quinta-feira, 15 de março de 2018
O Professor Mário de Oliveira e a Escola Única
O Professor Mário de Oliveira e a Escola Única
Nas minhas pesquisas sobre o tema da educação, depois de ter tomado conhecimento de algumas ideias defendidas pelo pedagogo Adolfo Lima que esteve ligado à Voz do Operário, instituição com sede em Lisboa que ainda disponibiliza serviços que vão do berçário ao 2º ciclo, e de ter visitado recentemente a sua sede, deparei-me com o nome de Mário de Oliveira, professor do ensino primário, hoje designado por primeiro ciclo do ensino básico.
Mário Augusto de Oliveira e Sousa (1892-1970) nasceu em São Paio, Gouveia, foi um militante libertário que esteve ligado ao movimento sindical, tendo sido delegado dos funcionários públicos ao Congresso Operário de 1922. Neste congresso foi aprovada por esmagadora maioria a adesão dos sindicatos portugueses à Associação Internacional dos Trabalhadores, de orientação anarcossindicalista, em detrimento da adesão à Internacional Sindical Vermelha, de orientação comunista.
No que diz respeito à sua atividade profissional, Mário de Oliveira lecionou na Guarda na Associação 1º de Maio e na Voz do Operário, tendo sido colaborador pedagógico do Dr. Adolfo Lima.
O professor Mário de Oliveira foi também muito ativo no movimento associativo de professores, tendo sido um dos animadores da Associação dos Professores de Portugal, da União dos Professores de Portugal e da Liga de Ação Educativa.
Mário Oliveira foi editor da revista “Educação” e foi autor da brochura “A Escola Única-uma nova ideia pedagógico-social”, editada em Lisboa, no mês de outubro de 1933.
Segundo Joaquim Pintassilgo e Maria João Mogarro, num texto, não datado, intitulado “A ideia de escola para todos no pensamento pedagógico português”, para além de Mário de Oliveira e Adolfo Lima, também defenderam a escola única, entre outros, Bento de Jesus Caraça e Álvaro Sampaio.
Antes de darmos a conhecer alguns extratos da publicação referida de Mário de Oliveira, esclarecemos o que se entende por escola única, recorrendo aos autores citados no parágrafo anterior. Assim, segundo eles:
“A Escola Única representa, em geral (e abstraindo-nos das interpretações diversas de que é alvo) uma forma de organização da escola de modo a que ela seja acessível a todos os seus membros em igualdade de condições, segundo as suas aptidões e competências e não segundo a sua situação económica e social. A Escola Única implica a unificação do sistema de ensino até uma idade considerada adequada para o aparecimento de quaisquer especializações, designadamente as de natureza profissional.”
Por não conhecermos o texto completo da brochura do professor Mário de Oliveira, as citações seguintes só foram possíveis através de um extrato do mesmo, publicado na revista “Letra a Letra”, nº 5, de setembro de 2016, editada pela Modos de Ser-Associação Livre”.
Sobre o estado da educação em Portugal, Mário de Oliveira escreveu o seguinte: “Só um patriotismo fanático, doente, pode negar os nossos 65% de analfabetos, a par dum sem número de factos que mostram claramente o atraso, a pobreza de todos os nossos recursos coletivos e fontes de valorização social”.
Sobre a Escola Única, depois de afirmar que a mesma “não atende a privilégios, a preconceitos ou favoritismos e aproveita-se das competências onde elas estiverem”, não se perdendo “valores”, nem elevando “nulidades”, Mário de Oliveira acrescenta o seguinte:
“A Escola Única nivela a todos perante a educação e organiza o ensino sob o ponto de vista da humanidade, do bem comum, dos interesses do indivíduo e da colectividade, sem prejuízo mútuo, e pretende elevar à máxima valia as aptidões técnicas e os sentimentos de fraternidade e de solidariedade humanas”.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31478 de 15 de março de 2018, p.13)
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