma sala de aula, um quarto de cama ou o recreio.

Teófilo Braga

domingo, 15 de setembro de 2019

quinta-feira, 22 de agosto de 2019

EM MEMÓRIA DE IVAN ILLICH


EM MEMÓRIA DE IVAN ILLICH

No passado dia 2 de Dezembro, com a idade de 76 anos, faleceu, na Alemanha, Ivan Illich, um dos mais notáveis pensadores do século XX. Natural de Viena, Áustria, Illich, que nasceu a 4 de Setembro de 1926 e estudou naquela cidade, em Salzsburgo e em Roma, foi ordenado padre católico, tendo mais tarde abandonado o sacerdócio, líderou uma comunidade próxima de Cuernavaca, no México, e foi professor e investigador universitário.

Na década de 70 do século passado, Ilhich apresentou uma das críticas mais radicais e contundentes à sociedade industrial, apresentando sempre propostas de solução dos problemas criados por essa civilização. Destaque especial nas suas críticas, mereceu a medicina que tendo sido criada para proteger a saúde estava a provocar a doença, o sistema de transportes que em vez de facilitar a mobilidade estava a produzir engarrafamentos e a escola que tendo sido criada para educar estava deseducando.

Hoje, com o sistema educativo em permanente reforma e com o consumismo a ser fomentado por alguns estabelecimentos de ensino, como é o caso da venda de lixo alimentar em algumas escolas, chegando-se ao cúmulo de se publicitar uma bebida dentro de algumas salas de aula, substituindo-se o cruxifixo, dos meus tempos de infância, pela carica de um sumo artificial, as seguintes palavras de Illich não perderam actualidade:
“Nós não podemos iniciar nenhuma reforma educativa se não tivermos compreendido que nem a aprendizagem individual, nem a igualdade social, podem ser melhoradas através do ritual escolar. Não podemos livrar-nos da sociedade de consumo sem termos compreendido antes que a escola oficial obrigatória reproduz exactamente essa sociedade de forma inevitável, seja o que for que se ensine nessa escola”

Da sua vasta obra, recomendamos a leitura dos livros, publicados em Portugal, “Libertar o Futuro” e “ A convivencialidade”. As ideias de Illich, referência ímpar para todos os ecologistas, não morreram a 2 de Dezembro, pelo contrário continuam vivas e actuais.

(Publicado no Açoriano Oriental, 23 de Dezembro de 2002)