terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

A Educação Popular, Ferrer y Guardia e a Educação Racional



Textos livres (1)
A Educação Popular, Ferrer y Guardia e a Educação Racional

Propriedade da Biblioteca da Sociedade Promotora da Educação Popular, editou-se, em Lisboa, a “Educação Popular”, publicação mensal, literária, educativa e anunciadora.

Dirigido por Benjamim Correia Pequeno, o jornal “Educação Popular” viu a luz do dia na 1 de abril de 1909, tendo por fim “conseguir com a sua venda, apurar receitas para aumentar a Biblioteca da nossa Sociedade, e comprar livros e mais expediente escolar para as alunas das aulas de primeiras letras e instrução primária, podendo, quando a receita para tal chegue, estender esta dádiva a outras aulas”.

Através da leitura dos números existentes na Biblioteca Nacional, não sabemos se todos os publicados, constata-se que o jornal “Educação Popular” recebia o jornal A Folha publicado em São Miguel por Alice Moderno e A Voz do Professor, da ilha Terceira, que se publicou em 1909 e 1910.

Nas suas páginas podem ser encontrados textos de, entre outros, Ladislau Batalha (1856-1939), um dos fundadores do Partido Socialista, João Black (1872-1955), sindicalista que foi autor do hino “A Batalha” e Magalhães Lima (1850-1928) republicano anticlerical.

Em diversos números do jornal há referências à Escola Moderna de Ferrer e Guardia e ao seu ensino racional e em dois números, 8 e 9, é abordada a prisão e o assassinato daquele pedagogo espanhol.

No nº 8 oito, de 3 de outubro de 1909, que tem como tema principal a comemoração do aniversário da Sociedade Promotora da Educação Popular, o jornal redozija.se pelo facto, mas não se esquece da situação em que se encontrava Ferrer y Guardia nos seguintes termos:

“Estramos em festa. Mas apesar de tanta alegria que nos circunda, uma coisa nos entristece. A prisão de Ferrer. Por isto, fazemos sinceros votos para que o protesto universal contra a prisão daquele intemerato educador seja ouvido pelo governo espanhol”
No número seguinte, publicado em novembro de 1909, sem data do dia, o jornal condena o assassinato de Ferrer. Sobre o assunto podemos ler o seguinte:

“Lançamos o anátema da nossa indignação sobre os factos inquisitoriais passados em Espanha que são uma afronta aos princípios da Liberdade. Condenamos, em nome da Razão e da Justiça a morte de Ferrer e dos seus companheiros. E para a Espanha que tal pratica, temos centelhas de ódio. Essa Espanha, porém, é a Espanha de Maura, a Espanha da reação clerical, a Espanha fanática e supersticiosa ainda agarrada ao passado.”

Nos textos sobre as propostas defendidas por Ferrer y Guardia há referência ao “ensino misto que consiste em que os meninos e as meninas obtenham educação idêntica” e valorizada a ciência que é considerada “a única mestra da vida”.

Sobre o ensino racionalista, o jornal transcreve no seu número 10 de janeiro de 1910 um texto de José Simões Coelho, onde este escreve a dado passo o seguinte:

“Ensino racionalista quer dizer: o ensino que tem como meio a razão e como fim a ciência; como esta ainda não disse a sua última palavra sobre qualquer assunto, resulta que o assunto racionalista não tem programa fixo. Pelo contrário.

Ao ensinar todos os dias os fenómenos físicos do universo e fenómenos sociais da humanidade, fá-lo com a especial reserva de que só tem mérito o que está comprovado, o que os sentidos admitem e a experiência sanciona.”

Pico da Pedra, 6 de fevereiro de 2019

Teófilo Braga