terça-feira, 4 de setembro de 2018

Escolas Alternativas


Escolas Alternativas

No próximo ano letivo funcionará nas Capelas uma experiência pedagógica inspirada na Escola da Ponte, que é uma escola pública que assenta na autonomia dos alunos. Na escola mencionada, que tem por valores a Solidariedade e a Democraticidade, as práticas educativas são muito diferentes das do modelo tradicional e em toda a vida da escola há uma participação efetiva dos docentes, pais e alunos.

O Projeto Novas Rotas irá funcionar na Quinta do Norte, propriedade adquirida pela Junta Geral, com dinheiros da herança da grande mulher que foi Alice Moderno.

Integrado na Escola Básica Integrada das Capelas que, ao contrário de outros estabelecimentos de ensino, teve a coragem de acolher o projeto, pelo que os seus órgãos de gestão estão de parabéns, a “nova escola” tem tudo para ser um sucesso. Assim. destaco o empenhamento dos pais, como tem sido demonstrado pelo trabalho voluntário que têm prestado na realização de obras no edifício e a dedicação dos professores como nunca tive a oportunidade de assistir, nem mesmo nos tempos a seguir ao 25 de abril de 1974 em que se acreditava que através da escola se podia mudar o mundo.

Vou seguir com muita atenção a implementação do projeto com a certeza de que os envolvidos não vão conseguir endireitar o eixo da Terra, mas vão mudar, para melhor, a educação e dar uma lição de democracia participativa a todos.

Não tenho conhecimento se o Projeto Novas Rotas foi pioneiro nos Açores em ternos de alternativa ao modelo de educação tradicional, mas sei que a nível nacional, no passado, foram vários os projetos e as escolas que funcionaram seguindo metodologias e obedecendo a princípios diferentes das escolas ditas oficiais.

Um dos projetos foi o da Escola Livre de Coimbra, ideia de João Evangelista de Campos Lima, amigo de Manuel de Arriaga, formado em direito, que, depois de visitar a comuna escolar “La Rouche”, em Paris, o elaborou, em colaboração com Tomás da Fonseca, Lopes de Oliveira e outros.

De acordo com Edgar Rodrigues, na idealizada escola o professor não forçava nada, sendo adotado um método moderno de ensino onde seria despertado “nas próprias crianças o desejo de aprender por si, não impondo nunca lições ou tarefas determinadas e esperando sempre que o próprio espírito de curiosidade eleve a interrogar o professor, tornando assim agradável e proveitosa cada lição”.

Sobre as finalidades da escola, o mesmo autor refere o seguinte:

“Enfim, a Escola Livre, esforçar-se-á por que cada criança fique com um conhecimento o mais completo de si própria e da vida em geral, habilitando-a a procurar os meios indispensáveis à conservação da existência: despertará em todos os sentimentos de independência e liberdade; desenvolverá entre elas o princípio do auxílio mútuo, base de toda a solidariedade; e, não tendo a pretensão de formar sábios, dar-se- á por satisfeita e cumpridora da missão se conseguir formar homens de carácter".

O projeto da Escola Livre, se fosse implementado, tinha como destinatários crianças de famílias pobres.

Pelas crianças de famílias mais desfavorecidas também se interessou a educadora, feminista e republicana Ilda Adelina Jorge de Bulhão Pato que, entre outras iniciativas, criou a Escola Maternal da Ajuda que funcionou entre 1920 e 1943.

Ilda Bulhão Pato que era adepta do método de João de Deus, defendeu uma escola que recebesse crianças de ambos os sexos dos três aos sete anos, onde para além das aprendizagens, segundo o método do alemão Friedrich Froebel, também tinham acesso a alimento e vestuário.

De acordo com Márcio Ferrari, Froebel, defensor da liberdade, defendia “que as crianças trazem consigo uma metodologia natural que as leva a aprender de acordo com os seus interesses e por meio de atividades práticas”.

Antecipando algumas críticas relativamente à questão dos interesses das crianças, afirmo que se uma criança não manifesta interesse nenhum por aprender, significa que está doente ou, melhor, que a sociedade onde ela se insere está moribunda ou já a castrou.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31614, 4 de setembro de 2018, p.16)