terça-feira, 7 de novembro de 2017
O Pedagogo Adolfo Lima
O Pedagogo Adolfo Lima
Quando se fala no Movimento da Escola Moderna há nomes que é obrigatório referir pelo seu contributo para a filosofia daquela organização portuguesa de autoformação cooperada de professores.
Sérgio Niza, o nome mais conhecido e o líder daquele movimento, num texto publicado, em 2001, na revista “Escola Moderna”, recorda os nomes dos franceses Célestin Freinet e Barthélemy Profit, dos norte-americanos John Dewey e Jerome Bruner e do russo Liev Vygostky. Relativamente aos portugueses, Sérgio Niza destaca os nomes de António Sérgio, já mencionado em textos anteriores que publicamos no Correio dos Açores, e de Adolfo Lima, que daremos a conhecer no texto de hoje.
Adolfo Godfroy de Abreu e Lima, nasceu em Lisboa no dia 28 de maio de 1874 e faleceu, com 69 anos de idade, na mesma cidade a 27 de novembro de 1943. Filho de família abastada pertencente à nobreza, segundo Alexandre Vieira no seu livro “Figuras Gradas do Movimento Social Português, “poderia ter usado, após o desaparecimento do seu progenitor, o título de conde, que lhe pertencia, mas que não quis adoptar, do mesmo passo que abandonou todas as honrarias e proveitos, preferindo fazer uma vida apagada, mas plena de trabalho fecundo”.
Adolfo Lima que foi Bacharel em Direito pela Universidade de Coimbra, tendo exercido advocacia entre 1902 e 1910, abandonou a sua profissão para se dedicar ao ensino, segundo Alexandre Vieira, porque “capacitara-se de que estivera deslocado, até então, do ponto de vista profissional”. O historiador, arquivista e escritor Edgar Rodrigues, numa nota biográfica corrobora as afirmações anteriores quando afirma que: “Os seus sentimentos incompatibilizaram-no com a sua profissão e foi ser professor de Sociologia no Curso Livre de Arte de Representar na Associação de Classe dos Artistas Dramáticos”.
Não sendo operário, Adolfo Lima dedicou grande parte da sua vida á luta pela emancipação dos trabalhadores, tendo colaborado com as suas organizações sindicais, como a Comissão Executiva do Congresso Sindicalista, a União Operária Nacional e a Confederação Geral do Trabalho, tendo sido ele, segundo Edgar Rodrigues, o autor da tese Organização Social Sindicalista, apresentada no Congresso da Covilhã, realizado em 1922.
Na área da educação, Adolfo Lima foi professor do ensino particular em diversos estabelecimentos de ensino, lecionou no Liceu Pedro Nunes, de 1911 a 1923, na Escola Normal Primária de Lisboa onde foi responsável pela disciplina de Metodologia, criou e dirigiu a Escola-Oficina nº 1, foi chefe dos Serviços Escolares da Sociedade A Voz do Operário, colaborou com a Universidade Popular Portuguesa e foi dirigente da Sociedade de Estudos Pedagógicos e da Liga de Ação Educativa.
Para além de ter colaborado em diversas revistas e jornais de orientação libertária, traduziu várias obras de autores famosos, como a “Verdade”, de Emílio Zola, e “A Luta Univeral”, de Dante. Das diversas obras da sua autoria, destacamos a “Pedagogia Sociológica: princípios de pedagogia e plano de uma organização geral de educação”, em dois volumes, publicada em 1936. Ainda na área do ensino, Adolfo Lima fundou a revista Educação Social e a Enciclopédia Pedagógica Progredir.
De acordo com Edgar Rodrigues, “a sua actividade mais importante exerceu-a na Escola Oficina n.° 1, no Largo da Graça. Nesta escola que existiu entre 1906 e 1926 e que funcionava em regine de coeducação sexual e onde as punições físicas eram proibidas, há a destacar quatro aspetos que de acordo com o texto “Movimento operário português e educação (1900-1926) de António Candeias eram os seguintes:
1- A existência de trabalhos manuais:
2- A existência de uma associação de alunos, a Solidária, que tinha à sua responsabilidade a organização das refeições, de festas, competições desportivas, etc.;
3- A introdução de disciplinas como a dança, o teatro e a música;
4- A “preocupação de desagregação tanto social como sexual; fábricas para raparigas, bordado e dança para rapazes; música, teatro e dança para filhos de operários, fábricas de latoaria para filhos de intelectuais, etc.”
Casimiro Amado, por seu turno, num texto publicado em 1998, considerou Adolfo Lima como o “introdutor da escola única em Portugal” e o “autor duma verdadeira reflexão nacional sobre o problema ao relacioná-lo com a realidade educativa e social portuguesa”.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31375, 8 de novembro de 2017, p.16)