quinta-feira, 24 de maio de 2018

40.º Congresso Nacional do Movimento da Escola Moderna


Colegas,

Temos o prazer de vos comunicar que a partir do dia 1 de junho estarão abertas as inscrições para o 40.º Congresso Nacional do Movimento da Escola Moderna.

Este ano, o congresso realizar-se-á no Instituto Superior de Contabilidade e Administração da Universidade de Aveiro (ISCA), nos dias 19, 20 e 21 de julho.

Todas as informações úteis, assim como a inscrição online, estão disponíveis através do link http://www.movimentoescolamoderna.pt/

Com os nossos melhores cumprimentos,

A Direção do Movimento da Escola Moderna


Movimento da Escola Moderna
Sede: Rua Francisco Grandela, nº 7 loja A, 1500-284 Lisboa
Tel: 21 868 03 59 / 96 428 23 78
E-mail: sedemovimentoescolamoderna@gmail.com

www.movimentoescolamoderna.pt

Sobre o ensino profissional


Fotografia de Raimundo Quintal

Sobre o ensino profissional

De vez em quando, surgem vozes a chorar pela medida tomada depois de 25 de abril de 1974 que levou ao fim das escolas profissionais. Como principais argumentos apresentam dois: nem todos têm cabeça nem podem ser doutores e a sociedade precisa de profissionais das mais diversas áreas, como carpinteiros, pedreiros, eletricistas, etc.

No Estado Novo, na década de 1950, a par do ensino liceal, frequentado pelos alunos provenientes dos extratos médios e altos da sociedade e destinado essencialmente a preparar para a universidade, existia o ensino industrial e comercial frequentado pelos alunos pertencentes às famílias com mais posses de entre os mais desfavorecidos da sociedade e destinava-se a preparar para uma profissão.

Mais tarde, na década de 60 do mesmo século o regime, já com Marcelo Caetano, fez uma tentativa de aproximar os dois ensinos, na tentativa de acabar com a estigmatização dos alunos que frequentavam o ensino profissional., como se poderá concluir da leitura da Lei 5/73 que apresenta, entre outros, os seguintes argumentos: evitar “a discriminação de classes sociais” e dar “a todos os alunos igualdade de oportunidades e possibilidades”.

A unificação dos dois ensinos só se concretizou em 1975, devido à ação de Rui Grácio, pedagogo que foi investigador do Centro de Investigação Pedagógica da Fundação Calouste Gulbenkian e Secretário de Estado da Orientação Pedagógica nos II, III e IV Governos Provisórios, entre 17 de julho de 1974 e 8 de setembro de 1975.

António Teodoro, Professor Catedrático da Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, antigo secretário-geral da Federação Nacional dos Professores (FENPROF), no seu livro “Política Educativa em Portugal. Educação, desenvolvimento e participação política dos professores”, editado em 1994, cita as razões de Rui Grácio para a criação do ensino secundário unificado que abaixo se transcreve:

“Primeira: adiar para os quinze anos a escolha do rumo escolar que no sistema antecedente teria de fazer-se aos doze, permitindo aos rapazes e raparigas autodeterminarem-se com menor probabilidade de erro e adiando, com vantagem, a incidência dos factores financeiros e culturais de ordem familiar na opção do rumo escolar ou profissional do jovem;

Segunda: romper com a dualidade ensino liceal- ensino técnico, dualidade que no contexto político-social vigente exprime, ao mesmo tempo que reforça, não apenas a dualidade trabalho intelectual-trabalho manual, mas também, correlativamente, a dualidade dominante-dominado;

Terceira: romper com a dualidade escola-comunidade, educação formal-educação não formal, dualidade que empobrece os dois termos do binário.”

Hoje, depois de criadas as escolas profissionais e de criados cursos profissionais nas escolas oficiais, além do conflito existente entre aquelas devido à diminuição do número de alunos, verifica-se que alguns alunos, em número que não deixa de ser significativo, não apresenta qualquer motivação para o estudo pelas mais diversas razões, sendo uma delas a desvalorização da escola como meio de promoção social ou o facto de que o que é ensinado nas escolas nada dizer aos alunos ou mesmo às suas famílias, pois limita-se à transmissão de conhecimentos cuja utilidade para a vida diária é por vezes duvidosa.

Uma proposta para alterar o referido, que é um problema que não é de agora, foi apresentada pelo cientista açoriano Aurélio Quintanilha que achava que todas as escolas deviam ser “Escolas do Trabalho”.

Sobre aquela ideia de Aurélio Quintanilha, Amélia Gomes, autora de uma dissertação de mestrado sobre o seu pensamento em relação à educação, escreveu o seguinte:

“Nesta linha de pensamento, Quintanilha advertiu que o liceu não podia ser uma escola profissional com o objetivo de criar técnicos, no entanto, o ensino profissional devia ser parte integrante da educação em geral, sendo a base da educação do espírito e da educação do corpo”.

De acordo com a autora citada, “a proposta de Quintanilha era transformar o liceu do seu tempo numa “Escola do Trabalho”, contrariando a alienação da divisão do trabalho em manual e intelectual.”

Será que a sugestão de Aurélio Quintanilha, ainda hoje, faz sentido?

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31528, 24 de maio de 2018, p.12)

terça-feira, 15 de maio de 2018

Aurélio Quintanilha e a Educação


Aurélio Quintanilha e a Educação

Aurélio Pereira da Silva Quintanilha nasceu, em Angra do Heroísmo, em 1892 e faleceu, em Lisboa, em 1987.

Aurélio Quintanilha, depois de ter passado por Ponta Delgada, onde concluiu o liceu, por Lisboa, onde chegou a frequentar Medicina e concluiu o Curso de Ciências Histórico-Naturais, por Coimbra, onde foi assistente de Botânica da Faculdade de Ciências e se doutorou, foi forçado a ir para França, depois de, em 1935, ter sido demitido e reformado compulsivamente por razões ideológicas. Sem condições para permanecer em França após a 2ª Guerra Mundial, regressou a Portugal tendo ido para Lourenço Marques, onde dirigiu o Centro de Investigação Científica Algodoeira e foi investigador na Universidade local. Depois do 25 de abril de 1974, pediu a reintegração na Universidade de Coimbra, tendo aí proferido a última lição: “Quatro Gerações de Cientistas na História do Instituto Botânico de Coimbra”.

A sua carreira científica reconhecida internacionalmente e a sua participação cívica em prol de um mundo mais justo e pacífico fez com que tenha sido agraciado, em 1983, com o Grau de Grande Oficial da Ordem da Liberdade e, em 1987, com o Grau Oficial da Ordem de Santiago da Espada.

Para além do referido, Aurélio Quintanilha foi alvo de outras homenagens de que se destaca a atribuição do seu nome a uma rua em Lisboa e no Seixal. No Museu Nacional de História Natural existe, também, uma instalação com o seu nome, o Anfiteatro de Botânica Prof. Aurélio Quintanilha. Nos Açores, apenas temos conhecimento da atribuição do seu nome a uma rua na ilha Terceira.

Embora Aurélio Quintanilha seja mais conhecido pela sua faceta de investigador na área da Botânica, não pode ser ignorada a sua atividade como professor e o seu pensamento pedagógico que, segundo Amélia Gomes, autora de uma dissertação de mestrado intitulada “A educação libertária segundo Aurélio Quintanilha” (2005), foi influenciado por “Pestalozzi, Tosltoi, Kropoktine, Jean Grave, Malato, Dewey, Kerschensteiner e António Sérgio, entre outros.”

Professor por vocação, não foi bem aceite por alguns, os mais conservadores, o seu convívio com os estudantes, sabendo-se que com eles jogava futebol e basquetebol.

A sua dissertação para o Exame de Estado da Escola Normal Superior, intitulada “Educação de Hoje, Educação de Amanhã”, foi considerada, por um dos professores que a avaliou, como imoral, pois Aurélio Quintanilha defendia a educação sexual nas escolas a cargo dos professores de Biologia.

Sobre a sua motivação para o ensino, no prefácio à dissertação mencionada podemos ler o seguinte:

“No meio deste século de um sórdido materialismo, acotovelado pelos que disputam, numa luta feroz, o pão de cada dia, uma só ambição me consome. Ser professor. Nem as vãs glórias do mando, nem o poderio do oiro me fascinaram ainda. E sinto que nenhuma outra atividade social poderia dar-me uma parcela sequer daquele sagrado entusiasmo, daquela alegria infinita que se apodera de mim quando vejo diante um curso, suspenso das minhas palavras, e me é dado assistir, naqueles olhos fitos nos meus, ao desabrochar da Ideia.”

Sobre a necessidade da educação/cultura não se cingir à escola, no seu discurso pronunciado na sessão inaugural da Universidade Livre de Coimbra, em 1925, Aurélio Quintanilha escreveu:

“A escola não basta como fonte de cultura, mesmo nos países onde são outros os seus ideais educativos e mui diversos os seus métodos de trabalho.
Por toda a parte se sente a necessidade de uma educação complementar, extraescolar e pós-escolar.”

Terminámos este texto, citando a dissertação de mestrado atrás referida: Quintanilha fala de uma “Escola de Trabalho” …não numa escola de meros trabalhos manuais, nem numa escola de produção, mas uma escola onde cada um aprenda por experiência com o seu próprio trabalho, tomando como ponto de partida a sua experiência vivida e os problemas por ela suscitados, autocontrolando os seus resultados e pondo-os ao serviço da formação da sua personalidade integrada numa comunidade escolar”
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31521, 15 de maio de 2018, p.16)

sábado, 5 de maio de 2018