terça-feira, 15 de maio de 2018
Aurélio Quintanilha e a Educação
Aurélio Quintanilha e a Educação
Aurélio Pereira da Silva Quintanilha nasceu, em Angra do Heroísmo, em 1892 e faleceu, em Lisboa, em 1987.
Aurélio Quintanilha, depois de ter passado por Ponta Delgada, onde concluiu o liceu, por Lisboa, onde chegou a frequentar Medicina e concluiu o Curso de Ciências Histórico-Naturais, por Coimbra, onde foi assistente de Botânica da Faculdade de Ciências e se doutorou, foi forçado a ir para França, depois de, em 1935, ter sido demitido e reformado compulsivamente por razões ideológicas. Sem condições para permanecer em França após a 2ª Guerra Mundial, regressou a Portugal tendo ido para Lourenço Marques, onde dirigiu o Centro de Investigação Científica Algodoeira e foi investigador na Universidade local. Depois do 25 de abril de 1974, pediu a reintegração na Universidade de Coimbra, tendo aí proferido a última lição: “Quatro Gerações de Cientistas na História do Instituto Botânico de Coimbra”.
A sua carreira científica reconhecida internacionalmente e a sua participação cívica em prol de um mundo mais justo e pacífico fez com que tenha sido agraciado, em 1983, com o Grau de Grande Oficial da Ordem da Liberdade e, em 1987, com o Grau Oficial da Ordem de Santiago da Espada.
Para além do referido, Aurélio Quintanilha foi alvo de outras homenagens de que se destaca a atribuição do seu nome a uma rua em Lisboa e no Seixal. No Museu Nacional de História Natural existe, também, uma instalação com o seu nome, o Anfiteatro de Botânica Prof. Aurélio Quintanilha. Nos Açores, apenas temos conhecimento da atribuição do seu nome a uma rua na ilha Terceira.
Embora Aurélio Quintanilha seja mais conhecido pela sua faceta de investigador na área da Botânica, não pode ser ignorada a sua atividade como professor e o seu pensamento pedagógico que, segundo Amélia Gomes, autora de uma dissertação de mestrado intitulada “A educação libertária segundo Aurélio Quintanilha” (2005), foi influenciado por “Pestalozzi, Tosltoi, Kropoktine, Jean Grave, Malato, Dewey, Kerschensteiner e António Sérgio, entre outros.”
Professor por vocação, não foi bem aceite por alguns, os mais conservadores, o seu convívio com os estudantes, sabendo-se que com eles jogava futebol e basquetebol.
A sua dissertação para o Exame de Estado da Escola Normal Superior, intitulada “Educação de Hoje, Educação de Amanhã”, foi considerada, por um dos professores que a avaliou, como imoral, pois Aurélio Quintanilha defendia a educação sexual nas escolas a cargo dos professores de Biologia.
Sobre a sua motivação para o ensino, no prefácio à dissertação mencionada podemos ler o seguinte:
“No meio deste século de um sórdido materialismo, acotovelado pelos que disputam, numa luta feroz, o pão de cada dia, uma só ambição me consome. Ser professor. Nem as vãs glórias do mando, nem o poderio do oiro me fascinaram ainda. E sinto que nenhuma outra atividade social poderia dar-me uma parcela sequer daquele sagrado entusiasmo, daquela alegria infinita que se apodera de mim quando vejo diante um curso, suspenso das minhas palavras, e me é dado assistir, naqueles olhos fitos nos meus, ao desabrochar da Ideia.”
Sobre a necessidade da educação/cultura não se cingir à escola, no seu discurso pronunciado na sessão inaugural da Universidade Livre de Coimbra, em 1925, Aurélio Quintanilha escreveu:
“A escola não basta como fonte de cultura, mesmo nos países onde são outros os seus ideais educativos e mui diversos os seus métodos de trabalho.
Por toda a parte se sente a necessidade de uma educação complementar, extraescolar e pós-escolar.”
Terminámos este texto, citando a dissertação de mestrado atrás referida: Quintanilha fala de uma “Escola de Trabalho” …não numa escola de meros trabalhos manuais, nem numa escola de produção, mas uma escola onde cada um aprenda por experiência com o seu próprio trabalho, tomando como ponto de partida a sua experiência vivida e os problemas por ela suscitados, autocontrolando os seus resultados e pondo-os ao serviço da formação da sua personalidade integrada numa comunidade escolar”
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31521, 15 de maio de 2018, p.16)