quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

Cenas da vida escolar


Cenas da vida escolar

Hoje, nas escolas há dois assuntos que estão na ordem do dia: a aposentação e o fim dos chumbos.

A aposentação é o tema preferido para os docentes que estão quase no fim da sua carreira e que quase todos os dias contam o tempo que está a faltar. Além disso, também, quase diariamente, é abordada a esperança da alteração das leis de modo a tornar possível a aposentação mais cedo ou a possibilidade da alteração das condições da pré-reforma de modo a torná-la mais atrativa.

O fim dos chumbos é o outro tema, havendo quem, ainda sem receber qualquer instrução superior sobre o assunto, já esteja a agir de modo a promover o facilitismo que tanto condenam nas supostas intensões dos governantes.

Certo que voltarei ao assunto, abaixo, dou a conhecer um relato que me foi enviado sobre o decorrer de uma aula do ensino secundário.

Quarta-feira, dia 15 de maio de 2019, um docente começa a sua aula e afirma que a mesma será sobre o efeito fotoelétrico e o contributo de Albert Einstein para a sua explicação, acrescentando que antes de fazer uma curta apresentação com recurso a um “powerpoint”, vai passar um pequeno vídeo sobre o assunto.

Um aluno que entrou na sala e pousou a cabeça sobre a mesa, sinal de noite mal dormida ou de má disposição, diz em voz perfeitamente audível por todos os presentes: Estou farto de ouvir brasileiros!

De seguida, baixa a cabeça sobre a mesa e assim fica cerca de 45 minutos, interrompendo alguns momentos de silêncio com gemidos.

Quando, finalmente levantou a cabeça, gemeu, cantarolou, bateu com os dedos na mesa, tentou falar com os colegas, interrompendo o trabalho que estavam a fazer.
Alguns minutos depois, o professor escreveu no quadro a relação entre o eletrão-volt (eV) e o joule (J). A Maria perguntou-lhe o que significava o símbolo eV, o aluno que nada havia feito até ao momento, querendo fazer-se engraçadinho disse: Educação Visual.

A aula prosseguiu e o aluno, voltou a colocar a cabeça sobre a mesa e começou a falar sozinho, num tom de voz que era escutada em toda a sala de aula.

Em seguida, continuando na posição em que estava, fez uma pergunta que o professor não percebeu. Aquele não pediu para o aluno repeti~la, pois em aulas anteriores costumava fazer questões não relacionadas com os conteúdos que estavam a ser trabalhados, como por exemplo quando o docente está a explicar uma lei física ele pergunta se o mesmo gostou do jogo do Sporting ou do Benfica.

Algum tempo depois, o aluno ligou o telemóvel na aula, o que não é permitido pelo Regulamento Interno da Escola, para possivelmente ver as horas. Recorda-se que na aula anterior, o mesmo aluno, depois de várias vezes advertido pelo comportamento inadequado, sem qualquer respeito pelas regras, havia ligado o telemóvel e passado um vídeo com o som muito alto.

Depois, continuando a interromper os outros que estavam a trabalhar, ele que não abriu o caderno e não fez nada durante a aula, disse a um colega: deixa de conversar e faz os exercícios”.

Quase a terminar a aula, alguém no corredor gritou “AOOO”, o aluno tal como um eco repetiu na sala “AOOO”. Este mau comportamento de repetir sons é habitual da parte dele, apesar de ter sido inúmeras vezes advertido para o não fazer. Assim, é habitual ele repetir tudo o que ouve, desde máquinas a funcionar, alunos a gritar no recreio ou até o som emitido pelos pavões existentes numa propriedade próxima da escola.

Hoje, para aquele aluno e para muitos outros. não há qualquer diferença entre uma sala de aula, um quarto de cama ou o recreio.

Teófilo Braga