quinta-feira, 25 de julho de 2019

A propósito (ou não) de um Congresso sobre Educação


A propósito (ou não) de um Congresso sobre Educação

Na semana passada, entre os dias 18 e 20 de julho, realizou-se no Instituto de Educação da Universidade de Lisboa o 41º Congresso do Movimento da Escola Moderna (MEM), uma associação pedagógica de professores e de outros profissionais da educação com dois núcleos nos Açores, um na ilha Terceira e outro em São Miguel.

No texto de hoje, para além de algumas impressões sobre o evento, apresentarei algumas preocupações relativas ao ano escolar que se avizinha, onde pela primeira vez se vai generalizar a todas as turmas de início de ciclo novas matrizes curriculares para o ensino básico.

Relativamente ao número de participantes no congresso, é impressionante que, depois de um ano letivo de muito trabalho e cansaço, mais de quinhentos professores e educadores se disponibilizaram para estar presentes e alguns (mais de 80) para partilhar as suas práticas durante três longos dias.

Digna de registo é a idade da grande maioria dos participantes que, sendo baixa, revela que há razões para se ter esperança no futuro da educação no que diz respeito ao empenhamento e alteração de práticas nas salas de aula, onde os meios pedagógicos passem a vincular os fins democráticos da educação e o professor deixe de ser o único detentor da “verdade” e passe a ser o organizador das aprendizagens.

Outra informação que colhemos e que é preocupante é a inadmissível ingerência de alguns dirigentes de escolas sobretudo particulares e dos pais nas salas de aula, obrigando os professores a não usar estratégias inovadoras e fazendo-os a regressar às aulas expositivas. Para além disso, numa altura em que se apela à participação e à cooperação é uma aberração inqualificável alguns pais impedirem que os seus educandos ajudem colegas com mais dificuldades.

Para além do referido, o contato com alguns colegas de várias regiões do país leva-me a concluir que há um forte desejo de mudança, mas que uma das principais causas de não avançarem é o seu isolamento. Não estando o movimento implantado em muitas localidades, a solução só pode passar pelo recurso às novas tecnologias de informação e comunicação, através da criação de grupos cooperativos com membros de vários núcleos regionais ou da partilha de informações, materiais pedagógicos ou instrumentos de pilotagem.

Nas conversas mantidas com outros colegas, também, fiquei a saber que em alguns locais há quem frequente os Sábados Pedagógicos com o objetivo único de replicar ou adaptar as estratégias ou os instrumentos de pilotagem usados no MEM para uso em contextos onde se pretende apenas obter bons resultados em termos de aquisição de conhecimentos e não a formação integral dos alunos.

Embora considere que ninguém é obrigado a seguir o modelo pedagógico daquele movimento e saiba que há outros modelos e correntes pedagógicas que com toda a legitimidade possam ser seguidos pelos meus colegas, recordo o que sobre o assunto escreveu Maria Gutierrez: “Nem os instrumentos nem as técnicas têm sentido em si mesmos, pois pode-se muito bem conhecer e aplicar uma técnica e continuar a utilizá-la num contexto tradicional baseado na passividade do aluno”.

Não podendo comentar todas as sessões a que assisti, optei por fazer uma referência ao painel “Educação, sustentabilidade e economia circular” onde destaco um conjunto de informações importantes acerca dos desperdícios de recursos nas nossas sociedades e a experiência da construção de uma horta numa escola.

Não vou debruçar-me sobre o conceito de economia circular, mas parece-me que será ou poderá ser outro chavão a juntar ao de desenvolvimento sustentável usado pelos nossos políticos para continuarem a destruir o nosso planeta.

Por último, um aviso à navegação. A escola sozinha não muda a sociedade e a educação nunca é neutra. Como muito bem escreveu Paulo Freire, a atividade dos educadores “desenvolve-se ou para a libertação dos homens - a sua humanização -, ou para a sua domesticação - o domínio sobre eles”.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31885, 25 de agosto de 2019, p.16)