quarta-feira, 4 de dezembro de 2019

Cenas da vida escolar


Cenas da vida escolar

Hoje, nas escolas há dois assuntos que estão na ordem do dia: a aposentação e o fim dos chumbos.

A aposentação é o tema preferido para os docentes que estão quase no fim da sua carreira e que quase todos os dias contam o tempo que está a faltar. Além disso, também, quase diariamente, é abordada a esperança da alteração das leis de modo a tornar possível a aposentação mais cedo ou a possibilidade da alteração das condições da pré-reforma de modo a torná-la mais atrativa.

O fim dos chumbos é o outro tema, havendo quem, ainda sem receber qualquer instrução superior sobre o assunto, já esteja a agir de modo a promover o facilitismo que tanto condenam nas supostas intensões dos governantes.

Certo que voltarei ao assunto, abaixo, dou a conhecer um relato que me foi enviado sobre o decorrer de uma aula do ensino secundário.

Quarta-feira, dia 15 de maio de 2019, um docente começa a sua aula e afirma que a mesma será sobre o efeito fotoelétrico e o contributo de Albert Einstein para a sua explicação, acrescentando que antes de fazer uma curta apresentação com recurso a um “powerpoint”, vai passar um pequeno vídeo sobre o assunto.

Um aluno que entrou na sala e pousou a cabeça sobre a mesa, sinal de noite mal dormida ou de má disposição, diz em voz perfeitamente audível por todos os presentes: Estou farto de ouvir brasileiros!

De seguida, baixa a cabeça sobre a mesa e assim fica cerca de 45 minutos, interrompendo alguns momentos de silêncio com gemidos.

Quando, finalmente levantou a cabeça, gemeu, cantarolou, bateu com os dedos na mesa, tentou falar com os colegas, interrompendo o trabalho que estavam a fazer.
Alguns minutos depois, o professor escreveu no quadro a relação entre o eletrão-volt (eV) e o joule (J). A Maria perguntou-lhe o que significava o símbolo eV, o aluno que nada havia feito até ao momento, querendo fazer-se engraçadinho disse: Educação Visual.

A aula prosseguiu e o aluno, voltou a colocar a cabeça sobre a mesa e começou a falar sozinho, num tom de voz que era escutada em toda a sala de aula.

Em seguida, continuando na posição em que estava, fez uma pergunta que o professor não percebeu. Aquele não pediu para o aluno repeti~la, pois em aulas anteriores costumava fazer questões não relacionadas com os conteúdos que estavam a ser trabalhados, como por exemplo quando o docente está a explicar uma lei física ele pergunta se o mesmo gostou do jogo do Sporting ou do Benfica.

Algum tempo depois, o aluno ligou o telemóvel na aula, o que não é permitido pelo Regulamento Interno da Escola, para possivelmente ver as horas. Recorda-se que na aula anterior, o mesmo aluno, depois de várias vezes advertido pelo comportamento inadequado, sem qualquer respeito pelas regras, havia ligado o telemóvel e passado um vídeo com o som muito alto.

Depois, continuando a interromper os outros que estavam a trabalhar, ele que não abriu o caderno e não fez nada durante a aula, disse a um colega: deixa de conversar e faz os exercícios”.

Quase a terminar a aula, alguém no corredor gritou “AOOO”, o aluno tal como um eco repetiu na sala “AOOO”. Este mau comportamento de repetir sons é habitual da parte dele, apesar de ter sido inúmeras vezes advertido para o não fazer. Assim, é habitual ele repetir tudo o que ouve, desde máquinas a funcionar, alunos a gritar no recreio ou até o som emitido pelos pavões existentes numa propriedade próxima da escola.

Hoje, para aquele aluno e para muitos outros. não há qualquer diferença entre uma sala de aula, um quarto de cama ou o recreio.

Teófilo Braga

domingo, 15 de setembro de 2019

quinta-feira, 22 de agosto de 2019

EM MEMÓRIA DE IVAN ILLICH


EM MEMÓRIA DE IVAN ILLICH

No passado dia 2 de Dezembro, com a idade de 76 anos, faleceu, na Alemanha, Ivan Illich, um dos mais notáveis pensadores do século XX. Natural de Viena, Áustria, Illich, que nasceu a 4 de Setembro de 1926 e estudou naquela cidade, em Salzsburgo e em Roma, foi ordenado padre católico, tendo mais tarde abandonado o sacerdócio, líderou uma comunidade próxima de Cuernavaca, no México, e foi professor e investigador universitário.

Na década de 70 do século passado, Ilhich apresentou uma das críticas mais radicais e contundentes à sociedade industrial, apresentando sempre propostas de solução dos problemas criados por essa civilização. Destaque especial nas suas críticas, mereceu a medicina que tendo sido criada para proteger a saúde estava a provocar a doença, o sistema de transportes que em vez de facilitar a mobilidade estava a produzir engarrafamentos e a escola que tendo sido criada para educar estava deseducando.

Hoje, com o sistema educativo em permanente reforma e com o consumismo a ser fomentado por alguns estabelecimentos de ensino, como é o caso da venda de lixo alimentar em algumas escolas, chegando-se ao cúmulo de se publicitar uma bebida dentro de algumas salas de aula, substituindo-se o cruxifixo, dos meus tempos de infância, pela carica de um sumo artificial, as seguintes palavras de Illich não perderam actualidade:
“Nós não podemos iniciar nenhuma reforma educativa se não tivermos compreendido que nem a aprendizagem individual, nem a igualdade social, podem ser melhoradas através do ritual escolar. Não podemos livrar-nos da sociedade de consumo sem termos compreendido antes que a escola oficial obrigatória reproduz exactamente essa sociedade de forma inevitável, seja o que for que se ensine nessa escola”

Da sua vasta obra, recomendamos a leitura dos livros, publicados em Portugal, “Libertar o Futuro” e “ A convivencialidade”. As ideias de Illich, referência ímpar para todos os ecologistas, não morreram a 2 de Dezembro, pelo contrário continuam vivas e actuais.

(Publicado no Açoriano Oriental, 23 de Dezembro de 2002)

quinta-feira, 25 de julho de 2019

A propósito (ou não) de um Congresso sobre Educação


A propósito (ou não) de um Congresso sobre Educação

Na semana passada, entre os dias 18 e 20 de julho, realizou-se no Instituto de Educação da Universidade de Lisboa o 41º Congresso do Movimento da Escola Moderna (MEM), uma associação pedagógica de professores e de outros profissionais da educação com dois núcleos nos Açores, um na ilha Terceira e outro em São Miguel.

No texto de hoje, para além de algumas impressões sobre o evento, apresentarei algumas preocupações relativas ao ano escolar que se avizinha, onde pela primeira vez se vai generalizar a todas as turmas de início de ciclo novas matrizes curriculares para o ensino básico.

Relativamente ao número de participantes no congresso, é impressionante que, depois de um ano letivo de muito trabalho e cansaço, mais de quinhentos professores e educadores se disponibilizaram para estar presentes e alguns (mais de 80) para partilhar as suas práticas durante três longos dias.

Digna de registo é a idade da grande maioria dos participantes que, sendo baixa, revela que há razões para se ter esperança no futuro da educação no que diz respeito ao empenhamento e alteração de práticas nas salas de aula, onde os meios pedagógicos passem a vincular os fins democráticos da educação e o professor deixe de ser o único detentor da “verdade” e passe a ser o organizador das aprendizagens.

Outra informação que colhemos e que é preocupante é a inadmissível ingerência de alguns dirigentes de escolas sobretudo particulares e dos pais nas salas de aula, obrigando os professores a não usar estratégias inovadoras e fazendo-os a regressar às aulas expositivas. Para além disso, numa altura em que se apela à participação e à cooperação é uma aberração inqualificável alguns pais impedirem que os seus educandos ajudem colegas com mais dificuldades.

Para além do referido, o contato com alguns colegas de várias regiões do país leva-me a concluir que há um forte desejo de mudança, mas que uma das principais causas de não avançarem é o seu isolamento. Não estando o movimento implantado em muitas localidades, a solução só pode passar pelo recurso às novas tecnologias de informação e comunicação, através da criação de grupos cooperativos com membros de vários núcleos regionais ou da partilha de informações, materiais pedagógicos ou instrumentos de pilotagem.

Nas conversas mantidas com outros colegas, também, fiquei a saber que em alguns locais há quem frequente os Sábados Pedagógicos com o objetivo único de replicar ou adaptar as estratégias ou os instrumentos de pilotagem usados no MEM para uso em contextos onde se pretende apenas obter bons resultados em termos de aquisição de conhecimentos e não a formação integral dos alunos.

Embora considere que ninguém é obrigado a seguir o modelo pedagógico daquele movimento e saiba que há outros modelos e correntes pedagógicas que com toda a legitimidade possam ser seguidos pelos meus colegas, recordo o que sobre o assunto escreveu Maria Gutierrez: “Nem os instrumentos nem as técnicas têm sentido em si mesmos, pois pode-se muito bem conhecer e aplicar uma técnica e continuar a utilizá-la num contexto tradicional baseado na passividade do aluno”.

Não podendo comentar todas as sessões a que assisti, optei por fazer uma referência ao painel “Educação, sustentabilidade e economia circular” onde destaco um conjunto de informações importantes acerca dos desperdícios de recursos nas nossas sociedades e a experiência da construção de uma horta numa escola.

Não vou debruçar-me sobre o conceito de economia circular, mas parece-me que será ou poderá ser outro chavão a juntar ao de desenvolvimento sustentável usado pelos nossos políticos para continuarem a destruir o nosso planeta.

Por último, um aviso à navegação. A escola sozinha não muda a sociedade e a educação nunca é neutra. Como muito bem escreveu Paulo Freire, a atividade dos educadores “desenvolve-se ou para a libertação dos homens - a sua humanização -, ou para a sua domesticação - o domínio sobre eles”.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31885, 25 de agosto de 2019, p.16)

sexta-feira, 31 de maio de 2019

Congresso do MEM



A partir do dia 1 de junho estarão abertas as inscrições para o 41.º Congresso Nacional do Movimento da Escola Moderna.

Este ano, o congresso realizar-se-á no Instituto de Educação da Universidade de Lisboa, nos dias 18, 19 e 20 de julho.

Todas as informações úteis, assim como a inscrição online, estarão disponíveis através do link www.movimentoescolamoderna.pt

quarta-feira, 15 de maio de 2019

Boletim do CDEP

segunda-feira, 6 de maio de 2019

Reações ao assassinato de Ferrer y Guardia nos Açores


Reações ao assassinato de Ferrer y Guardia nos Açores

“O verdadeiro educador é aquele que, às vezes até mesmo contra as suas próprias ideias e vontades, apoia a criança e o desenvolvimento de suas energias.” (Ferrer y Guardia)

Em 1909, por ordem do governo espanhol, foi fuzilado em Espanha o pedagogo Francisco Ferrer y Guardia (1859-1909) fundador da Escola Moderna que funcionou em Barcelona entre 1901 e 1906.

O assassinato de Ferrer y Guardia, foi condenado em todo o mundo não só por quem como ele era anarquista, mas pelas mais diversas pessoas e organizações mais progressistas.

Neste texto, depois de uma breve referência à personalidade e à pedagogia racionalista de Ferrer y Guardia, daremos a conhecer, de forma sucinta, qual foi a reação ao seu fuzilamento por parte de algumas personalidades açorianas e como os jornais dos Açores trataram o assunto.

Ferrer y Guardia e a Pedagogia Racionalista

Francisco Ferrer y Guardia nasceu em Allela, perto de Barcelona a 10 de janeiro de 1859. Em 1886, apoiou um fracassado pronunciamento militar que pretendeu instalar a República, pelo que teve de se exilar em França, onde sobreviveu ensinando espanhol.

Como homem de ação, ao regressar a Espanha, onde a sociedade era dominada pela superstição religiosa e onde a taxa de analfabetismo era superior a 50%, Ferrer fundou, em 1901, a Escola Moderna.

De acordo com Sílvio Gallo, Ferrer acreditava que se aprendia pelo afeto, isto é, embora a aprendizagem fosse “um ato mental, racional, nada se aprende se antes não passar pelo coração, se não mobilizar o desejo”.

Na Escola Moderna, seguia-se a “pedagogia racional” a qual segundo Sílvio Gallo é “um processo educativo que eduque pela razão, para que cada ser humano seja capaz de raciocinar por si mesmo, conhecer o mundo e emitir seus próprios juízos de valor, sem seguir nenhum mestre, nenhum guia”.

Embora não discutindo a utilidade de provas em alguma circunstância, o que é certo é que na Escola Moderna de Ferrer “não havia prémios nem castigos, nem provas em que houvessem alunos ensoberbecidos com nota dez, medianias que se conformassem com a vulgaríssima nota de aprovados nem infelizes que sofressem o opróbrio de se verem depreciados como incapazes”.

Ainda sobre a não existência de provas, Ferrer escreveu o seguinte: “os elementos morais que este ato imoral qualificado de prova inicia na consciência da criança são: a vaidade enlouquecedora dos altamente premiados; a inveja roedora e a humilhação, obstáculo de iniciativas saudáveis, aos que falharam; e em uns e outros, e em todos, os alvores da maioria dos sentimentos que formam os matizes do egoísmo”.

Para além do referido, Ferrer dava importância ao jogo e às brincadeiras não só por serem ações naturais das crianças, mas porque contribuíam para a saúde corporal, para o desenvolvimento físico e pelo contributo que davam para a descoberta de habilidades e predisposições.

No que diz respeito às instalações escolares, Ferrer não aceitava uma escola fechada entre quatro paredes de modo que na sua Escola Moderna a par de salas bem decoradas, havia pátios destinados à realização de atividades ao ar livre. Além disso, toda a atividade escolar era complementada com visitas a fábricas e passeios diversos.

Acusado, injustamente, de ter instigado uma insurreição operária, a Semana Trágica de Barcelona, foi preso, acabando por ser fuzilado em Montjuïc no dia 13 de outubro de 1909.
Como seu desaparecimento físico, o seu pensamento não caiu no esquecimento. Com efeito, as suas ideias, sobretudo após a sua morte, influenciaram a abertura de outras escolas em diversos países, como a Voz do Operário, em Lisboa, e serviram de inspiração a diversos pedagogos, como o brasileiro Paulo Freire.

Reações ao fuzilamento de Ferrer y Guardia nos Açores

O fuzilamento de Ferrer foi muito noticiado nos Açores, nomeadamente na ilha de São Miguel, tendo as posições variado muito. Com efeito, os órgãos de informação mais progressistas, nomeadamente de inspiração anarquista, como o “Vida Nova” ou socialista, como “O Repórter, e republicana condenaram veementemente o assassinato. Houve pelo menos um jornal que tentou manter a neutralidade, o Diário dos Açores, e outros, mais conservadores, como a Liberdade, de Vila Franca do Campo, ou o Correio Michaelense, de Ponta Delgada, pelo contrário apoiaram o governo espanhol e regozijaram-se com o desaparecimento prematuro daquele pedagogo espanhol.
Num texto, não assinado, publicado no Jornal A Folha, no dia 24 de Outubro de 1909, a dada altura o autor ou autora, supomos que a feminista e republicana Alice Moderno condenou o crime, escrevendo o seguinte:
“Ferrer foi um brasseur d’idées, foi um desses indivíduos excecionais que, nesta época de egoísmo, em que se entrechocam os mais sórdidos e desmedidos interesses pessoais, sacrificou toda a sua fortuna particular, toda a segurança individual, toda a sua tranquilidade espiritual, por uma ideia- combatendo por ela até ao ponto de ver correr, pelos furos das balas reais, o seu sangue generoso”.
O jornal “O Repórter”, cujo proprietário e diretor era o socialista Alfredo da Câmara, no dia 24 de Outubro de 1909, também condenou o assassinato de Ferrer nos seguintes termos: “não é impunemente que se mata ou manda matar um Ferrer, entidade de destaque no campo das lutas pelas reivindicações sociais; não é impunemente que se arremessa um cartel de desafio aos explorados, para regalo dos exploradores, aos pobres e aos humildes para tranquilidade dos argentários poderosos…”.
No dia 31 de outubro do mesmo ano, o articulista de “O Repórter” escreveu que “a execução de Ferrer foi um assassínio monstruoso, levado a cabo pelos jesuítas e congreganistas espanhóis de cumplicidade com um governo de camândulas e de punhal”.
A 10 de Novembro de 1909, João Anglin, então jovem estudante anarquista, escreveu no jornal “Vida Nova” o seguinte:
“Não foi em vão que Cristo regou com o seu sangue as urzes do Calvário, porque a sua doutrina sublime, apesar de deturpada e adulterada pelos que se dizem seus ministros, tem atravessado os séculos; não foi debalde que Giordano Bruno, Lourenço de Gusmão, Galileu e tantos outros sofreram horrorosos tormentos, porque a ciência que tanto amavam e por quem deram a vida, tem defendido radiosa Luz entre a espécie humana.
Assim também Francisco Ferrer, a infeliz vítima da malta reacionária, dessa horda de facínoras que para vergonha nossa ainda campeia infrene, acaba de ser cobardemente assassinado em Barcelona. A reação desde há muito tramava contra a existência desse grande vulto, desde há muito tentava perdê-lo. Buscou a ocasião propícia e achou-a.
Estão saciados os ódios, estão satisfeitas as feras!!”

O jornal Diário dos Açores, o de maior circulação nos Açores na época, manteve-se imparcial, tendo no primeiro texto, publicado no dia 26 de outubro de 1909, relatado os últimos momentos de Ferrer e sintetizado o seu pensamento na seguinte frase: “A filosofia de Ferrer era simples: resumia-se no ódio forte e ardente à Igreja: o anticlericalismo era o seu dogma; tinha posto na ciência uma fé absoluta.”

Ao longo de cerca de 20 dias o jornal relatou o julgamento de Ferrer, as reações ao seu fuzilamento em vários países do mundo, com destaque para a transcrição de notícias de vários jornais. Relativamente a Portugal, para além das manifestações de protesto, destacamos um abaixo-assinado a saudar o desempenho do advogado de Ferrer que foi subscrito por várias personalidades, entre as quais o açoriano Manuel de Arriaga.

O Correio Michaelense, diário monárquico, por seu lado, tomou uma posição bem clara de condenação do pensamento de Ferrer, que distorceu em textos publicados durante alguns dias.
No dia 18 de outubro, um colaborador do jornal, em relação à morte de Ferrer escreveu o seguinte: Chamem-me, muito embora, os nomes que quiserem, esses que aí falam do caso com a lágrima velhaca no canto do olho hipócrita. Eu e eles sentimos da mesma forma, isto é, não sentimos cousa alguma pela morte de Ferrer, como não sentimos quando morre qualquer pessoa que não temos o gosto ou desgosto de conhecer”.
A explicação para esta posição deve-se ao facto do articulista considerar Ferrer “um livre pensador, propagandista da livre educação e fundador da Escola Moderna, escola ou grupo de escolas onde se observava o seu método educativo, assente na seguinte base. – Nem deus, nem pátria, nem fé, nem leis”.
O semanário monárquico e católico de Vila Franca do Campo, A Liberdade, dirigido pelo Padre Manuel José Pires seguiu as mesmas pisadas do Correio Micaelense, tendo publicado um texto a deturpar o que pretendia a Escola Moderna.
No dia 16 de outubro de 1909, esquecendo-se da compaixão pregada pelo cristianismo, o jornal aplaudiu a decisão do governo espanhol de mandar assassinar Ferrer nos seguintes ternos:
“Este revolucionário espanhol, e principal instigador das crueldades praticadas em Barcelona foi condenado à morte.
É mais uma vítima do movimento anárquico, que se pretende alastrar por toda a parte, pondo em sobressalto as nações e seus governos.
Se, porém, todos estes tiverem a energia do Governo Espanhol será restabelecida a tranquilidade pública.
É dura a lei da morte, mas em tais casos é a única salvação das nações no descalabro que as ameaça.”
O jornal A Persuasão, dirigido por Francisco Maria Supico, no dia 27 de outubro de 1909, num texto não assinado, intitulado “Guilhotinar, Fusilar” condenou os atos atribuídos a Ferrer, mas manifestou claramente a sua oposição ao seu fuzilamento, como se pode constatar através do seguinte extrato:
“A nosso ver o governo espanhol perdeu na questão Ferrer a melhor das ocasiões de se mostrar generoso e de grandemente se insinuar na simpatia universal, poupando a vida ao criminoso embora o mandasse para um presídio gastar em trabalhos úteis todos os alentos da sua vitalidade.
Pelo modo como procedeu com o revolucionário não acabou as revoluções antes muito contribuiu para aumentá-las; e menos demonstrou que matar é crime pois também matou.
Protestamos com todas as nossas forças contra este selvático modo de exercer justiça social”
Por último, o jornal, a União, de Angra do Heroísmo, dirigido por Manuel Vieira Mendes da Silva, no dia 18 de outubro de 1909, para além de condenar Ferrer, classificando-o como “um agitador raivoso”, apoiou a decisão do governo espanhol de o mandar executar e denunciou os republicanos portugueses por se terem colocado ao lado daquele pedagogo espanhol.
Sobre o assunto podemos ler:
“Um grupo d’homens que aproveita a condenação d’um grande malfeitor para mostrar sentimentos d’humanitarismo e dar provas de solidariedade política não é um partido com aspirações de governo, é quando muito, uma patrulha sem orientação e sem plano definido, disposta a levar ao meio da sociedade a desordem e toda a casta de perturbações.”
Considerações finais
O assassinato de Ferrer, que foi condenado pelas mais diversas entidades mais progressistas em todo o mundo, foi, também, aplaudido pelos sectores mais conservadores da sociedade, onde se incluía a hierarquia da igreja católica.
A condenação de Ferrer não foi o resultado de qualquer crime que tivesse cometido. Pelo contrário, Ferrer foi condenado por defender uma educação emancipadora ou como muito bem escreveu Anatole France, “o seu crime foi ser republicano, socialista, livre-pensador, o seu crime foi ter criado um ensino laico em Barcelona…”
Mais de um século depois da sua morte, importa continuar a estudar e dar a conhecer o pensamento de Ferrer, não só pelo seu valor histórico, mas porque a escola e a sociedade atuais atravessam uma profunda crise e alguns dos princípios da sua Escola Moderna ainda não perderam atualidade.
Principais fontes consultadas
Ferrer y Guardia, F. (2014). A Escola Moderna. São Paulo: Biblioteca Terra Livre
Sánchez, E. (s/d). Francisco Ferrer i Guardia Una educación libre, solidaria, que lucha contra la injusticia. http://educomunicacion.es/figuraspedagogia/0_ferrerguardia.htm

Teófilo Soares de Braga
Janeiro de 2019
(Letra a Letra, nº 8, abril de 2019)

domingo, 14 de abril de 2019

A Religião nas escolas

Diário dos Açores, 12 de abril de 2019

quinta-feira, 14 de março de 2019

O desafio do ensino/aprendizagem dos conceitos de massa e de peso


O desafio do ensino/aprendizagem dos conceitos de massa e de peso

Uma das aprendizagens essenciais do 7º ano de escolaridade da Disciplina de Físico-Química é “distinguir peso e massa de um corpo, relacionando-os a partir de uma atividade experimental, na qual constrói tabelas e gráficos”.
Embora pareça tarefa simples diferenciar peso de massa, o trabalho do professor esbarra com algumas dificuldades, sendo a primeira o quase não uso do conceito físico de massa em detrimento do de peso, que é usado, erroneamente, na linguagem do dia-a-dia.
Antes de fazermos referência à segunda dificuldade que é o ensino errado que é feito no 1º ciclo do ensino básico, induzido pelo programa oficial, por alguns manuais escolares e por alguns formadores dos docentes daquele nível de ensino, apresentamos os dois conceitos tal como são expostos no Projeto Desafios de Ciências Físico-Químicas destinado ao 7º ano de escolaridade, editado pela Santillana-Constância, em 2012.
De acordo com as autoras, a massa é uma grandeza física que caracteriza a quantidade de matéria que um corpo possui, não depende do local onde se encontra, tem como unidade no Sistema Internacional o quilograma (kg) e pode ser determinada utilizando uma balança. O peso, por seu lado, “corresponde à força de atração gravitacional da Terra sobre o corpo, depende do local onde o corpo se encontra, tem como unidade no Sistema Internacional o newton (N) e pode ser medido com dinamómetros”.
Face ao exposto não se compreende a razão pelo facto da massa ser, com muita frequência confundida com o peso e a gravidade de tal ato é maior quando tal confusão surge em documentos oficiais ou em manuais usados nas nossas escolas, como se pode confirmar através dos seguintes exemplos:
1- “A meloa pesa …quilograma (kg).” (documento distribuído aos professores do primeiro ciclo da RAA)
Como vimos o quilograma é unidade de massa, portanto não devia ser usado naquela situação.
2- “Nestes cestos, as bolas grandes pesam 9 kg e as bolas pequenas pesam 3 kg.” (Fichas de avaliação do 3º ano)
Erro semelhante ao anterior.
3- “Para medires a massa (peso) deves utilizar uma balança.” (ficha de um Caderno de Fim de Semana para o 3º ano)
Neste caso, o autor (ou autores?) une os dois conceitos num só o que não é correto.
Já vimos que peso e massa são grandezas diferentes, mas será que há alguma relação entre elas?
Num manual escolar para o 1º ano do Curso Complementar do ensino secundário (atual 10º ano de escolaridade) os seus autores, entre os quais se encontra o inesquecível Rómulo de Carvalho/António Gedeão, o peso era definido como “a força que determina a aceleração com que o corpo cai para a Terra”.
A sua equação de definição da sua intensidade, - não esquecer que o peso é uma grandeza vetorial e como tal para além daquela caraterística também apresenta uma direção, um sentido e um ponto de aplicação –, é:
P = mg
A letra m é a nassa do corpo e a g representa a aceleração da gravidade.
Sabendo-se que o valor da aceleração da gravidade é, em média, 9,8 m/s2, torna-se muito fácil estabelecer a relação entre o peso de um corpo e a sua massa. Assim, se um corpo qualquer tiver a massa de 1 kg, o seu peso será 9,8 N (newton):
P = 1 x 9,8= 9,8 N
No passado, também se usava como unidade de força o quilograma-força, cujo símbolo era kgf e equivalia ao peso de um corpo com a massa de um quilograma sujeito à ação da gravidade. Não sei se o seu uso não seria útil para ajudar a esclarecer que peso e massa são duas grandezas bem distintas. Assim, quando a massa fosse 1 kg o seu peso seria 1 kgf.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31777, 14 de março de 2019, p.12)

quarta-feira, 13 de março de 2019

NA LINHA DO MEM - MOVIMENTO DA ESCOLA MODERNA


NA LINHA DO MEM - MOVIMENTO DA ESCOLA MODERNA







INTRODUÇÃO/JUSTIFICAÇÃO


O alargamento da escolaridade obrigatória não significou o surgimento de uma “escola de todos que permita a cada um ir o mais longe possível no processo de aprendizagem e desenvolvimento” (Nóvoa, 2012).

Analisando os resultados escolares facilmente se conclui que estão longe do desejável, já que as retenções e o abandono precoce, apesar das várias medidas tomadas pelas entidades governamentais, continuam elevados. Grave- Resendes e Júlia Soares (2002), sobre o assunto afirmam o seguinte: “A escola não tem promovido, em geral, a igualdade de oportunidades educativas para os alunos, visto que a sua organização foi concebida para alunos da cultura média dominante”.

Sérgio Niza, citado por Grave- Resendes e Júlia Soares (2002) defende que “só a partir de uma pedagogia diferenciada centrada na cooperação entre professor e os alunos e destes entre si se poderão por em prática os princípios da inclusão, da integração e da participação democrática, isto é, os Direitos da Criança”.

Desde 2015, temos participado em ações de formação promovidas pelo MEM- Movimento da Escola Moderna, associação de profissionais da educação, professores e educadores, que propõe a implementação, nas escolas, de um modelo pedagógico onde os alunos são envolvidos e corresponsabilizados pela sua aprendizagem.

Em anos anteriores, sobretudo no ensino básico apliquei algumas estratégias/técnicas e instrumentos de pilotagem usados pelo MEM. Este ano pretendo aplicar o Modelo Pedagógico do MEM de forma mais globalizada.

O que é o MEM?

O Movimento da Escola Moderna é uma Associação Pedagógica de Professores e de outros Profissionais da Educação. Criado nos anos 60, foi formalizado juridicamente como associação pedagógica em 1976.
Constituído por mais de dois mil profissionais empenhados na integração dos valores democráticos na vida das escolas, encontra-se hoje espalhado por quase todo o país e organiza-se em Núcleos Regionais.

Através dos Núcleos, desenvolve anualmente um vasto Plano de Formação, que se concretiza, predominantemente, em ações sistemáticas integradas nas estruturas de autoformação cooperada ou no quadro de formação contínua de professores – formação acreditada – promovida pelo Centro de Formação do MEM e apoiada pelo Centro de Recursos.

Em 2001 o MEM foi reconhecido como Pessoa Coletiva de Utilidade Pública e em maio de 2004, no âmbito das comemorações do 30º aniversário do 25 de Abril, foi agraciado como Membro-Honorário da Ordem da Instrução Pública.

Em 2018, foi criado o Núcleo Regional de São Miguel, que tem promovido a formação de professores nos “Sábados Pedagógicos” que têm ocorrido na Escola Secundária das Laranjeiras.

Princípios Estratégicos

O Modelo Pedagógico do MEM , de acordo com Grave- Resendes e Júlia Soares (2002), é “sociocêntrico cuja prática democrática da gestão dos conteúdos, das atividades, dos materiais, do tempo e do espaço se fazem em cooperação. A participação dos alunos na organização, gestão e avaliação cooperadas de toda a vida da turma constituem um exercício de cidadania democrática activa”.

A cultura pedagógica do MEM, segundo Sérgio Niza, citado por González (2002) está subordinada aos seguintes princípios estratégicos:

“1. Os meios pedagógicos veiculam (em si) os fins democráticos da educação.

2. A actividade escolar enquanto contrato social e educativo, explicitar-se-á através da negociação progressiva dos processos de trabalho que fazem evoluir a experiência pessoal para o conhecimento dos métodos e dos conteúdos científicos, tecnológicos e artísticos.

3. A prática democrática de planeamento (actividades e projectos) organização, avaliação e regulação social da vida escolar, partilhada por todos, institui-se em conselho de cooperação.
4. Os processos de trabalho escolar reproduzem os processos sociais autênticos da construção da cultura nas ciências, nas artes e no quotidiano (homologia de processos).


5. A informação partilha-se através de circuitos sistemáticos de comunicação dos saberes e das produções culturais dos alunos (ciclos de produção/consumo).


6. As práticas escolares darão sentido social imediato às aprendizagens dos alunos, através da partilha dos saberes e das formas de intervenção social.


7. Os alunos intervêm ou interpelam o meio social e integram na aula “actores” comunitários como fonte de conhecimento nos seus projectos.”



Estratégias/técnicas

Conselho de Cooperação Educativa

É composto por todos os membros da turma e alunos que se reúnem para:

- Regular as relações sociais na turma e instituir normas de convivência;

- Gerir eventuais conflitos na turma;

- Planear, acompanhar, orientar e avaliar as aprendizagens;


Tempo de Estudo Autónomo

É um tempo utilizado pelos alunos, individualmente ou em pequenos grupos, para trabalharem em função das suas necessidades e interesses, desenvolverem atividades de treino das aprendizagens, estudarem e realizarem projetos.

É o tempo ideal para o professor apoiar os alunos com dificuldades em determinadas áreas de aprendizagem.
Trabalho de Projeto

É uma modalidade de trabalho que existe há muito tempo, mas que não tem sido suficientemente ou devidamente utilizada.

De acordo com, Grave- Resendes e Júlia Soares (2002), entre outros aspetos a considerar no MEM no trabalho de projeto:

“- Os autores dos projetos são os alunos;
- Não há um projeto único para toda a turma. Desenvolvem-se, em simultâneo, vários projetos em diferentes fases de execução;
- Não há grupos fixos. Formam-se segundo os interesses dos alunos pelos temas;
- Os processos e os produtos de cada projeto são objeto de comunicação à turma;
- Os alunos que comunicam elaboram questionários, fichas ou outros instrumentos destinados a averiguar até que ponto a sua comunicação contribuiu para a aprendizagem pelos seus colegas.
- O professor apoia rotativamente os alunos.”


Materiais pedagógicos

- Manual adotado e outros

- Fichas

- Livros

- Computador com ligação à internet

- Filmes/vídeos

- Trabalhos dos alunos


Instrumentos de pilotagem

De entre os instrumentos de pilotagem existentes, pretendemos aplicar os seguintes:

- Planos anual (PA)

Consiste essencialmente de uma listagem de conteúdos e atividades cujo principal objetivo é dar o programa oficial em linguagem acessível aos alunos.

De acordo com Pires (2006), os alunos na elaboração do PA podem:

“- Apresentar interesses e expectativas, a serem contemplados no Plano Anual;

- Apresentar propostas de trabalho para o Plano Anual;

- Discutir e negociar (procurando o consenso) as várias propostas;

- Tomar decisões, em conjunto com o professor e os restantes colegas.”


- Plano Individual de Trabalho (PIT)

É um roteiro que guia o trabalho dos alunos, tendo um papel determinante no incremento da sua autonomia ao mesmo tempo que faz com que eles se comprometam e se responsabilizam pelo que têm de fazer.

No PIT para além de um espaço destinado às tarefas a realizar pelo aluno há uma área destinada à autoavaliação e à heteroavaliação


- Diário de Turma

É o registo do que se passa na turma, ocorrências positivas e negativas e do que de mais significativo foi realizado. Serve de suporte à negociação e à regulação da vida da turma.



Critérios de Avaliação

- Assiduidade

- Pontualidade

- Autonomia

- Trazer material necessário

- Respeitar as regras de conduta

- Capacidade de autoavaliação

- Observa e coloca questões pertinentes, relaciona ideias e persiste nas tarefas propostas.

- Interpreta enunciados, escolhe estratégias adequadas e verifica criticamente os resultados, justificando o seu raciocínio.

- Recolhe, organiza e interpreta, de forma criteriosa, informação relacionada com a física e a química.

- Realiza as tarefas propostas

- Realiza tarefas por iniciativa própria.

- Faz os registos das aulas

- Intervém de forma adequada

- Respeita as ideias dos outros

- Revela espírito de interajuda

- Reflete e critica o seu trabalho e o dos colegas

- Revela hábitos de trabalho




Instrumentos de Avaliação


- Grelhas de registos de observação

- Observação direta/participação no trabalho da aula

- Registos de participação oral e escrita

- Trabalhos individuais /a pares /em grupo

- Observação/correção dos trabalhos produzidos nas aulas

- Fichas de avaliação sumativas

- Fichas de avaliação formativas

- Fichas de auto e heteroavaliação

- Caderno diário


BIBLIOGRAFIA


González, P. (2002). O Movimento da Escola Moderna- um percurso cooperativo na construção da profissão docente e no desenvolvimento da pedagogia escolar. Porto: Porto Editora.

Grave-Resendes, L., Soares, J. (2002). Diferenciação Pedagógica. Lisboa: Universidade Aberta.

Nóvoa, a. (2012). Ética, pedagogia e democracia são exatamente a mesma coisa. In Nóvoa, A., Marcelino, F., Ramos do Ó, J. (orgs.), Sérgio Niza escritos sobre educação, Lisboa: Tinta da China

Pires, J. (2006). O Planeamento no Modelo Pedagógico do Movimento da Escola Moderna. In revista Escola Moderna, nº 17, pp 23-66

Setembro de 2018

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2019

Sábado Pedagógico de fevereiro

a

Vimos lembrar a realização do próximo Sábado Pedagógico do MEM S. MIGUEL, com o seguinte programa

9.30 - Receção

9.45 - “Trabalho dos alunos na escola vs apoio da família em casa” Paula Wallenstein – 2.º ciclo

10.00 - “A escrita sem medos.” Dora Ferreira – 1.º CEB

10.15 - Caminhando pelos projetos em Jardim de Infância – “Orelhas de borboleta” (estagiária Carolina Soares) e “Galeria de Arte” da estagiária Nélia Soares

10.30 - “Avançando na Linha do MEM no Ensino Secundário” – Teófilo Braga - Secundário

10:50 - Relato de uma experiência de formação em contextos carenciados

11.00 - Lanche

11.30 - Trabalho em grupo por níveis de ensino/áreas disciplinares

As inscrições, gratuitas, podem ser feitas em https://goo.gl/forms/zbCUZ10MUJqTKTxu2

domingo, 10 de fevereiro de 2019

Orçamento participativo?


Para iludir os mais distraídos inventaram os orçamentos participativos. Nas escolas alguns dos projetos não serevem para quem supostamente deviam, os alunos.

terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

A Educação Popular, Ferrer y Guardia e a Educação Racional



Textos livres (1)
A Educação Popular, Ferrer y Guardia e a Educação Racional

Propriedade da Biblioteca da Sociedade Promotora da Educação Popular, editou-se, em Lisboa, a “Educação Popular”, publicação mensal, literária, educativa e anunciadora.

Dirigido por Benjamim Correia Pequeno, o jornal “Educação Popular” viu a luz do dia na 1 de abril de 1909, tendo por fim “conseguir com a sua venda, apurar receitas para aumentar a Biblioteca da nossa Sociedade, e comprar livros e mais expediente escolar para as alunas das aulas de primeiras letras e instrução primária, podendo, quando a receita para tal chegue, estender esta dádiva a outras aulas”.

Através da leitura dos números existentes na Biblioteca Nacional, não sabemos se todos os publicados, constata-se que o jornal “Educação Popular” recebia o jornal A Folha publicado em São Miguel por Alice Moderno e A Voz do Professor, da ilha Terceira, que se publicou em 1909 e 1910.

Nas suas páginas podem ser encontrados textos de, entre outros, Ladislau Batalha (1856-1939), um dos fundadores do Partido Socialista, João Black (1872-1955), sindicalista que foi autor do hino “A Batalha” e Magalhães Lima (1850-1928) republicano anticlerical.

Em diversos números do jornal há referências à Escola Moderna de Ferrer e Guardia e ao seu ensino racional e em dois números, 8 e 9, é abordada a prisão e o assassinato daquele pedagogo espanhol.

No nº 8 oito, de 3 de outubro de 1909, que tem como tema principal a comemoração do aniversário da Sociedade Promotora da Educação Popular, o jornal redozija.se pelo facto, mas não se esquece da situação em que se encontrava Ferrer y Guardia nos seguintes termos:

“Estramos em festa. Mas apesar de tanta alegria que nos circunda, uma coisa nos entristece. A prisão de Ferrer. Por isto, fazemos sinceros votos para que o protesto universal contra a prisão daquele intemerato educador seja ouvido pelo governo espanhol”
No número seguinte, publicado em novembro de 1909, sem data do dia, o jornal condena o assassinato de Ferrer. Sobre o assunto podemos ler o seguinte:

“Lançamos o anátema da nossa indignação sobre os factos inquisitoriais passados em Espanha que são uma afronta aos princípios da Liberdade. Condenamos, em nome da Razão e da Justiça a morte de Ferrer e dos seus companheiros. E para a Espanha que tal pratica, temos centelhas de ódio. Essa Espanha, porém, é a Espanha de Maura, a Espanha da reação clerical, a Espanha fanática e supersticiosa ainda agarrada ao passado.”

Nos textos sobre as propostas defendidas por Ferrer y Guardia há referência ao “ensino misto que consiste em que os meninos e as meninas obtenham educação idêntica” e valorizada a ciência que é considerada “a única mestra da vida”.

Sobre o ensino racionalista, o jornal transcreve no seu número 10 de janeiro de 1910 um texto de José Simões Coelho, onde este escreve a dado passo o seguinte:

“Ensino racionalista quer dizer: o ensino que tem como meio a razão e como fim a ciência; como esta ainda não disse a sua última palavra sobre qualquer assunto, resulta que o assunto racionalista não tem programa fixo. Pelo contrário.

Ao ensinar todos os dias os fenómenos físicos do universo e fenómenos sociais da humanidade, fá-lo com a especial reserva de que só tem mérito o que está comprovado, o que os sentidos admitem e a experiência sanciona.”

Pico da Pedra, 6 de fevereiro de 2019

Teófilo Braga

domingo, 3 de fevereiro de 2019

As contradições de Avelino


Depois de por várias vezes afirmar que os Açores esperariam pelo que fosse decidido a nível regional, o que fez com que Avelino Meneses mudasse de opinião? Sondagens?

sábado, 26 de janeiro de 2019

Aulas nas interrupções letivas


Alguns partidos insistem na tolice.