quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

A escola para Alberto Pimenta


Antítese nº 1 Dezembro de 1984

sábado, 17 de dezembro de 2016

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

quarta-feira, 7 de dezembro de 2016

Sobre os trabalhos de casa



Sobre os trabalhos de casa

Há quem ache que todas as crianças a frequentar uma escola devem fazer trabalhos de casa, pois estes complementam o que aprendem na escola, e há quem ache que não, pois são uma sobrecarga para as mesmas que já têm um horário muito sobrecarregado durante o dia e que devem ter tempo livre para as suas brincadeiras.

Sobre este assunto têm tomado posição alguns conselhos pedagógicos das escolas, alguns dos quais caindo no erro de deliberar sobre tudo, mesmo sobre assuntos que não são de natureza pedagógica, e, pior do que isso, pretendendo uniformizar tudo, quando o mais sensato seria dar autonomia aos docentes, pois são eles que estão em contato direto com os alunos que são todos diferentes uns dos outros.

Há países que chegam ao extremo de possuir legislação sobre os trabalhos de casa, como a Bélgica. Segundo uma notícia do jornal público, de 2001, as crianças belgas do 1º e 2º ano, entre os seis e os oitos anos, estão proibidas de fazer trabalhos de casa, os do 3º e 4º anos poderão despender no máximo 20 minutos por dia, os do 5º e 6º anos, meia hora e para os restantes “os TPC devem ter uma "cadência razoável" que permita aos estudantes gerir o seu tempo de maneira a que se possam envolver em atividades desportivas e culturais, ou simplesmente, divertir-se”.

Considero que legislar sobre os trabalhos de casa é um exagero que deveria ter sido evitado, pois, para além de ser um sinal de desconfiança nos docentes, trata-se de menosprezar o profissionalismo dos daqueles que são quem conhece as necessidades dos alunos e o que deverá ser feito para ultrapassá-las.

A legislação belga referida, também, determina que os trabalhos de casa não contam para a avaliação dos alunos, evitando-se assim “qualquer tipo de discriminação daqueles que não podem ser ajudados em casa”. Sobre este assunto uma colega minha costuma dizer que embora nada tenha contra os apoios que os pais arranjam para os filhos fora da escola, não é avaliadora destes, de explicadores particulares, nem de centros de explicações.

Em Espanha, muito recentemente realizou-se uma campanha intitulada “Fins de semana sem trabalhos de casa” e penso que ainda está a recolher assinaturas uma petição sobre trabalhos de casa.

Embora não seja radicalmente contra a realização de trabalhos de casa, acho que a maioria dos alunos já tem uma sobrecarga letiva pelo que não podem ser massacrados com trabalhos de casa muitas vezes repetitivos e que só os poderão levar a perder o gosto pelas aprendizagens.

Apesar do referido, considero que os alunos, nos primeiros anos de escolaridade, poderão fazer pontualmente alguns trabalhos de casa de duração muito reduzida e deverão fazer pequenos trabalhos de pesquisa para complementar o que aprenderam nas aulas. Os alunos do ensino secundário, atendendo às exigências do mesmo, não podem descurar o estudo em casa e mesmo sem serem obrigados pelos professores devem fazer exercícios de aplicação dos conhecimentos adquiridos e aprofundar alguns temas abordados nas aulas.

O que não pode acontecer é continuar a situação atual, onde muitas vezes as aulas são demasiadamente expositivas e onde não há espaço para que os alunos realizem trabalho autónomo, sempre sob a orientação do professor, e aprendam a responsabilizar-se pelos trabalhos que devem fazer para serem bem-sucedidos nos seus estudos.

A petição referida, entre outros pontos, menciona que os trabalhos de casa repetitivos e abusivos não contribuem para melhorar o rendimento escolar e afetam de forma negativa a felicidade das crianças e a qualidade de vida das famílias e pede para que os trabalhos de casa sejam racionalizados, de modo a que os mesmos sejam feitos num tempo razoável e de acordo com as idades dos estudantes.

A petição também sugere que os trabalhos de casa devem ser “acordados” entre os diferentes professores de modo a que, conhecedores do tempo de cada um, não se traduzam numa carga excessiva para cada aluno.

Em síntese, estamos perante um conjunto de questões que se resolveriam com bom senso, sem qualquer necessidade de recorrer a petições e legislações, numa escola verdadeiramente do século XXI.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31096, 7 de dezembro de 2016, p. 16)

terça-feira, 29 de novembro de 2016

Do ensino




Do ensino

1- Mudar a rota

Através da comunicação social tomei conhecimento de que um grupo de professores pretende instalar na ilha de São Miguel uma escola inspirada na Escola da Ponte que teve como principal impulsionador o pedagogo José Pacheco.

Desconheço o que terá levado os mencionados professores a pensar numa escola diferente, mas penso que não estarei longe da verdade se disser que as principais causas serão a sua insatisfação relativamente ao funcionamento das nossas escolas e aos métodos de ensino usados, que não despertam qualquer interesse nos alunos já de si desmotivados e que fazem com que muitos deles nada ou muito pouco aprendam.
Ultrapassadas as barreiras burocráticas, considero que o resto será mais fácil, pois como escreveu, recentemente, José Pacheco todos os tratados que visam salvar a educação já estão escritos, só falta “refundar a escola, salvar a educação, sair da zona de conforto”.

Espero que os meus colegas envolvidos no projeto Novas Rotas sejam bem-sucedidos e que pelo menos algumas crianças desta terra tenham a possibilidade de serem educados para e na autonomia.

2- Pregar no deserto

Há turmas, principalmente de alunos mais novos, em que nem uma pequena exposição feita pelo professor é seguida com atenção, havendo mesmo alunos que não são capazes de não se distraírem durante a projeção de um pequeno vídeo de dez minutos.

Vem de longe o combate ao ensino expositivo que não motiva e cansa os alunos e que acaba por ser doloroso para os próprios professores, pois não veem o seu esforço compensado.

Sobre este assunto, já em 1900, o jornal “Estrela Oriental”, num texto não assinado, escreve que o que é preciso fazer é “a educação da inteligência e do coração, o cultivo de todas as faculdades, a formação do homem e do cidadão. Ora tudo isto exige esforço pessoal, cooperação efetiva do discípulo no trabalho do Mestre, incessante colaboração na sua obra, segundo o adágio de um pedagogista moderno: “ o que faz o mestre é pouco, o que faz fazer é tudo…”

Quase todos os dias, ouvimos vários professores desanimados por terem tanto trabalho na preparação das aulas e não obterem os resultados esperados por parte dos alunos. Cada caso é um caso, não sendo possível a generalização, mas se é verdade que há turmas em que há alunos interessados e que conseguiam adquirir os conhecimentos constantes dos conteúdos programáticos, independentemente dos métodos, ativos ou passivos, usados pelos professores, há outras em que se os alunos não forem envolvidos ativamente na aquisição de conhecimentos nada aprenderão.

O jornal referido, acima, relata o caso de um jovem professor que deu uma aula magistral mas que foi um fracasso pois os alunos interrogados sobre a mesma nada souberam responder.

Interessante foi o diálogo entre o professor e o inspetor que havia assistido à aula e que abaixo se transcreve:

“Amigo, acaba de dar uma lição que muito me interessou”- “Ah! Respondeu o outro, dei-a com toda a alma, mas o êxito não correspondeu aos meus esforços: os pequenos ficaram tão ignorantes como estavam; talvez não me tivessem compreendido”. – “E, contudo, eles estiveram atentos ou pelo menos sossegados; verdade é que eu estava aqui; se não fosse isso, talvez se tivessem distraído. O amigo falava, mas eles não diziam nada. Amanhã serei eu que hei-de dar a lição. Em vez de dizer aos discípulos como eles devem fazer, trabalharei com eles, em vez de lhes dizer como e onde se encontram as ideias, eu as buscarei com eles, segundo o conselho de Montaigne: “ Não quero que o mestre seja o único que invente e fale na escola; quero que ouça e faça falar também o discípulo”.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31093 de 30 de novembro de 2016, p. 13)

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

Alunos manifestam-se


Açoriano Oriental, 11 de novembro de 2016

terça-feira, 8 de novembro de 2016

António Sérgio e a Educação



António Sérgio e a Educação

António Sérgio considerava-se um “pegagogista” que pretendia agir na mentalidade “dos que hão-de ensinar à nossa “arraia-miúda” a maneira pacífica de se libertar a si mesma, sem cair na dependência em relação a magnates, a politicões, a tribunos, que são simples instrumentos, mais ou menos conscientes, do bando de argentários que domina a Grei”

Embora a sociedade e a escola de hoje não são as do tempo em que viveu António Sérgio, pensamos que a primeira não deixou de ser “fortemente oligárquica” e a escola de hoje tal como a do passado “não dá cultura”. António Sérgio escreveu: “Falando em geral, o amor das ideias é bem raro aqui. A escola portuguesa não nos inspira esse amor. Muito pelo contrário: só pode incutir-nos o horror às ideias, à leitura, ao estudo”.

António Sérgio distinguia elites de oligarquias. Segundo ele, elite era uma “minoria dos melhores que estrutura uma nação, que a orienta e que a torna orgânica, que a inspira com o objetivo de se tornar dispensável, de preparar o povo para se governar por si próprio; que a norteia, em suma, não para o bem dessa minoria, mas para o benefício de todos nós, dando pois à sociedade muito mais do que dela recebe”. Por outro lado, oligarquia “é a minoria dos graúdos piores, a qual manda num país…para quê? Para sempre o sacrificar aos seus interesses.

Segundo António Sérgio, a Educação ao invés de formar elites estava a formar oligarquias, isto é “gente, pois, que recebe mais (muito mais) do que aquilo que dá”.

Hoje, quando algo corre mal na sociedade a solução encontrada é sempre sobrecarregar as escolas. A juventude toma drogas ilícitas, faz-se uma sensibilização, há muita gravidez na adolescência, toca a impingir educação sexual, há uma crise económica enfia-se um projeto sobre empreendedorismo, pretende-se pintar de verde algumas atividades governamentais e autárquicas, manda-se implementar o projeto eco-escolas, há poucos eleitores a votar, cria-se o orçamento participativo escolar, etc., etc.

Acreditam eles ou fingem acreditar que os males e a salvação estão na escola. Puro engano, que António Sérgio já havida denunciado ao falar na escola portuguesa nos seguintes termos: “A escola exprime a sociedade, dá o que lhe pedem; e ninguém lhe pede educação, mas diplomas – sendo certo, no entanto, que os que pedem diplomas para seus filhos, e só diplomas, foram educados no seu tempo pelas escolas portuguesas”.

A grande ilusão dos decisores é querer resolver os problemas através da escola quando há muita vida para além dela. António Sérgio sobre esta questão disse: “Quanto a mim parece-me que os males de que nos queixamos são fatalíssima consequência da estrutura da sociedade, - e que só portanto terão remédio se nos metermos firmemente a transformar essa estrutura, o que não é possível com pregações, nem com politica de autoritarismo, nem com reformas só pedagógicas, - mas com reformas sociais e pedagógicas concatenadas, entrelaçadas como fios de um tecido único, as quais preparem o nosso povo para o uso razoável da liberdade e para empreender por si mesmo a sua emancipação social-económica”.

Há quem ache que a educação deve servir para adaptar a criança à sociedade em que se vive. António Sérgio acha que não e escreve: “No seu papel de organizadora de atividades, a educação não tem por objeto manter a estrutura da sociedade de hoje; tem por objeto melhorá-la, revoluciona-la”.

Hoje, fala-se muito e pouco se faz em relação à autonomia da escola e dos alunos. António Sérgio também defendia “uma escola do trabalho e da autonomia, do labor profissional e da iniciativa – uma escola útil para a vida”. Segundo ele “Uma carneirada escolar dá uma carneirada administrativa, e um decorador de compêndios, um amanuense; mas se cada escola for uma cidade, um laboratório, uma oficina; se conseguirmos desloca-la do enciclopedismo para a criação – o aluno ao sair irá marcado, terá amoldado o seu espírito à iniciativa produtora e virá a ser para a sociedade uma fonte de progresso”.

Mas, para António Sérgio, a autonomia não podia ser só para e na escola. Com efeito, António Sérgio considerava que a mesma devia ser uma meta de toda a sociedade, como se pode concluir da leitura seguinte extrato: “Quanto a mim, actuo a favor do ideal democrático, é certo; mas repetindo mil vezes a afirmação do Proudhon: “democracia é demopedia, democracia é educação do povo”. É treino do operário para se governar a si mesmo através das cooperativas e dos sindicatos, da estrutura do município e da província (associação de municípios), sem necessidade de chefes ou de mandões…”

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31076, 9 de novembro de 2016, p.11)

terça-feira, 1 de novembro de 2016

Flexibilização Curricular

terça-feira, 25 de outubro de 2016

A propósito da leitura de duas conferências da pedagoga Maria Borges Medeiros



A propósito da leitura de duas conferências da pedagoga Maria Borges Medeiros

Nas minhas pesquisas sobre o Movimento da Escola Moderna tomei conhecimento de que uma das dinamizadoras das técnicas de Freinet, em Portugal, foi Maria Amália Borges de Medeiros Gutierrez (Maria Borges Medeiros).

Maria Borges Medeiros, entre outras formações, licenciou-se em Letras, pela Universidade de Lisboa e obteve o certificado de ensino especial de deficientes no Instituto Aurélio da Costa Ferreira. Lecionou na Faculdade de Ciências da Educação da Universidade de Montreal, no Canadá, foi professora do ensino secundário e fundou, com João dos Santos e Henrique Moutinho, o Centro Infantil Helen Keller, tendo sido a primeira diretora do mesmo, durante aproximadamente oito anos.

Insatisfeita com várias experiências de ensino com crianças, adolescentes e adultos e inquieta pelo facto dos resultados serem “como uma espécie de condicionamento e não armavam a criança ou o jovem para a conquista da sua própria vida com as suas próprias mãos”, não desistiu e terá encontrado “um pouco de luz” ao descobrir Célestin Freinet quando trabalhava na classe de amblíopes da Liga Portuguesa de Profilaxia da Cegueira.

Depois de descobrir Freinet, entre as ideias que passaram a ter significado para Maria Borges Medeiros, destaco as seguintes:

“… A criança gosta de trabalhar e trabalha com afinco quando o trabalho resolve um problema que é seu. O centro do interesse é a vida da criança que penetra na escola, não é uma construção arbitrária do professor. A cooperativa escolar é dirigida pelos alunos e o sentido das responsabilidades assim estimulado dignifica e motiva a criança”.

Em duas conferências proferidas em Lisboa, em 1968, a convite da Fundação Calouste Gulbenkian, publicadas em 1970, pelo Centro de Investigação Pedagógica daquela fundação, com o título “O Papel e a formação dos Professores”, Maria Borges Medeiros apresentou um pouco do seu pensamento que achei por bem partilhar com os leitores do Correio dos Açores, especialmente os interessados nas questões relacionadas com o ensino e a educação.

Um dos ensinamentos que se pode tirar das conferências mencionadas é o de que mais importante do que as técnicas usadas é “viver e compreender pela ação o espírito da escola ativa”, já que o docente pode muito bem conhecer e aplicar uma técnica Freinet ou outra qualquer e continuar a utilizá-la “num contexto tradicional baseado na passividade do aluno”.

Uma questão que me preocupa é a de que para tornar mais atrativo o ensino, alguns docentes recorrem ao meio onde se inserem as suas escolas e transportam para esta exemplos do dia-a-dia, por vezes tradições, que como tal têm aspetos positivos e outros condenáveis à luz dos conhecimentos de hoje e da evolução civilizacional.

Maria Borges de Medeiros, referindo-se ao Canadá, dizia que lá se discutia a noção de adaptação. Segundo ela, a “educação deve adaptar; mas adaptar em que sentido? Adaptar, transformando o indivíduo num ser passivo que se submete? Ou adaptar no sentido de criar, formar um ser maleável, capaz de evoluir e de se integrar num mundo que se transforma?”

Outra questão que se põe é a do professor abdicar da sua função e aceitar alguns caprichos dos alunos para os agradar. Sobre o conceito de aceitação, Maria Borges Medeiros escreve que “muitos confundem aceitação com resignação”. Segundo ela, “aceitação é um conceito dinâmico que descreve uma atitude de abertura de espírito, de esforço no sentido de considerar empaticamente o ponto de vista do outro” e acrescenta: “trata-se de permitir que o outro explore, num clima livre de juízos de valor e de ameaças, o significado que para ele tem a nova experiência ou o novo conhecimento; aceitar é educar, isto é, permitir que o outro evolua, se modifique e cresça”.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31065, 26 de outubro de 2016, p.16)

quarta-feira, 13 de julho de 2016

António Sérgio e a autonomia nas escolas


António Sérgio e a autonomia nas escolas


Um dos últimos textos publicados neste jornal foi dedicado ao pedagogo António Sérgio que tal como Álvaro Viana de Lemos, Adolfo Lima e Faria de Vasconcelos foi um dos pilares da Educação Nova no nosso país.

Neste texto, numa primeira parte faremos menção a algumas medidas tomadas por António Sérgio enquanto ministro e depois abordaremos, muito superficialmente, algumas das suas ideias sobre a escola e o ensino.

Apesar de algumas ideias geniais que, ainda hoje, com as devidas adaptações mantêm atualidade, foram integradas ou são seguidas por algumas correntes ou experiências pedagógicas, algumas medidas implementadas ou propostas por António Sérgio, na sua qualidade de ministro, foram fortemente contestadas pelos professores.

De entre as medidas que ele tomou, destacamos a extinção das escolas primárias superiores que sofreu forte contestação pelos professores daqueles estabelecimentos de ensino que se sentiram ofendidos e que o atacaram, usando, mesmo, argumentos que ponham em causa a sua pessoa. A exemplificar o referido, abaixo apresenta-se um extrato de um editorial do jornal “O Ensino do Povo”, transcrito por António Nóvoa, num texto publicado no número 3 da revista Portuguesa de Educação, editada, em 1988, pela Universidade do Minho:

“Até hoje, e já lá vai um ano e tanto, ainda o sr. Sérgio da Seara Nova se não lembrou de provar a acusação com que prendeu manchar uma classe inteira. Isto, quanto à competência científica. Quanto à competência moral, já ninguém ignora que, por ocasião do advento da República, sendo S. Exª oficial da marinha, pediu a demissão desse cargo para não servir o novo regímen. Contudo não lhe causou engulhos exercer, na mesma República, o cargo de ministro, alguns anos depois”.

Outra medida tentada por mais de uma vez durante a Primeira República foi a da descentralização do ensino. Tal como as tentativas anteriores, a de António Sérgio foi fortemente criticada, segundo António Nóvoa, porque os professores não queriam por um lado ser empregados camarários e por outro receavam “receber ordens de quem sabe menos”.

Hoje, qualquer tentativa de passar a gestão do pessoal docente para as autarquias seria fortemente repudiada pelos professores e quase de certeza pelos mesmos motivos.

António Sérgio distingue claramente instrução e educação, tendo afirmado que “ler, escrever e contar são instrumentos de cultura, mas não a própria cultura”. Segundo, Carlos Fino, num texto intitulado António Sérgio e o self government” publicado, em 1997, na revista “Arquipélago –Perspectivas e Debates”, para António Sérgio “educação consiste em formação, e firmeza crescente no saber fazer e no saber procurar”.

António Sérgio defendeu uma escola muito diferente das tradicionais, onde deveriam acabar os métodos passivos de ensinar e onde os alunos, à medida que fossem avançando na sua escolaridade, fossem assumindo cada vez maiores responsabilidades através da participação na direção da vida escolar.

Qual seria, então o papel do professor?

Para Sérgio “o professor ensinará pois os estudantes a governarem-se a si mesmos, criando leis justas e sensatas e sobretudo executando-as e fazendo-as executar”.

Segundo Carlos Fino, o papel do professor na escola idealizada por António Sérgio seria: “a) dirigir idoneamente as operações; b) elidir as suas falhas; c) consagrar tempo, atenção e interesse verdadeiro ao projeto educativo e d) assegurar que os alunos cidadãos tenham a maior responsabilidade possível para que tirem da autonomia que se lhes dá o maior valor educativo”.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30983, 13 de julho de 2016, p. 13)

terça-feira, 5 de julho de 2016

quarta-feira, 29 de junho de 2016

Alice Moderno e a Educação


ALICE MODERNO E A EDUCAÇÃO - 1

“A verdade é que somos todos iguais. Iguais no nascimento, pelo sofrimento, e perante a morte. O que desnivela os homens é unicamente, mas cumpre dizê-lo inexoravelmente, a diferença de educações. Instruí-vos, educai-vos, e colocar-vos-eis a par dos primeiros entre os vossos semelhantes.”

Sendo o pai de Alice Moderno uma pessoa instável que nunca parava num local, decide, em 1987, sair de Ponta Delgada, primeiro para a Achada de Nordeste, depois para os Fenais da Ajuda e mais tarde para a Lagoa. Alice Moderno, que não se entendia com o pai, decide ficar em Ponta Delgada e para subsistir dá explicações

Segundo a Professora Maria da Conceição Vilhena, a atividade docente, nos primeiros anos, ocupava os dias de Alice Moderno, trabalhando esta de 8 a 14 horas diárias. A docência foi exercida por Alice Moderno durante muitos anos, tendo mais tarde sido substituída por outras, como o comércio, a tipografia, os seguros, etc.

Em 1892, Alice Moderno era um dos oito professores de instrução secundária inscritos na matriz da contribuição industrial de Ponta Delgada.

Em 1907, Alice Moderno dava explicações na Rua do Castilho nº1 como prova o seguinte anúncio publicado a 17 de fevereiro no jornal A Folha: “Alice Moderno leciona instrução primária e línguas portuguesa e francesa”. Sabe-se que também lecionou geografia.

Alice Moderno, para além de professora particular, foi nomeada regente da Escola Móvel de Ponta Delgada, tendo, no dia 15 de outubro de 1913, proferido a alocução inaugural. No seu discurso Alice Moderno elogiou o regime republicano por “procurar extinguir, no feracíssimo solo lusitano, as flores nefastas da ignorância e da superstição” que infelizmente continuam a proliferar nos nossos dias”.

Na ocasião, o jornal República denunciou várias irregularidades no funcionamento das escolas móveis, sendo uma delas o facto de alguns professores das mesmas não terem habilitações.

As escolas móveis que foram criadas pela República para combater o analfabetismo foram contestadas porque limitaram as aprendizagens à alfabetização e porque, segundo António da Nóvoa, davam prioridade nas contratações dos professores aos “amigos republicanos”.

Contra as escolas móveis ergueram a sua voz, a nível nacional, alguns pedagogos portugueses como Álvaro Viena de Lemos (1881-1972), divulgador em Portugal da obra do pedagogo francês Freinet, que escreveu o seguinte: “Vem o Estado republicano. Cria também umas escolas móveis. Mas sob o pretexto, que facilmente colhe na ocasião, da necessidade da propaganda republicana e defesa das instituições, a nomeação dos respetivos professores faz-se, com raras exceções, entre os compadres e bons republicanos com melhores serviços revolucionários”.

Por cá, Alice Moderno, no jornal A Folha, de 26 de outubro de 1913, desmontou as várias acusações de que era alvo nos seguintes termos:”…na parte que me diz respeito uma completa falsidade, atendendo a que sou professora diplomada e me encontro inscrita no Liceu de Ponta Delgada como professora de ensino secundário, existindo na secretaria do mesmo estabelecimento de instrução, numerosos documentos comprovativos não só das minhas habilitações oficiais, mas ainda do trabalho produzido como professora de instrução primária (admissão ao curso dos liceus) e materiais de ensino secundário, na qualidade de professora do mesmo ensino”.

Na próxima semana voltarei ao assunto.


Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30971, 29 de junho de 2016, p.18)

domingo, 19 de junho de 2016

Ser professor


Açores, 18 de junho de 2016

quarta-feira, 15 de junho de 2016

António Sérgio, o pedagogo


António Sérgio, o pedagogo

“Só voltarei naturalmente a assentar arraiais em Portugal quando me puder ir dedicar à minha revolução que é, como sabe a revolução pedagógica” (António Sérgio, 1914)

Sempre que alguém mencionava o nome de António Sérgio associávamos ao movimento cooperativista que teve a seguir ao 25 de Abril de 1974 uma grande expansão, pois antes daquela data o mesmo não era incentivado, havendo casos de muitas cooperativas que viram as suas portas encerradas pelo Estado Novo.

Só muito recentemente, na sequência de pesquisas que temos efetuado relacionadas com o Movimento da Escola Moderna, nomeadamente sobre a influência de pedagogos portugueses naquele movimento, que começou por ser inspirado pelas ideias do pedagogo francês Célestin Freinet, descobrimos que António Sérgio não foi apenas um dos principais ideólogos do cooperativismo, mas também um dos mais influentes políticos, de tendência socialista (não marxista), ensaístas e pedagogos portugueses do século XX.

António Sérgio de Sousa, natural de Damão, onde nasceu em 1883, foi na Primeira República ministro da Instrução do governo liderado por Álvaro de Castro, tendo permanecido no cargo apenas de Dezembro de 1923 a Fevereiro de 1924.

António Sérgio foi um dos intelectuais portugueses que não aceitou a chegada ao poder de Salazar, tendo, depois de ter chegado à conclusão de que o regime não era capaz de se liberalizar, defendido a sua substituição através de um golpe militar.

Antes de falecer, em Lisboa no ano de 1969, António Sérgio esteve no exílio, foi preso em 1933, 1935, 1948 e 1958, viu alguns dos seus livros serem apreendidos e foi alvo de ataques e calúnias diversas.

Antes de apresentarmos alguns excertos do autor que ilustram o seu pensamento sobre a educação e o ensino, acrescentamos que, segundo Irene Pimentel, António Sérgio divulgou em Portugal o método Montessori, criou o ensino para deficientes e o cinema educativo.

Sobre a escola do seu tempo, que não será muito diferente da de hoje, no Dicionário de Educadores Portugueses dirigido por António da Nóvoa, podemos ler a seguinte citação de António Sérgio:

“A escola, até hoje, tem sido um acervo de coisas maléficas, de tratos diabólicos, de prescrições tirânicas: e já é importantíssima reforma a simples anulação das coisas más. Grande programa: não fazer mal! A imobilidade nas aulas, os estudos sem gosto, os rígidos programas, a apreensão passiva, as angústias dos exames, etc., etc., produzem transtornos de muita espécie. Estabeleçamos a comparação: em um dos pratos da balança – os muito contestáveis benefícios que tudo isso pode trazer, no outro -, os danos sabidos que com certeza traz…, Ah, imenso programa: liberdade ao aluno; não fazer mal”.

Em relação à escola desejada, António Sérgio, segundo a fonte que citámos defende que a mesma deve ter duas divisas: autonomia e trabalho. Assim, para ele “dois grandes objetivos incumbem à escola do futuro: um deles, a anulação progressiva dos antagonismos sociais, e a instauração da sociedade justa, pela Escola Única do Trabalho; o outro a realização da Liberdade na vida da gente adulta, pela educação das crianças no regime da Liberdade”.

No que diz respeito à autonomia, António Sérgio é claro ao escrever que a mesma tanto na sociedade exterior como na escola “não pode ser-nos presenteada pelos governantes; tem de ser conquistada pelos governados, pacientemente, todos os dias”.

Por último, uma referência à Educação Cívica. O autor da biografia que vimos citando refere que na defesa da autonomia por António Sérgio está subjacente a ideia de que “ a autonomia e a educação cívica aprendem-se praticando, e não através de um qualquer ensino ou disciplina”. Precisamente o contrário do que se faz hoje!

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30959, 15 de junho de 2016, p.16)

quinta-feira, 5 de maio de 2016

Ainda o Movimento da Escola Moderna


Ainda o Movimento da Escola Moderna

Acabei de ler o livro de Pedro Francisco González, professor da Universidade dos Açores, “O Movimento da Escola Moderna. Um percurso cooperativo na construção da profissão docente e no desenvolvimento da pedagogia escolar”, cuja leitura recomendo a todos os interessados nas questões do ensino e da educação.
O livro mencionado, resultado da tese de doutoramento do autor apresentada na Faculdade de Educação da Universidade de Salamanca, “pretende mostrar a dimensão humana e pessoal de um movimento pedagógico contemporâneo, ao mesmo tempo que apresenta os fundamentos e caraterísticas que sustentam a sua proposta pedagógica”.
Insatisfeito com o estado da educação e com a minha própria prestação profissional, busco constantemente encontrar pistas para me motivar e para motivar os alunos para, por um lado, adquirirem todos os conhecimentos que os programas estabelecem e para, por outro lado, satisfazerem as suas curiosidades que vão muito para além do que o Ministério exige.
Assim, a leitura deste livro, tal como a minha participação nos sábados pedagógicos promovidos pelo MEM- Movimento da Escola Moderna, em Ponta Delgada, têm-me feito refletir sobre o que é possível fazer para termos uma escola melhor, sem esquecer que esta só é possível se também tivermos uma sociedade melhor.
Várias são as razões que levam as pessoas a aproximar-se e a aderir ao MEM. Se algumas pessoas são atraídas, pelo menos numa primeira fase, pelas técnicas ou instrumentos usados no movimento, outras participam no MEM pois consideram que nele “poderão satisfazer a necessidade de intervenção social e realizar-se como cidadãos”.
O grupo de pessoas que participou no estudo efetuado por Pedro González, membros do MEM, valoriza a “coerência entre a sua vida pessoal e profissional” e acredita “firmemente que os objetivos para conquistar e afiançar a liberdade e para construir, consolidar e aperfeiçoar a democracia se conseguem, também e numa parte significativa, através da escola”.
Para o MEM o processo educativo está centrado no aluno, enquanto membro de um grupo e a educação deve incidir sobre as dimensões pessoal e social dos indivíduos.
De acordo com Sérgio Niza, citado por Pedro González, o processo pedagógico que é defendido pelo MEM apresenta as seguintes dimensões:
-Funcional- o interesse do aluno é o ponto de partida para toda a atividade que se deseja realizar;
- Instrumentalista- há unidade da perceção, da ação e da fala no desenvolvimento da criança;
- Aspetos de organização e dimensão institucional – a turma e a escola devem ter uma organização que seja coerente com as finalidades propostas no âmbito social. Por outras palavras, defende-se “uma organização cooperativa do trabalho, com um carácter, ou melhor, com uma tendência para a autogestão.
Através da leitura do livro, para além de ficarmos a conhecer melhor a organização do movimento, fica-se a saber que o MEM não se inspirou apenas no pedagogo francês Freinet, mas também em outros como Vigotsky, psicólogo bielorusso que defendia que “o desenvolvimento intelectual das crianças ocorre em função das interações sociais e condições de vida” e que a “função do professor é a organização social das aprendizagens”.
Em relação a figuras portuguesas que influenciaram a construção do movimento, para além da “liderança exercida do ponto de vista axiológico” por parte do professor Sérgio Niza, há a registar, entre outros, o pedagogo Rui Grácio, que “defendia que a qualidade da docência não era independente do estatuto profissional dos professores, nem das suas possibilidades de participação no processo educativo” e António Sérgio, político e pedagogo, muito influenciado pelo socialismo de Proudhon, que defendia que o ensino “destinava-se a preparar o cidadão, a aperfeiçoar o agricultor e a educar para a liberdade e para a cooperação”.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30926, 5 de maio de 2016, p.12)

terça-feira, 12 de abril de 2016

Governo sem tino


Que competências tem uma associação de empresários para avaliar escolas?

quinta-feira, 24 de março de 2016

Carta à Presidente do Conselho Executivo da Escola BI de Angra do Heroísmo


Exma. Senhora

Dr.ª Nélia Rebelo
Presidente do Conselho Executivo
da Escola Básica Integrada de Angra do Heroísmo

c/c à senhora Diretora Regional da Educação, ao senhor Secretário Regional da Educação e Cultura e ao senhor Presidente do Governo Regional dos Açores

Recebi na minha caixa de correio um apelo para que enviasse, a V. Exª, um e-mail a contestar a integração de uma conferência intitulada a “A importância da festa Brava na ilha Terceira” no programa da XIV Semana da Ciência, promovida pelo Departamento de Ciências da EBI de Angra do Heroísmo.

Embora esteja convencido de que se tratará de uma perda de tempo da minha parte já que a mesma terá tido a concordância do Conselho Pedagógico da Escola e da prórpia Secretaria Regional da Educação que era uma das entidades que terá estado presente na sessão de abertura da referida semana, venho manifestar a minha estranheza e indignação pela presença de uma conhecida ganadeira que como todos sabemos aluga e vende touros para touradas à corda e de praça.

O conhecido pedagogo francês Freinet, sobre a educação escreveu que o principal fim “é o crescimento pessoal e social do indivíduo, elevar a criança a um máximo de humanidade preparando-a a não apenas para a sociedade atual, mas para uma sociedade melhor, fazendo-a avançar o mais possível em conhecimento num constante desabrochar”.

Pode Vossa excelência não concordar com as ideias e com a pedagogia de Freinet, mas acho que qualquer pessoa de bom senso pode rever-se no fim enunciado. Assim sendo, gostaria que Vossa Exª refletisse sobre que contributo poderá dar a referida conferência para o conhecimento científico das crianças, como pode a divulgação e banalização da tortura mais ou menos suave contribuir para a formação pessoal de uma criança e, por último, como pode a mesma contribuir para a formação de pessoas mais humanas numa sociedade futura que queremos melhor, isto é onde haja respeito por todos os seres vivos que com os humanos partilham a vida na terra.
Com os melhores cumprimentos

Teófilo José Soares de Braga

quarta-feira, 23 de março de 2016

À Procura do Movimento da Escola Moderna


À Procura do Movimento da Escola Moderna

Nos primeiros anos após a minha profissionalização como professor de Física e de Química, que ocorreu, em 1979, com a conclusão do meu estágio pedagógico na Escola Secundária Domingos Rebelo, procurei sempre atualizar-me no que diz respeito à componente científica da profissão, bem como ler tudo o que se publicava sobre as diferentes correntes da pedagogia.

Para além da leitura de textos de vários pedagogos, procurei saber que movimentos pedagógicos existiam em Portugal, o que faziam e se havia alguma delegação ou alguém nos Açores integrado nalgum deles.

A minha tentativa de contatar com alguém do (MEM) Movimento da Escola Moderna só se concretizou trinta anos depois, com a chegada a São Miguel de um “braço” do Núcleo Regional dos Açores, que tem promovido sessões de formação sobre a pedagogia do MEM, aberta a todos os docentes interessados, na Escola Secundária das Laranjeiras.

Para além de participar nas diversas sessões de formação, estou a reler toda a bibliografia que tinha sobre o MEM, nomeadamente sobre as suas origens tanto em França e como noutros países, bem como em Portugal, onde já identifiquei uma colega que fez parte do movimento ainda durante a ditadura do Estado Novo.

Neste texto, procurarei dar a conhecer um pouco sobre o fundador do Movimento, o educador francês Célestin Freinet (1896-1966) que, segundo Roger Gilbert, foi “um homem livre que, em presença duma situação social que não aprova, a tudo recorre para a transformar”.

Célestin Freinet teve uma vida muito atribulada. Com efeito, antes de cursar o magistério foi pastor, combateu na primeira guerra mundial, tendo os seus pulmões sido afetados para o resto da vida, foi preso aquando da segunda guerra mundial e enviado para um campo de concentração alemão, depois de libertado juntou-se à resistência francesa e combateu o nazismo.

Em 1925 filiou-se no Partido Comunista Francês, tendo-se desligado do mesmo na década de 1950 após ter sido acusado por quele de “pensador burguês” por ter colaborado com o governo após o fim da segunda guerra mundial.

No que diz respeito ao ensino, em 1920, foi colocado como professor adjunto numa aldeia onde começou a “ensinar por meios diferentes da lição tradicional”, mais tarde em 1927, fundou a Cooperativa do Ensino Laico que tinha por principal objetivo “fabricar e editar material que seja útil à nossa escolha pedagógica” pois as editoras não se interessavam por editar materiais provenientes de um “pequeno professor primário” que fazia “afirmações inquietantes e pretende regenerar a escola e os educadores”

Em 1933, estando a lecionar em Saint-Paul de Vence, a comunidade local conservadora não aceitou as inovações por ele introduzidas tendo conseguido que fosse exonerado. Freinet não baixou os braços e dois anos depois criou a sua própria escola

Em 1956, liderou uma campanha, que acabou por sair vitoriosa, a exigir o número máximo de 25 alunos por turma.

Em Portugal, resultado da correspondência trocada entre Freinet e Álvaro Viana de Lemos, este no final da década de 20 do século passado introduziu algumas técnicas Freinet na Escola Normal de Coimbra.

Mais tarde, em 1965, surgiu o MEM, a partir de um grupo de trabalho criado no Sindicato Nacional dos Professores que com todas as cautelas, por causa da ditadura, decidiu aderir à FINEM- Federação Internacional dos Movimentos da Escola Moderna, organização criada em 1957.

Ainda sobre os primeiros tempos do MEM em Portugal, no livro “A Pedagogia de Freinet por aqueles que a praticam”, editado em 1976, pela Moraes Editores, pode ler-se uma entrevista a uma das dinamizadoras de uma escola Freinet, situada nos arredores de Lisboa, que funcionou antes de 1974 quase na semiclandestinidade e onde “por ocasião das inspeções era preciso esconder os jornais escolares e fechar à chave o compartimento onde se encontravam as imprensas escolares”.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30892, 23 de março de 2016, p.13)

Imagem: https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEimjZ5_CRQ8g_kYzt5bIeX68E59A605KQjThUErKEo9_0MyWM03htaECyFpoUCLku-Gqp6RvEvjngHodMrxjVUBh8_zRmEjOJfGp2cX9_7QP5sS47b_MNixLA1XMD171PfxHdyunKSD-8o/s1600/Imagem1+freinet+2.png

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

A Pedagogia Libertária de Tolstoi

A Pedagogia Libertária de Tolstoi Penso que só a liberdade total, ou seja, a ausência de coerção, ou de vantagens tanto para os que são ensinados como para os que ensinam, libertaria as pessoas de um grande número de males que origina agora a instrução coercitiva e egoísta aceite em todo o lado… (Tolstoi) Tendo como fim estimular a autonomia dos alunos e a participação de todos no processo educativo, a pedagogia libertária tem, de acordo com alguns autores, três princípios básicos: o antiautoritarismo, a educação integral e a autogestão pedagógica. No que diz respeito ao antiautoritarismo, há correntes pedagógicas que excluem qualquer tipo de autoridade exercida sobre os educandos e há outras que consideram que os educadores, inevitavelmente, exercem sobe os educandos uma autoridade moral. Em relação à educação integral, para além de estar associada à igualdade de oportunidades para todos, exige-se que o trabalho manual seja tão valorizado como o intelectual. Por último, em relação à autogestão pedagógica, defende-se que os espaços educativos/escolas devem ser autónomos, sendo dirigidos pelas pessoas que deles fazem parte. De entre os difusores das pedagogias libertárias estão pensadores como Proudhon, Freinet, Ferrer e Guardia, Tolstoi e Alexander Sutherland Neill. Neste texto, apenas fazermos referência a algumas ideias defendidas por Tolstoi, um dos maiores escritores de todos os tempos, cuja obra no campo do ensino e da educação das crianças é quase desconhecida. Tolstoi que nunca reivindicou a sua adesão ao anarquismo, pelo seu pensamento em relação à escola e não só, foi integrado por alguns autores na corrente libertária, tendo segundo outros sido “precursor do que se entende por anarquismo cristão”. Segundo Gustavo Ramus, “Os seguidores dessa vertente defendem o cristianismo primitivo e as primeiras comunidades cristãs, que viviam de forma alheia ao Estado romano, realizando o princípio da ajuda mútua. Avessos à constituição de propriedade, praticavam a divisão de bens e o alimento compartilhado”. Tolstoi dedicou uma parte importante da sua vida ao ensino, tendo aos 19 anos criado uma escola para camponeses na sua aldeia natal que durou pouco tempo. Contudo, retomou a iniciativa em 1859, aos 31 anos, e prosseguiu a sua atividade pedagógica até ao fim da vida. Tolstoi não acreditava na instrução proporcionada pelos governos. Segundo ele, “a força do governo repousa na ignorância do povo; o governo sabe disso; assim, ele será sempre um adversário da instrução” e acrescentou” nada de mais nocivo do que permitir ao governo simular disseminar a instrução, quando de facto, propaga a ignorância”. De acordo com Lipiansky, Tolstoi não aceita a “instrução oficial por impor um modelo pré-estabelecido, por fundamentar-se sobre um saber absoluto que escapa a toda a crítica, por negligenciar totalmente as necessidades do povo e, em definitivo, por trabalhar “para as necessidades do governo e das classes superiores””. Ainda segundo o mesmo autor, para Tolstoi o único critério da pedagogia é a liberdade e o único método é a experiência.. Por último, Tolstoi dava grande importância ao trabalho manual. Numa carta dirigida a Romain Rolland, escrita em outubro de 1887, sobre o assunto escreveu: “Na nossa sociedade viciada (na chamada sociedade civilizada) tem de se falar antes de tudo do trabalho manual, porque a falta principal da nossa sociedade foi e continua a ser hoje o desejo de se libertar do trabalho manual e de utilizar, sem o intercâmbio mútuo, o trabalho das classes pobres, ignorantes e deserdadas”. Teófilo Braga (Correio dos Açores, 30856, 10 de fevereiro de 2016, p.13)

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016