sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

terça-feira, 12 de dezembro de 2017

Boletim nº 7 do MEM

B

terça-feira, 14 de novembro de 2017

Nem sempre se educa nas escolas


Uma vergonha a deseducação para os maus tratos anos animais que é promovida por uma escola pública dos Açores. até quando?

terça-feira, 7 de novembro de 2017

O Pedagogo Adolfo Lima


O Pedagogo Adolfo Lima

Quando se fala no Movimento da Escola Moderna há nomes que é obrigatório referir pelo seu contributo para a filosofia daquela organização portuguesa de autoformação cooperada de professores.
Sérgio Niza, o nome mais conhecido e o líder daquele movimento, num texto publicado, em 2001, na revista “Escola Moderna”, recorda os nomes dos franceses Célestin Freinet e Barthélemy Profit, dos norte-americanos John Dewey e Jerome Bruner e do russo Liev Vygostky. Relativamente aos portugueses, Sérgio Niza destaca os nomes de António Sérgio, já mencionado em textos anteriores que publicamos no Correio dos Açores, e de Adolfo Lima, que daremos a conhecer no texto de hoje.

Adolfo Godfroy de Abreu e Lima, nasceu em Lisboa no dia 28 de maio de 1874 e faleceu, com 69 anos de idade, na mesma cidade a 27 de novembro de 1943. Filho de família abastada pertencente à nobreza, segundo Alexandre Vieira no seu livro “Figuras Gradas do Movimento Social Português, “poderia ter usado, após o desaparecimento do seu progenitor, o título de conde, que lhe pertencia, mas que não quis adoptar, do mesmo passo que abandonou todas as honrarias e proveitos, preferindo fazer uma vida apagada, mas plena de trabalho fecundo”.

Adolfo Lima que foi Bacharel em Direito pela Universidade de Coimbra, tendo exercido advocacia entre 1902 e 1910, abandonou a sua profissão para se dedicar ao ensino, segundo Alexandre Vieira, porque “capacitara-se de que estivera deslocado, até então, do ponto de vista profissional”. O historiador, arquivista e escritor Edgar Rodrigues, numa nota biográfica corrobora as afirmações anteriores quando afirma que: “Os seus sentimentos incompatibilizaram-no com a sua profissão e foi ser professor de Sociologia no Curso Livre de Arte de Representar na Associação de Classe dos Artistas Dramáticos”.

Não sendo operário, Adolfo Lima dedicou grande parte da sua vida á luta pela emancipação dos trabalhadores, tendo colaborado com as suas organizações sindicais, como a Comissão Executiva do Congresso Sindicalista, a União Operária Nacional e a Confederação Geral do Trabalho, tendo sido ele, segundo Edgar Rodrigues, o autor da tese Organização Social Sindicalista, apresentada no Congresso da Covilhã, realizado em 1922.

Na área da educação, Adolfo Lima foi professor do ensino particular em diversos estabelecimentos de ensino, lecionou no Liceu Pedro Nunes, de 1911 a 1923, na Escola Normal Primária de Lisboa onde foi responsável pela disciplina de Metodologia, criou e dirigiu a Escola-Oficina nº 1, foi chefe dos Serviços Escolares da Sociedade A Voz do Operário, colaborou com a Universidade Popular Portuguesa e foi dirigente da Sociedade de Estudos Pedagógicos e da Liga de Ação Educativa.

Para além de ter colaborado em diversas revistas e jornais de orientação libertária, traduziu várias obras de autores famosos, como a “Verdade”, de Emílio Zola, e “A Luta Univeral”, de Dante. Das diversas obras da sua autoria, destacamos a “Pedagogia Sociológica: princípios de pedagogia e plano de uma organização geral de educação”, em dois volumes, publicada em 1936. Ainda na área do ensino, Adolfo Lima fundou a revista Educação Social e a Enciclopédia Pedagógica Progredir.

De acordo com Edgar Rodrigues, “a sua actividade mais importante exerceu-a na Escola Oficina n.° 1, no Largo da Graça. Nesta escola que existiu entre 1906 e 1926 e que funcionava em regine de coeducação sexual e onde as punições físicas eram proibidas, há a destacar quatro aspetos que de acordo com o texto “Movimento operário português e educação (1900-1926) de António Candeias eram os seguintes:
1- A existência de trabalhos manuais:

2- A existência de uma associação de alunos, a Solidária, que tinha à sua responsabilidade a organização das refeições, de festas, competições desportivas, etc.;

3- A introdução de disciplinas como a dança, o teatro e a música;

4- A “preocupação de desagregação tanto social como sexual; fábricas para raparigas, bordado e dança para rapazes; música, teatro e dança para filhos de operários, fábricas de latoaria para filhos de intelectuais, etc.”

Casimiro Amado, por seu turno, num texto publicado em 1998, considerou Adolfo Lima como o “introdutor da escola única em Portugal” e o “autor duma verdadeira reflexão nacional sobre o problema ao relacioná-lo com a realidade educativa e social portuguesa”.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31375, 8 de novembro de 2017, p.16)

quarta-feira, 1 de novembro de 2017

Charcos com vida

terça-feira, 31 de outubro de 2017

Educar de outra maneira: O MEM e a Escola da Ponte


Educar de outra maneira: O MEM e a Escola da Ponte

“…Isso prova que o homem mais bem dotado pela natureza só recebe faculdades, mas essas faculdades permanecem mortas se não forem fertilizadas pela ação benfazeja e poderosa da coletividade. Diremos mais. Quanto mais o homem é beneficiado pela natureza, mais ele apreende da coletividade; disso resulta que mais ele deverá devolver-lhe, com toda justiça.” (Mikhail Bakunin)
Um texto intitulado “Sempre a aprender”, publicado na revista “Máxima”, de setembro de 2017, leva o leitor a fazer um rápido percurso por diversas “escolas que ensinam diferente”, como as Escolas João de Deus, que tem como modelo de ensino a Cartilha Maternal, a Escola da Ponte, que possui um modelo criado por José Pacheco, a Voz do Operário, que recorre às teorias socioconstrutivistas, Os Aprendizes, inspirada na metodologia High Scope, na pedagogia Waldorf, etc.

Entre nós, nos últimos anos, um grupo ainda não muito grande de professores e educadores, dos poucos que ainda estão vivos nas escolas, tem frequentado ações de formação relacionadas com o projeto pedagógico da Escola da Ponte e com o Movimento da Escola Moderna, o mais importante movimento pedagógico português, segundo António Nóvoa.

A Escola da Ponte é uma escola pública criada por José Pacheco em 1976, infelizmente mais conhecida no estrangeiro do que em Portugal, e o Movimento da Escola Moderna surgido “a partir da atividade de seis professores que se constituíram, em fevereiro de 1965, num Grupo de Trabalho de Promoção Pedagógica impulsionado pelos cursos de aperfeiçoamento profissional de professores que Rui Grácio promoveu e dirigiu no Sindicato Nacional de Professores”, tem como principal mentor o pedagogo Sérgio Niza.

Na ilha de São Miguel há um grupo de professores que de algum modo tem ligação com a Escola da Ponte, estando a desenvolver esforços para a criação de uma escola inspirada naquela e há outro grupo que está a fazer a sua autoformação cooperada no Movimento da Escola Moderna que organiza mensalmente “sábados pedagógicos”, abertos a todos os professores e educadores interessados.

Talvez por haver pessoas que estão envolvidas em ambas as iniciativas, há por vezes alguma confusão entre a experiência pedagógica portuguesa mais conhecida, a Escola da Ponte e o Movimento da Escola Moderna. A título de exemplo, refiro a pergunta que me foi feita recentemente: a escola não abre, então por que razão continua a formação que vocês não param de fazer?

Outra questão que tem surgido é se o Movimento da Escola Moderna é uma organização que se limita a usar as técnicas do pedagogo francês Célestin Freinet?

Começando por responder a esta última questão, Sérgio Niza, em 1997, numa entrevista à revista Noésis, afirmou o seguinte: “Não partimos como Freinet da ideia de construir um modelo escolar, mas sim de nos formarmos como professores e dessa forma irmos fazendo avançar as nossas práticas. […] Isso não impede que ainda hoje utilizemos algumas técnicas Freinet, porque, em boa verdade, as técnicas Freinet não eram dele. Foram técnicas que estavam disponíveis e a que deu novo sentido”.

Em relação às diferenças entre o MEM e a Escola da Ponte, Sérgio Niza, numa entrevista concedida a Júlio Aquino, da Universidade de São Paulo, publicada, em 2013, na revista “Educação e Pesquisa”, disse que “a Escola da Ponte manteve-se numa aproximação a muitas coisas que são da Escola Nova, mesmo na sua estrutura, nas grandes assembleias de alunos, uma grande individualização do trabalho dos alunos, quase mesmo uma aprendizagem individual.”

Ainda sobre a Escola da Ponte e sobre as diferenças em relação ao MEM, Sérgio Niza afirmou: “Se aprofundassem o modelo de trabalho deles, iriam descobrir que se mantinham ligados a uma espécie de pedocentrismo centrado nos planos curriculares individuais das crianças, o que conflitua com uma forte dimensão cooperada de entreajuda que funda as nossas práticas de comunidades de aprendizagem”.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31370, 1 de novembro de 2017, p.8)

sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Por que razão continuam as papelarias das escolas a vender folhas de testes?




Segundo diretiva da Direção Regional da Educação "não devem ser cobradas aos alunos abrangidos pela escolaridade obrigatória quaisquer taxas por cartão de identificação, caderneta do aluno, ou documento que o substitua, impressos de matrícula / inscrição ou de transferência de escola, folhas de teste, impressos de inscrição para exames, certificados ou quaisquer outros documentos relacionados com a matrícula, frequência e conclusão da escolaridade obrigatória e sua certificação, salvo quando se trate de 2.as vias, por motivo de extravio ou outro da responsabilidade dos alunos".

Por que razão continuam as papelarias das escolas a vender folhas de testes?

terça-feira, 19 de setembro de 2017

Escola da Ponte



A Ponte está cercada

A passos largos para atingir os quarenta anos de serviço como professor de várias escolas públicas, na ilha Terceira e em São Miguel, e com alguma experiência de lecionação em três escolas profissionais, continuo a interrogar-me sobre o papel das escolas na sociedade de hoje.

Aproveitei o período de férias anuais para ler vários livros, sobre os mais diversos temas e como não podia deixar de ser sobre os relacionados com a escola, o ensino e a educação.

De entre os livros que li, destaco o de Paulo M. Morais intitulado “Voltemos à Escola”, sobre a experiência da Escola da Ponte que, sendo uma escola pública, ensina de forma diferente, seguindo os mesmos princípios há 40 anos.

A Escola da Ponte existe, segundo António Sampaio da Nóvoa, graças à inteligência e energia de José Pacheco e de todas as pessoas que deram continuidade ao projeto até hoje. Ainda segundo o referido autor, a Escola da Ponte: “é apenas, e isso é o mais, uma iniciativa de educadores, que se foram juntando, pensando e construindo práticas pedagógicas diferentes, abrindo-se à sociedade, colaborando com os pais, dando aos alunos o seu lugar próprio na escola”.

Se antes da leitura do livro tinha muitas dúvidas, a verdade é que ainda continuo com muitas outras, uma das quais estava relacionada com o tipo de alunos que frequentavam a escola. Isto é, pensava que o sucesso da Escola da Ponte só era possível através de uma boa seleção de alunos, o que não é verdade, pois a escola trabalha com todo o tipo de crianças e jovens, até com aqueles a que denominavam “lixo”.

Depois da leitura de muitos pedagogos libertários, pensei que a Escola da Ponte fosse influenciada por algum deles, mas, através da leitura do livro, cheguei à conclusão de que, embora haja muito em comum, aqueles não foram referência para a Ponte. Com efeito, as referências pedagógicas da Escola da Ponte são uma publicação da Unesco sobre o ensino individualizado, o filósofo francês Emmanuel Mounier, o pedagogo francês Celéstin Freinet, a pedagoga e médica italiana Maria Montessori, o filósofo e pedagogo norte-americano John Dewey, o pedagogo norte-americano William Kilpatrick e o movimento pedagógico português “Movimento da Escola Moderna”. Para além do mencionado, José Pacheco acrescentou às suas influências: “Nunca cito isso, mas apetece-me: a maior referência para mim foi [Jiddu] Krishnamurti. E toda a tradição de Mahatma Gandhi e Lanza del Vasto.”.

Possuindo a Escola da Ponte mais de quarenta anos e tendo superado todas as avaliações externas, por que razão o seu “modelo” não se replicou e pelo contrário o seu isolamento é tal que vive sempre no fio da navalha?

A verdade é que a Escola da Ponte é mais conhecida no estrangeiro, sobretudo no Brasil, do que em Portugal e o seu projeto ao contrário de ser promovido pelas entidades governamentais tem sido alvo de ataques à espera que a mesma colapse.

Como exemplo, refiro o caso da colocação de professores que, ao contrário do que acontecia, passou a ser igual ao de todas as outras escolas, em vez de a mesma poder fazer a seleção. Assim, embora pareça que foi feita justiça, acontece que na Escola poderão passar a ser colocados professores “que não entendem ou se identificam com a metodologia em prática, equivale ao risco de que o projeto Fazer a Ponte possa ruir por uma espécie de autofagia”.

Embora a Escola da Ponte não seja o paraíso na Terra é uma escola onde se vive a democracia, onde “os alunos debatem e decidem tudo o que nela se passa, onde cada criança define o respetivo plano de aprendizagem, de acordo com conceitos de autonomia, solidariedade e responsabilidade e onde os professores trabalham em equipa dentro dos diferentes espaços”.

Para além do referido, os pais têm um envolvimento na vida da escola que não se verifica nas restantes. Com efeito, o Regulamento Interno reconhece “aos seus representantes uma participação determinante nos processos de tomada de todas as decisões com impacto estratégico no futuro do Projeto e da Escola”.

Será que nos Açores é possível haver uma escola pública a funcionar em moldes semelhantes? Infelizmente, creio que não!

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31335, 20 de setembro de 2017, p.10)

http://www.noticiasmagazine.pt/2017/escola-da-ponte/

sexta-feira, 8 de setembro de 2017

A Lição

quarta-feira, 26 de julho de 2017

Animais em cativeiro nas escolas


Animais em cativeiro nas escolas

“ (...) a amizade pela árvore, pelo riacho, pelo animal livre é indispensável para a formação de um ser humano que pretendemos amplo e nobre” Agostinho da Silva

Pessoa amiga contou-me que na pré-primária algumas educadoras mantêm nas suas salas peixes e ou tartarugas em aquários, aves em gaiolas e hamsters também em cativeiro.

A existência dos animais em cativeiro é justificada como meio para dar cumprimento à seguinte aprendizagem a promover: “Manifestar comportamentos de preocupação com a conservação da natureza e respeito pelo ambiente”. Para a concretização do exposto, segundo as orientações curriculares para a Educação Pré-Escolar os educadores deverão promover “a participação e responsabilidade das crianças no cuidado e proteção de seres vivos dentro e fora da escola (cuidar de plantas, de animais ou da horta na escola; cuidado com ninhos, plantas e animais nos jardins, parques e espaços verdes fora da escola).

Para além da razão apresentada, o tratar animais serve para fomentar “a participação das crianças no processo educativo através de oportunidades de decisão em comum de regras coletivas indispensáveis à vida social do grupo e à distribuição de tarefas necessárias à vida coletiva constituem experiências de vida democrática, que permitem tomar consciência dos seus direitos e deveres.”


Segundo a pessoa amiga referida, que é educadora mas não concorda com a prática das colegas, uma outra justificação está relacionada com a possível empatia para com os animais que as crianças adquiririam ao responsabilizar-se pela sua alimentação.

Sendo contra a existência de animais em cativeiro e não pondo em questão o facto de ser possível atingir o pretendido com a presença dos animais nas escolas, penso que o mesmo poderia ser alcançado com o cuidado de plantas que depois os alunos poderiam levar para as suas casas e plantar nos seus quintais e jardins.

Além do exposto, tenho dúvidas se a manutenção de um animal em cativeiro não leve à distração para a questão fundamental que é a necessidade de se proteger os habitats naturais que são os locais onde os animais devem estar.

Teófilo Braga
25 de julho de 2017
Imagem : http://lilliverdi.blogspot.pt/2011/10/chora-coracaopassarinho-na-gaiola.html

quinta-feira, 13 de julho de 2017

Albert Einstein

Boletim nº 6 do MEM

quarta-feira, 12 de julho de 2017

Ecos Pedagógicos nº 5

quinta-feira, 6 de julho de 2017

Algumas notas sobre a importância de Planos Individuais de Trabalho nas Escolas



Algumas notas sobre a importância de Planos Individuais de Trabalho nas Escolas


No modelo pedagógico do Movimento da Escola Moderna, os alunos devem ter um papel ativo em todas as etapas do processo-ensino aprendizagem, desde a planificação até à avaliação. Em relação aos diversos planos, Júlio Pires (s/d), num texto intitulado “O Planeamento no Modelo Pedagógico da Escola Moderna” defende que a participação dos alunos no Plano Anual é menor do que no PIT - Plano Individual de Trabalho, onde aqueles devem ser os principais decisores. O autor mencionado destaca, ainda, a importância do PIT em virtude do seu “papel na promoção da autonomia do aluno, no seu comprometimento e responsabilização pela sua aprendizagem”.

Ana Martins (2012) por seu turno afirma que o PIT “pode também ser descrito como um instrumento de pilotagem e de registo individual, como instrumento que permite organizar, apoiar e regular o trabalho desenvolvido pelo aluno”.

Sobre a forma do PIT, Ana Martins (2012) escreve que se trata de “uma folha de papel” que contém o seguinte:

“- um espaço destinado ao nome do aluno e à data de realização do plano;
- um espaço que contém o elenco das atividades possíveis de realizar em que os alunos registam e quantificam aquilo que pretendem fazer no tempo do trabalho autónomo;
- um espaço destinado ao registo e à quantificação das atividades efetivamente realizadas;
- uma área destinada à autoavaliação;
- uma área destinada à avaliação e às sugestões do professor. “

No que diz respeito à experiência de implementar o PIT nas minhas aulas, apenas o fiz no 11º ano, onde foi elaborado um para cada um dos grandes temas do programa.
No que diz respeito à sua estrutura, numa página da folha de papel foi colocada uma tabela com quatro colunas:
- Na primeira, estavam registados os conteúdos de cada subtema.
- Na segunda coluna intitulada “O que penso fazer” havia várias linhas onde era sugerido aos alunos a realização de sínteses/ resumos dos conteúdos, exercícios do manual, exercícios do caderno de exercícios e outras atividades ou exercícios. Nesta coluna, por vezes fazia sugestões nomeadamente de alguns exercícios que considerava importantes para a melhor compreensão da matéria, mas os alunos tinham liberdade para fazer o seu trabalho mais ou menos aprofundado.
- Na terceira coluna os alunos registavam o que haviam feito, como o número do exercício e a página se o mesmo fosse do manual ou do caderno de exercícios, o resumo/síntese ou outra atividade.
- Na quarta coluna, os alunos registavam as dúvidas encontradas.
Na outa página da folha, havia um espaço para a autoavaliação do trabalho realizado, em termos de cumprimento ou não do que haviam proposto. Existia, também, outro espaço onde o aluno apresenta a sua opinião sobre o trabalho realizado e, por último, um espaço destinado a comentários e sugestões do professor.
Sobre este instrumento de pilotagem que, segundo Gonzalez (2002) é um dos que permite “ acompanhar, avaliar, orientar e reorientar o processo de aprendizagem do grupo e de cada um dos alunos”, os alunos reagiram de modo diferente. Alguns não deram importância, outros escreveram que “usavam outro método” e outros acharam que os ajudava.
Termino, transcrevendo a opinião de uma aluna: “Gostei do PIT, pois auxiliou-me a mim e, com certeza, a outras pessoas a orientar-me nas matérias a estudar e a motivar-me para resolver exercícios. Considero que o projeto deveria continuar, pois não só nós ficamos com a noção de quantos e quais exercícios fazemos, como também o professor tem mais “controlo” sobre o nosso trabalho. Para além disso, conseguimos receber com esta ficha o feedback do professor, positivo ou negativo.”
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31270, 5 de julho de 2017, p.16)

quarta-feira, 28 de junho de 2017

Ainda a propósito do trabalho de projeto no ensino da Química


Ainda a propósito do trabalho de projeto no ensino da Química

Em texto anterior, comecei por abordar uma tentativa de ensinar alguns conceitos do programa de Física e Química do 7º ano de escolaridade, com recurso ao trabalho de projeto. Embora o tema seja de interesse para os docentes da disciplina, pode ter também interesse para professores de outras disciplinas, bem como para as demais pessoas interessadas com o que se passa nas escolas.

Antes de prosseguir, vou aproveitar para demonstrar publicamente a minha indignação pelo facto dos nossos alunos serem discriminados em relação aos seus colegas do continente português. Com efeito, os conteúdos a lecionar são os mesmos a nível nacional, mas, nos Açores, os alunos têm menos um terço de tempos letivos que os não residentes na região.

A situação descrita já foi denunciada por várias vezes e os políticos que nos governam, desde secretários a diretores regionais, passando pelos deputados, estão ao corrente da situação, mas não mexem uma palha para que a situação se altere. Desconheço a razão da sua apatia, mas as causas poderão estar relacionadas com o não entendimento da gravidade da situação, com a incapacidade para a implementar medidas de fundo, pois a apregoada autonomia dos Açores é muito curta ou com a sua forte aposta na implementação de medidas de mera mitigação, como o ProSucesso.

Ainda sobre o assunto, quero afirmar que os professores também são vítimas da situação mencionada, pois vêm-se aflitos para cumprirem os programas, por vezes, demasiado extensos e não têm outro remédio senão passar por alguns conteúdos como gatos sobre brasas.

Retomando o fio à meada, a opção que fiz pela implementação do trabalho de projeto para o estudo de um conteúdo do programa deveu-se essencialmente ao facto de considerar que as atividades laboratoriais devem ser feitas pelos alunos, respeitando todas as regras de segurança nos laboratórios, sempre com a supervisão do professor.

Mas, tão ou mais importante do que o ensino experimental é o colocar os alunos a participar na organização das tarefas a realizar e a trabalhar em cooperação com os colegas. Não se pode exigir que uma organização ou região seja autónoma quando os cidadãos que a constituem ou nela vivem não aprenderam a usar a liberdade para pensarem pela sua cabeça e as agir por si próprios.

Se há quem tenha muitas dúvidas sobre a implementação do trabalho de projeto, nomeadamente porque possa implicar não seguir a ordem dos conteúdos inscritos nos programas ou por pensar que os alunos não são capazes de fazer pesquisas bibliográficas, por mais simples que sejam, a maior interrogação é a relacionada com a pretensa incapacidade ou imparcialidade por parte dos alunos para avaliarem o trabalho desenvolvido.

Para comprovar que aqueles são capazes de ser autónomos e de avaliar, com justiça o seu trabalho, apresento, abaixo, alguns extratos de uma ficha de autoavaliação.

Sobre como havia decorrido o trabalho, uma das alunas, de 12 anos, sobre a atividade laboratorial escreveu o seguinte: “Inicialmente correu mal, pois tínhamos feito a experiência mal, mas depois repetimos de novo e a experiência foi bem-sucedida”. Relativamente ao trabalho em equipa, a mesma aluna escreveu: “cada uma fez um pouco e depois o meu outro par foi buscar todo o material e conseguimos trabalhar bem”. Em relação à realização da apresentação final, a avaliação da aluna foi: “O trabalho correu bem, mas atrapalhámo-nos um pouco … conseguimos trabalhar bem pois aceitamos todas as ideias que propomos”. Por último, a mesma aluna, analisando a apresentação final, escreveu: “a apresentação correu bem, soubemos planear o que cada uma ia dizer e usamos um vocabulário claro e correto” e acrescentou: “ Acho que em vez de fazermos numa folha de papel, podíamos inovar mais fazendo um vídeo a explicar o procedimento da experiência”

Apesar do cansaço de quase 40 anos de lecionação, de muito desânimo, de muita revolta pelo modo como os sucessivos governos têm tratados os docentes e outras classes profissionais, há momentos em que ainda acreditamos que é possível uma melhor escola inserida num mundo melhor.
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31264, 28 de junho de 2017, p, 16)

terça-feira, 13 de junho de 2017

Trabalho de projeto no ensino da Química



Trabalho de projeto no ensino da Química

Se não me falha a memória, a primeira vez que ouvi falar em trabalho de projeto foi através da leitura do texto “Projeto é projétil”, publicado na revista Raiz e Utopia, nº 9/10, relativa à Primavera-Verão de 1979, que adquiri na Horta, durante a semana do mar de 1984.

O texto em questão, da autoria de Luísa Cortesão, Manuela Malpique, Maria Amélia Torres e Maria de Jesus Lima, membros de uma equipa de formação de formadores, relata uma experiência implementada em 1977, apresentando as várias etapas de um trabalho daquele tipo.

Para as autoras, o trabalho de projeto “consiste fundamentalmente numa atividade a desenvolver em equipa, durante a qual se procura tratar um problema – que tenha real interesse para o grupo e que, sendo embora relacionado com a profissão, tenha as suas raízes na envolvente social”.

Embora seja uma proposta pedagógica antiga, o trabalho de projeto tem sido pouco usado nas escolas, podendo segundo Bernardino Lopes (2004) ser aplicado a qualquer nível de ensino. O autor mencionado corrobora a afirmação das autoras citadas anteriormente no que diz respeito ao facto de um trabalho de projeto partir de um problema e acrescenta que para o mesmo “se pretende obter uma resposta (sob a forma de produto, serviço, etc.) com relevância científica e/ou tecnológica e/ou social e destinada a um público-alvo”.

O Movimento da Escola Moderna, que na ilha de São Miguel vem, desde o ano letivo passado, organizando Sábados Pedagógicos abertos a todos os profissionais de educação, possui um modelo pedagógico assente em vários postulados de que destaco os seguintes:

1- O conhecimento constrói-se pela consciência do percurso da sua própria construção: os alunos caminham dos processos de produção integrados nos projetos de estudo, de investigação ou de intervenção, para a compreensão dos conceitos e das suas relações;

2- Os alunos partem do estudo, da experiência e da ação nos projetos em que se envolvem, para a sua comunicação. A necessidade de comunicar o processo e os resultados de um projeto de trabalho dá sentido social imediato às aprendizagens e confere-lhes uma tensão organizadora que ajuda a estruturar o conhecimento.

O trabalho de projeto é uma das técnicas ou melhor estratégias, segundo Pedro Gonzalez (2003), usadas pelo MEM para materializar as suas propostas pedagógicas.

Como tenho participado nas ações de formação do MEM, decidi implementar o trabalho de projeto, numa turma do 7º ano de escolaridade da Escola Secundária das Laranjeiras, com o objetivo de abordar o seguinte conteúdo: Separação das substâncias de uma mistura.

Os alunos tiveram liberdade de escolher com quem trabalhar, tendo-se formado vários grupos de dois elementos e um grupo com três. A cada grupo foi colocada uma questão inicial/problema a resolver, como por exemplo, como separar uma mistura de água e azeite ou como separar uma mistura de areia e sal.

Depois de uma resposta inicial com recurso aos conhecimentos que já possuíam, tiveram que fazer uma pesquisa bibliográfica e depois desta realizaram o trabalho experimental necessário para resolver o problema.

Depois de concluírem o trabalho de laboratório, elaboraram um relatório final, onde registaram a técnica usada, o material utilizado e o procedimento experimental.

Por último, apresentaram oralmente o seu trabalho aos restantes membros da turma e fizeram a sua auto e heteroavaliação.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31253,14 de junho de 2017,p.19)

quinta-feira, 8 de junho de 2017

“A República” e Ferrer Y Guardia




“A República” e Ferrer Y Guardia

“O verdadeiro educador é aquele que, às vezes até mesmo contra as suas próprias ideias e vontades, apoia a criança e o desenvolvimento de suas energias.” (Ferrer y Guardia)

Francisco Ferrer y Guardia (1859-1909) foi um pedagogo libertário espanhol criador da Escola Moderna que foi fuzilado em 12 de outubro de 1909, acusado, injustamente, de ter instigado uma insurreição operária em Barcelona, em julho daquele ano.

O assassinato de Ferrer y Guardia foi condenado em todo o mundo, não só pelas pessoas e organizações que possuíam a mesma ideologia, mas também por todos os que defendiam ideias humanistas e progressistas.

Em texto anterior, publicado neste jornal no dia 22 de outubro de 2014, mencionei algumas reações à sua morte publicadas nos seguintes jornais de São Miguel: “Vida Nova”, de Francisco Soares Silva, “A Folha”, de Alice Moderno e “O Repórter”, de Alfredo Câmara. Hoje, darei a conhecer o conteúdo de alguns textos publicados no jornal “A República” que tal como os anteriores se publicou em Ponta Delgada.

Em novembro de 1911, “A República” noticiou a inauguração de um monumento de homenagem ao “mártir da liberdade de pensamento”, Francisco Ferrer, na Praça de Santa Catarina na cidade de Bruxelas.

Em março de 1912, numa pequena nota intitulada “A reação protestou” o autor, a propósito da entrega dos livros de Ferrer aos seus legítimos herdeiros escreveu o seguinte:

“Olha a novidade! Pois o que havia de fazer se não protestar?

O que ela queria, era que os livros fossem queimados, e que a luz que d’eles possam receber os que os lerem, fosse apagada para não mais brilhar.

Mas que importa que a reação proteste, se o facho da Verdade e da Liberdade vai iluminando quase todo o mundo?

Para crime bem bastou a morte de um homem; ainda lhe queriam matar a obra.”

Em junho de 1913, o jornal publica um extrato de um discurso do “pai do socialismo” em Espanha, Pablo Iglésias (1850-1925), onde este depois de afirmar que ainda que Ferrer fosse responsável pela Semana Trágica de Barcelona seria “politicamente inábil matá-lo porque representava e simbolizava grandes elementos de opinião”. No mesmo discurso Iglésias afirmou o seguinte:

“Mas o mais monstruoso é que o mataram, como sendo o caudilho d’uma revolução, caudilho que de facto não foi. Não puderam nunca demonstrá-lo. Dizeis que se cumpriu a lei; pois se se tratou de um assassinato e se este se fez em nome da lei, essa lei é monstruosa”.

No mesmo mês, o jornal noticiava a morte de Paz Ferrer, filha do “imortal mártir de Montjuich” que sofreu muito com a morte do seu pai de tal modo que o autor do texto escreveu : “…Depois da morte de seu pai, o desespero tornou-a ainda maior, e na idade em que só há sorrisos e flores ela conheceu as inenarráveis amarguras da Dor. Esse seu desespero matou-a. Pobre Paz Ferrer! Foi vítima do crime que matou o pai!”

Hoje, com a escola a atravessar uma grande crise, com os governantes a tentar implementar reformas atrás de reformas, projetos atrás de projetos importa estudar todas as experiências educativas, nunca esquecendo que não se consegue sucesso na escola numa sociedade de sucesso para muito poucos.

O projeto pedagógico de Ferrer y Guardia, que teve a primeira concretização em 1901 com a criação da primeira escola moderna, numa altura em que em Espanha a taxa de analfabetismo era superior a 50%, é um dos que deve merecer a atenção por parte de quem se preocupa em deixar uma melhor sociedade para os vindouros.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31248, 8 de junho de 2017, p.15)

sexta-feira, 5 de maio de 2017

quarta-feira, 19 de abril de 2017

Ilídio Sardoeira, o professor


Ilídio Sardoeira, o professor

“ (…) Corri os riscos de haver sido professor durante quase meio século. Se pudesse recomeçar a minha vida, professor me queria, nessa aventura, entre afetiva e criativa que é aprender ensinando.” (Ilídio Sardoeira)

Em texto anterior, publicado no passado dia 4 de abril, dei a conhecer um pouco da vida e da obra do Dr. Ilídio Sardinheira, distinto professor da hoje denominada Escola Secundária Antero de Quental.

No mencionado texto, inseri o depoimento de dois dos seus alunos, o Doutor José Medeiros Ferreira e o Doutor João Vasconcelos Costa, que a ele se referiram em termos elogiosos. Hoje, antes de escrever um pouco sobre o seu pensamento enquanto professor, divulgo o depoimento do escritor picopedrense Cristóvão de Aguiar que no seu livro “Relação de Bordo, escreveu: “Ilídio Sardoeira era poeta e um grande “devoto” de Teixeira de Pascoais, que nos deu a conhecer no quinto ano do Liceu, levando-nos poemas do Poeta de Marânus, nas aulas de Ciências Naturais…Que belo que isto é! E que ventura é ter bons mestres na quadra genuína da vida…”

Depois de escrever que o Dr. Ilídio Sardoeira era “professor de Ciências Naturais e de sonho e de poesia, ou de tudo junto”, Cristóvão de Aguiar dá a conhecer o que pensava o mestre sobre o ofício de ensinar: “Um professor é um semeador. Não sabe quais as sementes que realmente ficam, mas não ignora que ele mesmo é uma parte da semente. É semeador e semente”.

De acordo com João Manuel Ribeiro, autor do livro “Ilídio Sardinheira: o caçador de madrugadas”, publicado em 2016, o Dr. Ilídio Sardinheira teve uma vida dedicada ao ensino, tendo lecionado “primeiro no Colégio de S. Gonçalo de Amarante durante quatro anos; depois, no Liceu Normal de Pedro Nunes, em Lisboa, onde fez o seu estágio de habilitação para a docência; finalmente, em muitos lugares do país: Évora, Figueira da Foz, Braga, Porto (Liceu D. Manuel II), Ponta Delgada (Liceu Antero de Quental), Viseu e Vila Nova de Gaia.”.

Como tive a oportunidade de conhecer através dos depoimentos dos seus alunos, o Dr. Ilídio Sardoeira estava longe de ser um professor tradicional, agarrado aos manuais, seguidor do conhecimento espartilhado pelas áreas de ciências e de letras e preso no interior das quatro paredes de uma sala de aula.

Sobre o ensino confinado à sala de aula, João Manuel Ribeiro, no livro citado, escreve que Ilídio Sardoeira “não queria que a escola fosse uma prisão para crianças onde se aprende amarrado às carteiras, ou um canteiro de plantas floridas cercado de arame farpado!”

Para se conhecer o pensamento do Dr. Ilídio Sardoeira sobre o ensino é importante a leitura do seu discurso proferido na Assembleia Constituinte, publicado no Diário da Assembleia Constituinte nº 118 de 12/03/1976. Dada a extensão do mesmo, apenas referirei algumas ideias chave, as quais ainda hoje não perderam atualidade.

Ao contrário do que pensam alguns, os problemas do ensino e os da sociedade não se resolvem na escola. Ilídio Sardoeira corrobora esta afirmação quando afirmou no discurso mencionado que: “os problemas centrais da degradação do ensino permanecem. São problemas, em grande medida, de raiz socioeconómica. Ao cabo e ao resto problemas que têm de encontrar primeiro as soluções políticas adequadas ao mundo dos adultos”.

Sobre a Escola, Ilídio Sardoeira, acrescentou que era “o espelho da sociedade; esta não transforma aquela, reprodu-la” e acrescentou: “Somos nós, os adultos, os responsáveis pelos fracassos escolares porque não temos a coragem de modificar radicalmente as condições, as contradições da sociedade portuguesa porque nos empenhamos em manter uma sociedade estratificada, caduca, per omnia secula seculorum, não é assim? E queremos depois que a escola resolva problemas que não tivemos a coragem de resolver nas ruas.”


Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31209, 19 de abril de 2017, p. 17)

segunda-feira, 17 de abril de 2017

Ecos Pedagógicos nº 4

quarta-feira, 5 de abril de 2017

Ilídio Sardoeira, um professor distinto do Liceu de Ponta Delgada


Ilídio Sardoeira, um professor distinto do Liceu de Ponta Delgada


“Não sei coisas difíceis
Nem as faço nos versos, com palavras.
Difícil é ser simples
E é vestir as coisas de tal jeito
Que quem as veja, julgue que são nuas.”

(Ilídio Sardoeira)

Ilídio Ribeiro Sardoeira nasceu na freguesia de Canadelo, no concelho de Amarante, no dia 12 de novembro de 1915 e faleceu em Vila Nova de Gaia no dia 28 de novembro de 1987.

Licenciado em Ciências Biológicas, foi professor de Biologia, ensaísta, poeta, pedagogo, professor metodólogo e, a seguir ao 25 de abril de 1974, inspetor-orientador. Foi assistente da Universidade do Porto, tendo sido demitido pelo regime salazarista.

Depois do 25 de abril, teve alguma participação política, tendo sido Vereador da Cultura da Câmara Municipal de Amarante e deputado à Assembleia Constituinte pelo MDP/CDE.

Para além do mencionado nos parágrafos anteriores, Ilídio Sardoeira, também, se dedicou ao jornalismo, tendo sido diretor da “Voz do Marão” e de “Alma Nova” e colaborou com outras publicações com destaque para as revistas "Vértice", "Seara Nova", "Labor", "Lusíada" e "Átomo".

Foi autor de muitos livros, de que destacamos, a título de exemplo, os seguintes: "A minha Aldeia", "Pascoaes - um Poeta de sempre", "Provas", "História do Sangue"", "Nota à margem de dois livros", "Influências do Principio da Incerteza no Pensamento de Pascoaes", “O vulcão dos Capelinhos: alguns aspetos humanos” e “ A origem da Vida”.

O livro “A origem da vida”, que ainda hoje é possível adquirir em alfarrabistas ou através da internet, foi um dos que foi publicado pela Biblioteca Cosmos que foi dirigida pelo insigne matemático Bento Jesus Caraça e tal como os restantes da coleção teve a pretensão de “contribuir para a expansão da cultura científica em Portugal”, inscrevendo-se “numa matriz ideológica de feição dita progressista, com evidentes laivos de utopia”. Para além de Ilídio Sardoeira colaboraram com a Biblioteca Cosmos vários vultos da cultura científica internacional e portuguesa. Dos portugueses, destacamos, entre outros, o médico Abel Salazar, o pensador e pedagogo António Sérgio, o professor e político Henrique de Barros, o matemático Rui Luís Gomes e o professor, pedagogo e poeta Rómulo de Carvalho (António Gedeão).

Como já escrevemos, Ilídio Sardoeira colaborou na revista Vértice, surgida em Coimbra em 1942, tanto antes como depois do 25 de abril de 1974, sendo o seu nome incluído, por Armando de Castro, no dos autores “que se reclamam do marxismo ou que no campo estético eram por ele influenciados. Entre os citados, mencionamos os seguintes: Joaquim Namorado (poeta), Mário Dionísio (professor, escritor e pintor), Mário Sacramento (médico e escritor), António José Saraiva (professor e historiador de literatura portuguesa), Fernando Lopes-Graça (maestro e compositor), Flausino Torres (historiador), e A. J. Avelãs Nunes (professor de Direito).

Com a promessa de que voltaremos a escrever sobre o professor Ilídio Sardoeira, deixamos a opinião de dois alunos seus:

“…era um homem culto – dava umas aulas de Ciências Naturais espantosas e também nos encorajava em atividades «circum-escolares», como as do círculo cultural” (José Medeiros Ferreira)

“Como professor de ciências naturais, dava muito mais importância à prática, incutindo-nos o gosto pela observação e pela limitada experimentação para que tinha magros recursos. Boa parte das nossas aulas era de campo, muitas vezes ao fim de semana, calcorreando a ilha em cata de exemplares da flora e da fauna típicas da Macaronésia. A matéria do programa que a estudássemos no livro, que era para isso que o tínhamos, compensando esse estudo pessoal com uma ou outra sessão de "tirar dúvidas". Mas muito mais lhe devemos, eu e os meus colegas, de que aqui ficam só alguns exemplos: as aulas teóricas em que se tratavam de todos os assuntos menos ciências naturais, fosse a poesia de Pascoais, as ideias essenciais da teoria da relatividade, os perigos da guerra nuclear, a vida e obra de Ghandi, eu sei lá que mais.” (João Vasconcelos Costa)

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31198, 5 de abril de 2017, p. 14)

terça-feira, 14 de março de 2017

Mário Dionísio e o ensino

Retrato por João Abel Manta, 1949

Mário Dionísio e o ensino

Neste texto, pretendemos dar a conhecer um pouco do pensamento de Mário Dionísio (1916-1993) sobre a temática da educação, tendo por base o que ele escreveu e que está compilado no livro “O quê? Professor?!

Antes de entrarmos no assunto proposto, apresentamos sucintamente o percurso profissional de Mário Dionísio que foi pedagogo, poeta, ensaísta e pintor, tendo-se licenciado em Filologia Românica, em 1940, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

A sua dedicação ao ensino começou ainda antes da licenciatura, onde deu lições particulares e prosseguiu após esta. Concluiu o estágio pedagógico, em 1958, no Liceu Pedro Nunes, tendo prosseguido, até 1978, a lecionação no Liceu Camões.

Depois do 25 de Abril de 1974, foi presidente da Comissão de Estudo da Reforma Educativa e da Comissão Coordenadora dos Textos de Apoio que substituíram os antigos programas das várias disciplinas e terminou a sua vida profissional como Professor Associado Convidado da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.

Mário Dionísio, depois do 25 de abril, recusou por duas vezes o convite para ser Ministro da educação, tendo também declinado o convite para presidir à instalação da Universidade Aberta.

Rui Canário, no prefácio ao livro citado, destaca quatro tópicos no pensamento pedagógico de Mário Dionísio. Neste texto, apenas, mencionamos três.

O primeiro diz respeito à profissão docente. Para Mário Dionísio “ser professor é uma profissão e não um emprego” e acrescenta” Um professor é para mim alguém de personalidade vincada, de sensibilidade aguda, de cultura geral apreciável e cultura especializada indiscutível”.

Sobre a pedagogia de Mário Dionísio, o autor citado considera-o “tributário de uma pedagogia racional (que integra as contribuições da sociologia e da pedagogia) e que se entrelaça com uma tradição que remonta aos libertários e à Escola Nova”. Para Mário Dionísio, “crítico da memorização inútil” …mas crítico também de conceções de não directividade” o ensino e a aprendizagem são: “ …uma responsabilidade dividida, mas nem por isso menos dirigida […] com a noção exata de que dirigir será fundamentalmente seduzir, atrair, guiar, guiar até à reflexão em comum e à prática comum, ponte de acesso para o desejo e o prazer da descoberta.”

Por último, Mário Dionísio defendeu a articulação entre a educação e a arte.

Mário Dionísio, que um dia escreveu: “faça-se negócio com tudo, menos com a educação e a saúde”, explicou por que razão escolheu ser professor, numa época em que “a imagem de professor estava intimamente ligada à de uma carreira humilde e pobretana”:

“ Pelo apelo inesquecível que havia nos olhinhos brilhantes daqueles pobres alunos tão vivos uns, tão mortiços outros, mas todos escandalosamente ludibriados nesse colégio de má morte? Pelo interesse que percebi ser capaz de despertar nalguns deles e pelo que eles pouco a pouco em mim foram despertando? Pela consciência nascente da importância humana e nacional da função do ensino? Por cedo ter compreendido que a criação literária em liberdade exigia não depender economicamente dela e o ensino me parecer a atividade (complementar) que com ela melhor se coadunaria?”

Mário Dionísio se hoje fosse vivo ficaria ainda mais desiludido com a situação do ensino em Portugal. Com efeito, em 1979, ele já denunciava “o contínuo abaixamento do nível da qualidade do ensino. Que não vem do 25 de abril, nem foi causado por ele. Que vem muito e muito de trás. E que se ele era (e é) muito útil aos propósitos do fascismo, só pode ser motivo de alarme e da mais profunda apreensão para todos nós.”

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31180, 15 de março de 2017, p.16)

domingo, 22 de janeiro de 2017