sábado, 16 de junho de 2018

A propósito de um sábado pedagógico inesquecível


A propósito de um sábado pedagógico inesquecível

“Para nós, ética, pedagogia e democracia são exatamente a mesma coisa” (Sérgio Niza)

No passado dia 12 de maio, realizou-se, no Anfiteatro da Escola Secundária das Laranjeiras, mais um Sábado Pedagógico, promovido pelo Núcleo Regional de São Miguel do Movimento da Escola Moderna (MEM), um dos núcleos de uma associação de âmbito nacional que tem como principal objetivo a formação contínua dos seus membros em sistema de autoformação cooperada.

Lídia Grave-Resendes e Júlia Soares no livro, que recomendamos, “Diferenciação Pedagógica”, editado pela Universidade Aberta, afirmam que o modelo de formação de professores do MEM “começou a ser considerado, desde os anos 80, por especialistas internacionais tanto europeus como americanos, como um método de ponta na formação contínua de professores”

Com um número recorde de participantes, mais de setenta, a sessão teve duas partes distintas. Na primeira parte, houve um momento de partilha por parte do Grupo Cooperativo de Matemática que, para além de comunicar aos presentes o percurso e o trabalho efetuado desde a criação do grupo, deu a conhecer a importância do trabalho em conjunto sobretudo em termos anímicos. A segunda parte da sessão contou com a presença do pedagogo Sérgio Niza, um dos fundadores do Movimento que de acordo com António Nóvoa “é a presença mais constante, mais coerente e inspiradora da pedagogia portuguesa dos últimos 50 anos”.

Por terem sido muito variados os ensinamentos partilhados durante a sua intervenção, neste texto não podemos fazer referência a tudo o que nos foi transmitido por Sérgio Niza. Por não ter tirado apontamentos, para além do que memorizei, uso como fontes o livro “Sérgio Niza. Escritos sobre a Educação”, editado pelas Edições Tinta da China, em 2015, e o livro “O Movimento da Escola Moderna”, de Pedro González,, editado pela Porto Editora, em 2002.

Sobre a história do MEM, todos ficaram a saber que o mesmo foi perseguido pelo Estado Novo, tendo o próprio Sérgio Niza sido proibido de ensinar tanto no ensino público como no privado.

Em jeito de resposta a alguém mal informado, que me disse que sendo o MEM muito antigo, já devia estar ultrapassado, recordo o que escreveu Sérgio Niza sobre a presença do MEM na sociedade portuguesa: “Sem nós, a educação em Portugal não pode passar. Hoje, o Movimento da Escola Moderna Portuguesa, quer o detestem, quer o estimem, é um dado adquirido para a cultura portuguesa”.

Para melhor esclarecer os adeptos de ministros ou modelos autoritários e quem estagnou na profissão, recordo que “todo o mundo é composto de mudança” (Luís de Camões). No que diz respeito ao MEM, Sérgio Niza escreveu: “… Hoje, portanto, já não somos António Sérgio, já não somos Rui Grácio, já não somos Maria Amália Borges, já não somos Freinet. Somos aquilo que pudemos construir a partir deles e, quantas vezes, contra eles. Mas já não somos também nem eu, nem a Rosalina; somos uma dinâmica muito forte e contraditória, com muitas áreas de luz e muitas áreas de penumbra, tal como a vida real, autentica, para sermos autênticos e verdadeiros”.

Outro aspeto muito importante da comunicação foi sobre a democracia na escola. Sobre o assunto Sérgio Niza destacou a importância em termos de formação para os alunos a sua participação democrática direta na escola, dentro e fora da sala de aula.

Ainda sobre o mesmo tema, Sérgio Niza escreveu: “Todo o poder se afirma por via da representatividade faz reproduzir a ideia de representação que pressupões sempre uma ideia de elite. Há uns (que são) os eleitos e os outros…porque nós sabemos que (os eleitos) têm sempre mais poder, mais capacidade de intervenção. São questões fundamentais da democracia, que a democracia política não conseguiu resolver, mas que a democracia educativa poderá resolver”.

Na intervenção de Sérgio Niza, entre outros temas, foi abordado o modelo pedagógico do MEM e a polémica questão dos trabalhos de casa que por serem tão importantes para alguns docentes e pais, deviam ser feitos nas salas de aula.

Termino, convidando todas as pessoas que se preocupam com a educação e os meus colegas, de espírito aberto, a lerem os livros referidos acima e a participarem numa das próximas iniciativas do MEM que são gratuitas e abertas a todos os interessados.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31544, 13de junho de 2018, p.19)